sexta-feira, 21 de junho de 2024

Mantra


Mantra, trama
Oração, coração
Outdoor, altitude
Slogan, escolha
O tempo não se adianta
Que horas são?
Seja a ocasião que dure
Os anos que se foram

Banda contra furadas
Tramoias, trapaças
E eventuais ressacas:
Acordo são
Meras coincidências
Acontecem apenas
Nas novelas, nas peças
Sincronicidade é outra esfera

Uma nova era começa
Embora sinta o peso
Na minha cabeça
Nos meus ombros
Vislumbro menos desespero
Do que horizonte, palpáveis sonhos
Mais bálsamo do que júbilo
Alguma base nos escombros

Nos encontros, nas encostas
Jornadas de escola, fontes de estudo
Método, nada e tédio confortam
Consolidação é alegria de Saturno
A bobagem tem algo de ingênuo
Vira veneno a boa sorte
Gelo no inferno do incêndio
Verão no hemisfério morte

Mais na dor do que no amor
Duro amadurecimento
Não poderei ser o que for
Se permanecer pequeno
Mantra, ciranda
Oração, revolução
Outdoor, quiproquó
Slogan, vida louca.

sábado, 15 de junho de 2024

Nomes da infância

 

Buracos? Boatos?

Não encaro nem busco

Estou atrás de entusiasmos

Não sou operário do susto

Preciso ir lá embaixo

Para encontrar o sumo

E me ensopar no barro

Ondulando no fundo


Porém nada mais traz

A magia dos pueris tempos

Saudade ou nostalgia, tanto faz

Eu resisto quando me lembro

Há quem goste mais

De olhar para o firmamento 

E pescar temporais

Do que se ancorar por dentro 


Os nomes da infância jamais

Cairão no esquecimento

Eu quero aquela paz

Ou qualquer entendimento

Biruta? Um bocado

Não crio gomas nem musgos

Estou atrás de recados

Nos grilos, nos muros 


Preciso ir, senão me calo

Cansado em cacos sumo

No retrovisor do carro

Do que restou do mundo

Aos nomes da infância que jaz

Mando meu agradecimento 

Eu quero aquela paz

Apenas a que aguento.


terça-feira, 4 de junho de 2024

Transparência turva

 

Meu repúdio às inúteis

Notas de repúdio

Cadê as noites sem nuvens 

Estelares neste mundo?


Quem me dera 

Se a casca grossa

Fosse só da tartaruga

Mas é coisa única


É coisa nossa

Transparência turva

Impermanência eterna

Inércia, caça, fuga


Vire a ampuleta

Vire a mesa

Vire o que virá

Vá e se mexa


Todo dia tem

Aniversário de alguém

Mas nem sempre rola

Bolo com aquela roda


A ira espuma,

Mas não ensaboa

A gulodice enche 

E não preenche a lacuna


O desleixo se transborda

E não vai embora

A mesquinhez empilha

Não é uma fonte boa


A soberba cintila

Estrela, trilha, tralha

A obscenidade se dispõe

E não leva a mala


Somente a inveja se disfarça

De sorrisos, de abraços

De uma salva de palmas

De um barco furado


Vire o disco

Vire a cara

Vire a pá

Vire a página.