quinta-feira, 25 de julho de 2024

Paz vulcânica


 Coração contente

Da cura, de coerência

Carinho é um gesto

Caro, de coragem

Nestes dias estratégicos


Relaxamento na urgência

O chão tem um jeito coerente

No debandar da carruagem

Os amigos que tive

Ainda vivem nos tempos idos


São amargos e tristes

Aqueles embargos antigos

Pulsando com a calma

Cáustica de um vulcão

Meus olhos mudaram


Pegou a visão?

Oh, paz vulcânica!

Contenha as lavas

Para que as palavras

Não queimem as crianças


Saudades atrasadas

Das águas mansas

Da ilha da infância

Varanda da antessala

Primeiríssima instância


Quantos quilogramas

Pesa a ignorância?

Caso não saiba

Coloque a cabeça na balança

No balanço da barca


Mais impacto do solo

Do que tchau e solidão

Pelo olfato do colo

Em vez de fatal colisão

Vivo num pacato vulcão. 



quarta-feira, 24 de julho de 2024

Ao ouvir os vinis

 

Ao ouvir os vinis
De tia Mairy
Ao ler os versos
De Construção

No verso do disco
De Chico Buarque
Eu resolvi de supetão
Escrever o que sinto

Fazendo arte
Num tempo longínquo
Enquanto adolescia
Descobri o que é poesia

Nas férias de noventa e dois
Em Venda das Pedras, Itaboraí
Ontem minha tia Mairy foi
Descansar em paz por aí

Três dias depois
Do desencarne
Do seu irmão
Do meu tio Toninho

Ambos sobrinhos
Do meu avô Jayme
Filhos do tio-avô Valério
Somos todos espíritos

Por aqui de passagem
A vida não finda no cemitério
E se finca além da carne
Na certeza do mistério.




terça-feira, 9 de julho de 2024

Uso exclusivo



Uso exclusivo 

Para combate a incêndio

Não é satisfatório nem preciso 

Um relatório dos sentimentos

Basta senti-los 


A sabedoria não serve

Quando chega no estúdio 

Tinta guache, bola de chumbo 

Bolha de sabão e alicerces 

Do obsoleto ao absoluto 


Eu estava morrendo 

Hoje em dia resisto

Aos jornais horrendos

Aos jornais mais vistos

Aos jornais higiênicos 


Na minha cabeça 

Diversas janelas abertas

Nem sempre se aproveita 

O presente, a oferta

No ar fica à espreita 


O pretérito é um filme fosco

Onde atuei pifiamente 

No meu melhor esforço 

Na tela da mente

A estrela, o mar e o poço 


Eu estava correndo 

Hoje em dia levito

Aos normais nojentos 

Aos normais esquisitos

Aos normais em silêncio.