quarta-feira, 29 de agosto de 2012

A quintessência


Discurso às claras
sem estratagema
nem esquemas escusos

Crendo no poder das palavras
e na ilusão do cinema
viajo nas cenas em que atuo

Não espero uma salva de palmas
muito menos reverências:
a quintessência fala pouco com os surdos.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Gosto de não me esquecer


Gosto de não me esquecer da crase
principalmente nas crises
com o estalo de uma ideia
no translado de objetos e faces:
fáceis tempos difíceis

Gosto de não me esquecer da catarse
entre atores e atrizes
no palco e na plateia
decorando sem querer gestos e frases:
teatro de futuros e raízes.

sábado, 18 de agosto de 2012

Pinta terapia

Eu nunca disse que prestaria
por isso estou nessa
após léguas e réguas de dia
a minha própria alma confessa
que sou alheio e faço parte da poesia
como um blasé que se interessa
e depois vejo os copos na pia
os pratos e as cartas sobre a mesa
quando escrevo, pinta terapia
para as linhas ficarem acesas.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Quem não tem delírios usa olhos obtusos


Quem não tem delírios
usa olhos obtusos

Quem não tem domicílio
mora no quintal do mundo

Quem não tem cinismo
tenta seguir seu próprio rumo

Quem não tem particípio
conjuga o verso no futuro

Quem não tem espírito
quer se fazer de cego, surdo e mudo

Quem não tem destino
vai buscar no faro um furo

Quem não é lírico
acha tudo um absurdo



segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Da dança dos neurônios


A vida não é um fluxograma
A música atrai ou espanta
Os traumas, os demônios,
Os fantasmas e os dramas
Dependendo da dança dos neurônios

Entre o maneirismo esquálido
E o psiquismo automático
Eu sou meu próprio piloto
Mas não anda sempre ligado
O meu GPS por desconforto

domingo, 5 de agosto de 2012

A mídia aritmética


A mídia aritmética
conta muitas mazelas
ao sabor da plateia

O que mais vende?
O que faz média?
O que se defende
em repetitivas tragicomédias?

A matemática da sorte
manobra o esporte
na prática do trote

O que mais vence?
A quem interessa?
O que se convence
com paliativas conversas?


quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Meus carmas e minhas carnes


Sobe o que é leve
e o denso desce
parece óbvio
mas nem todos usam os olhos
permanecem cerradas
as janelas da alma
assim o vento farto não visita
qualquer quarto da vista e da vida.

Eu não sou relógio
a qualquer hora choro
tampouco pago
do meu próprio bolso
para ir ao trabalho
ainda que muitos não larguem
o carcomido osso
conheço porque ouço meus carmas e minhas carnes.