Tempero mental
Não há necessidade
De pimenta ou sal
O saber é o sabor da idade
Agridocemente individual
No interior da cavidade
Humor temperamental
Só gargalha quem sabe
Não se finge felicidade
Tão-somente para as fotos
O futuro, com saudades,
Saúda os terremotos
Funda minhas cidades
Afunda os maus modos
E finda meus disfarces
Boiando como corpos
Em marcha, sem charme
Soldados mortos
Ninguém se define pela metade
Tampouco por rótulos
Perdi a quantidade
De vazios, de vezes
Em que cometi estupidezes
No cair da tarde quente
Quando a gente vira ente
Eu me perdi na velocidade
Das vozes, das vezes
Em que menti aos deuses
Tomado por qualquer vontade
Em que me demiti por meses
Trocando fés por fezes
Supondo ser a outra margem
Num dia inédito desses
Sem coragem, eu não existiria
Sem as minhas repetições
Sem as recordações
Eu não reconheceria
A ordem das canções
Sou habitado por uma nostalgia
Desprovida de compreensão
É um sintoma de haver um além
O desejo de ser desta era
Já me torna ultrapassado, aquém
A adversidade recupera
As virtudes que a prosperidade deixa sem.
O presente é o paladar atual
O passado é um pão bolorento
O futuro é utopicamente factual
A saudade é um apartamento
Na verdade, é uma casa com quintal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário