quarta-feira, 29 de julho de 2009

Creme do veneno ou do licor

É preciso fazer outro suco
Após lavar o liquidificador
Pra beber o câmbio em curso
Creme do veneno ou do licor

Aprendo com o desapego
Desprendo-me do passado
Todavia eu não denego
Nenhum dia do calendário

Já se derramou todo o pranto
E o que se lacrimejar
Agora e por enquanto
Será mais pra salgar o mar

Assim eu não me afogo de novo
E desenho meus desígnios
Dentro do tempo regulamentar do jogo
Entre dogmas e signos.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

No exercício da telepatia

Ironicamente, o pior
É que está tudo bem
Mais calmo e melhor
Só não sei para quem

Muita coisa mudou
O futuro, a mobília
O discurso, o odor
O mundo, a família

Talvez nada tenha permanecido
Igual ao que era
Agora eu me visto
De uma tácita espera

A lágrima nunca é insossa
No exercício da telepatia, peço
Que a derrota seja provisória
Ou até uma vitória sobre o ego.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

A humildade relativa no ar

Através dos óculos escuros
Eu vejo o tempo sombrio
Mesmo assim eu procuro
O sol com paz, amor e brio

A humildade relativa no ar
Arrotada feito ufania
Não vai mais me fazer doar
Fé que no fundo é preguiça

Ainda bem que eu tenho o faro
Da suspeita que não me deixa
Igual aos ignaros
Nos disparos bárbaros das suas certezas.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Apesar de alguns estragos

Acredito ter me arrancado
De qualquer rancor
Agora me levo com meus passos
A poça do dilúvio já passou

Logrando com meu sorriso largo
A alegria não me largou
Apesar de alguns estragos
A fumaça não me tragou

Preciso só de uma pitada de afago
O fascínio se afogou
No oceano obscuro de bagaços
Que Netuno embargou

Pleno, eu me sinto magro
Sem doce, prevalece o amargor
Tudo bem, peço outro prato
Embora nova, a lua prateou

sexta-feira, 17 de julho de 2009

A uma outra dimensão

Estou cansado
De perder o meu tempo
Remando contra o vento
Remoendo sentimentos
Que me deixam moído
E um pouco mais doido
Com esse alvoroço todo
Que não teria me alcançado
Se eu fosse leve
Se eu não levasse a sério
Os pensamentos em febre
E as dúvidas sem nenhum critério.

Estou tranquilo
Não adianta inserir a raiva
Na minha dieta diária
A indigestão não passa
E me causa um péssimo humor
O que pode gerar tumor
E temor de um novo amor
Que já teria me conduzido
A uma outra dimensão
Invisível daqui de baixo
Se eu fizesse a menção
Da voz a que me agacho.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

O desvario e o fato

Não quero ficar tão estupefato
A ponto de parecer estúpido
Para as coisas estupendas

Minha maior virtude
E o meu pior vício
Falam a língua da ingenuidade

Entre o desvario e o fato
Não falta muito
Pra acontecer o que se inventa

Por mais que eu estude
Estou ainda no início
De saber toda a verdade.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Cigarro aceso

Não me interessa a tosse
Como condição à galhofa
Nem me apetece o doce
De medalha pela gororoba

Não me desperta a cobiça
De galgar degraus lisos
Decolando com asas postiças
Pra depois colar a cara no piso

Não tenho vontade nenhuma
De querer me dar bem a qualquer custo
Decorando a fala da calúnia
Descolando aplausos injustos

Mas me apraz o cigarro aceso
Recentemente feito atraso solene
Para o bombástico beijo
De lábios, cheiros e ventres.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

No mesmo barco, na mesma nave

Não há culpados
Tampouco vítimas
Todos somos responsáveis
Pelo presente, pela vida

Venha pro meu lado
Espalhar a alegria
Apesar dos entraves
A arte clarifica

Eloquentemente calado
Pratico a telepatia
Não há outra chave
Não há outra saída

Parece que é premeditado
Para que tudo se coincida
No mesmo barco, na mesma nave
Ontem, hoje e depois cabem num só dia.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Pelo amor cada vez mais perto

Quero correr riscos
Só pela felicidade
Generosa e genuína
Rejeito outros tipos
Cheiram a falsidade
Refinada na latrina

Eu me proponho
A perpassar perigo
Apenas pelo êxito
Dos meus sonhos
Comigo e consigo
Dentro do contexto

Qualquer deleite a mais é supérfluo
É enfeite de aniversário
Logo será passado
Pelo amor cada vez mais perto
Que nos deixa despertos
Espertos e menos solitários

Vamos sair do óbvio errado
Para entrarmos no mistério
Dos nossos cérebros
E corações renovados
Contra os charmosos diabos
E anjos deletérios.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Estrada franca

Sigo na estrada franca
E sincera
Sem cera
Evitando deslizes

Estou com a carta branca
À espera
À mesa
Táticas felizes

Eu me sinto mais leve
Com tanta densidão
Até o meu coração
Sem coação agradece

Para quem crê na internet
Como a solução
Da dissolução da solidão
Sugiro sempre tête-à-tête

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Entre sonhos e monstros

Acato meus limites
Vou um pouco mais
Para que eu não imite
Quem ficou para trás

Respeito meu descanso
E me deito tarde
Enquanto não alcanço
Minha outra margem

Considero meus medos
Entre sonhos e monstros
Cruzando os dedos
Para o grande encontro.