A alegria líquida
Alivia e liquida
As horas que não sentem
Saudades nem o presente
As memórias fabricam
Paraísos desde a tensa idade
O tempo invariavelmente brinca
A água evapora e invade
Por ora, eu não posso
Perder mais tempo
Do que penso que tenho
Ainda não virei fóssil
Eu devo, eu não devo
Temer as chaves e perdas
Para mover naves, pedras
E outros enlevos, escrevo
Para escalar o lar, o laboratório
Meu labirinto familiar
Onde elaboro aleatórios
Instantes e instintos daqui, de lá
Anteontem na Rua São José
Quase com a Rua da Quitanda
Não vi uma pessoa qualquer,
Eu vi Chico Buarque de Hollanda
Más não consegui tirar uma foto sequer
Pela sua rapidez no andar
Pela minha reverência que nada mais é
Do que uma timidez nefanda
Poesia é a notícia sempre atual
Até após a eternidade da ciranda
Daquele baile, missa ou sarau
Para tirar a máscara
Não sou faraó, general
Tampouco atleta ou caubói
Sou só um poeta de Niterói
Dando nó em bingo de mágoa
As coisas não se mensuram
Pelo que custam
Mas pelo que custaram
Para quem as conquistou
Não combinam na cor os pratos
Com os copos, facas e garfos
O que de fato importa
É a fome morta
A mesa está posta.