quarta-feira, 25 de abril de 2007

Algum sossego

Não mais hesito
Em falar que existo
Entre efeitos e ensejos

Não é demais o que exijo
São sonhos que erijo
Demolindo pesadelos

Tudo quanto extingo
Do ego ainda é exíguo
Para algum sossego

terça-feira, 17 de abril de 2007

Mina de versos

Versos a granel
não brotam do papel
nem se soltam do céu
mas se pescam
da selva de merda
como leite de pedra
fico atacado
fito o mercado
e bulhufas vejo
poeticamente a varejo
somente através do seu beijo
circunspectamente zombeteiro.

Do que a vida nos dispõe

Eu sei que você sabe
Que nos amamos
Não há nada que nos separe
Nem vinte e poucos anos
De pequenezas e vaidades

Você sabe que eu sei
Que não é de hoje
O que temos de aprender
Nunca nos foge
Nem sob decreto-lei

Nós sabemos de nós
Embora duvidemos
Do que a vida nos dispõe
Do eixo aos extremos
Mas não expiemos depois.

quarta-feira, 11 de abril de 2007

Sem redoma nem fiasco

Quero as primeiras horas da manhã
Anunciadas pelos angelicais pássaros
Voando conosco como ímãs
E filtros diligentes do futuro presente passado
Obremos pelo frescor
Sem redoma nem fiasco
Abrindo o frasco
Do aroma do amor
No ar suspenso
Bailando no arrebol
Os deuses em consenso
Oram o melhor para nós.

Flores e farpas

Peço que me desculpe
Apesar da raiva
Do que se discute
Quero que saiba
Que nos são úteis
As flores e as farpas
Pra perpassarmos túneis
Com a querida luz calma
Qual sol entre nuvens
Inócuas e diáfanas
Afastando ciúmes
Em prol do amor que nunca enfada.

sábado, 7 de abril de 2007

Oásis apesar de tanta secura

Toda impossibilidade é possível
de ter este sentido inalterável
para justificar a pusilanimidade
e a indolência diante dos obstáculos
eu gostaria de me abster da carne
de romper os grilhões da idolatria do paladar
de ficar surdo aos apelos da egolatria
de acreditar no oásis apesar de tanta secura
da futura alquimia da água em petróleo
além da desertificação da humanidade já pálida
porque ao amor passei a abrir os olhos
há alguns meses para lavar a alma
e levá-la para um passeio depois
desta travessia com travesseiro
e lençol doados pela bela lua e pelo gentil sol
em busca conjunta para todos os paradeiros.

quinta-feira, 5 de abril de 2007

Para além e para dentro

Que você me cuide
Como um rebento
Que você me desculpe
Quando nos desentendemos
Que você me insulte
A qualquer momento
Que me dê saúde
Ciúme e condimento
Que você me mude
Para além e para dentro
Que você me ature
Sem arrependimento
Que você me triture
Com seu olhar suculento
Que você me estruture
Com o nosso cimento
Que você me abuse
Mesmo sem meu consentimento
Que você me procure
E me ame cem por cento
Que você me sepulte
Se não estiver correspondendo
Que você me escute
Como sempre, via pensamento.

A cada minuto

Nademos nus
No mar escuro
Em busca de luz
Ao nosso futuro
Que se produz
A cada minuto.

segunda-feira, 2 de abril de 2007

Amnésias e paranóias

Eu não me recordo
Se o meu representante
Fez uma espécie de acordo
Com alguma candidata à gestante

Eu não me rememoro
De ter negociado meu nascimento
Mas hoje não passa de um dia remoto
Entre primeiro de janeiro e trinta e um de dezembro

Amnésias à parte
Já que estou aqui
Preciso fazer arte
Pra me salvar de mim

Paranóias de lado
Eu estou tão certo
Quanto amedrontado
Do meu amor concreto.