sábado, 26 de abril de 2025

Réplica límpida


Ser gentil e aberto
Exige beijo e coragem
Deus não é descoberto
No ensejo da passagem
Ninguém está certo

No meio ou além da paisagem
Por mais poético e belo
Que seja o fim da tarde
Na saída da cela
No aspecto da minha cara

Na abertura da janela
Da consciência obscura e clara
Na figura da minha face
Cansada da resistência, com rugas
Não foram dias fáceis

Com doçuras, disfarces, ofensas e fugas
Contudo agora
Nas manhãs sadias
As nuvens carregadas foram embora
Madrugada já é bom dia

Ser receptivo e empático
Requer abraço e audácia
Não é tão prático
Quanto ir à farmácia
Ninguém está errado

Na bruma da massa
O corpo é um embrulho ou um carro
E o copo, um mergulho ou uma falácia
Seja como for, tudo é amor
Entre filmes e discos

Haja espera para este depois
Em que serei entendido
O meu rio interior
Não é uma área de risco
É uma réplica límpida

Entre crimes e livros
Entreouvido é poesia
Deus não está perto
Apenas no desejo do milagre
Deus está no piso, no peso e no teto

Fora da igreja, em diversos lugares
Até dentro de si mesmo, num verso
No brejo, no beco, na fortaleza
A fé é um gesto de coragem
Um credo sem medo da gentileza.








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