quarta-feira, 29 de junho de 2011

Até tudo se tornar pó

Eu não careço nutrir
O sôfrego medo
Nem quero ser faquir
A fome chega mais cedo

Nada como um sol
Depois do outro
Até tudo se tornar pó
Ou ouro

Há uma nova chance a cada dia
Não consigo enganar meu humor
Eu sou a minha fisionomia
Está na cara, sacou?

quarta-feira, 22 de junho de 2011

O tapete de sal

O tapete de sal
Vai alçar voo
E realçar o sabor
Dos elementos

O tapete de sal
Vai me temperar
E me temporizar
A qualquer momento

O tapete de sal
Fará chão do céu
E clarão do véu
É uma questão de tempo

O tapete de sal
Não salgará a cotação
Nem sangrará o coração
De quem segue vivendo

terça-feira, 21 de junho de 2011

A língua do sonho aliado

Preciso aumentar a minha imunidade
Diante desta nulidade
Apelidada de humanidade
Desde muito cedo

Não sei o que fazer comigo
Além de encontrar perigo
E de contar com os amigos
Que se contam nos dedos

Eu nunca pedi a participação
Deste mundo em corrosão
Onde o dinheiro é a razão
E a toxina do impagável enredo

Quando eu estiver inumado ou incinerado
O papel sujo fará seu papel tão admirável?
Eu tenho que soltar a língua do sonho aliado
E as rédeas do medo.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Nenhuma segunda

Nenhuma segunda é fácil
Pelo menos a de hoje
Está a três dias do feriado
Por mais que a ressaca enoje
É um fato a ser comemorado

Não há a felicidade plena
A danada sempre foge
E eu me consolo com poemas
Em ode ao sol que se põe
No seu colo de pele morena.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

À procura do que me busca

Só compro ordens
Embora sejam gratuitas
A cada manhã fortuita
Um novo totem
E a mesma labuta
Que parece não ter norte
Os sonhos me mordem
Com dentes de angústia
O despertador me cospe
Ao me pescar da candura
Que ainda perdura
Apesar da lei do mais forte
Eu não sou coisa nenhuma
A não ser aquele que engole
Brejos, berros e engov
À procura do que me busca.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

O que peço

Em exercício contínuo
Do desapego
Admito que o infinito
Supera o meu ego

Não serei o primeiro
Tampouco o último
A desejar o regresso
Ao útero

Pra saber o quão é verdadeiro
Ou absurdo
O que peço
Entre o berço e o túmulo

Choro palavras
Típicas de receita
Na lama lavrada
À espera da colheita.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Antes mesmo desses dias

Nestes dias em que estou desprovido
De óculos escurecidos
Faço minha mão esquerda
De viseira
Ao sair do prédio onde trabalho
Para almoçar calado

Antes mesmo desses dias sem ósculos
Eu já punha minha língua e meu imbróglio
No picolé de fruta
E nem tenho comido fritura com fartura
Compenso as poucas horas de descanso
No ônibus e aqui, esperando.

terça-feira, 14 de junho de 2011

O perfume da oração

Estou cruzando ciente
De que um dia atravesso
Por completo as nuvens
Da omissão

Não posso mais ser negligente
Nem me aliviar com versos
Paliativos, efêmeros e inúteis
Eis a missão

Sei que preciso seguir paciente
Domando todos os meus nervos
Para distinguir onde está o perfume
Da oração

Enquanto o sonho não se faz presente
Nesta dimensão a que estou servo
Escalo famélico em direção ao cume
Da ração.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Relógio cósmico

O tempo não é uma coisa
Para ser ganha
Trocada ou perdida
O tempo não se pega

O tempo é causa
E consequência que nos banha
Antes, durante e após a vida
O tempo nunca se desespera

Preciso voltar - ou começar - a seguir o relógio
Que não seja o mecânico
Mas o cósmico
Como ensinou meu avô

Eu me mato enquanto
Não vem o instante lógico
Em que estarei sempre me tornando
No que sou

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Sobre a minha pessoa

Não me importa
O que os outros pensam
Sobre a minha pessoa
Há uma celestial abóbada
E as estrelas que despencam
Belas como moças

Não me interessa
O que o mundo acha
Do que se passa na minha cabeça
Correntes elétricas
Coerentes e inexatas
Para que os sonhos aconteçam

Porém já me preocupa
O que os meus hóspedes refletem
Com o coração e a cuca
A olho nu ou coberta de lupa em vez de culpa
A resposta correta não está na internet
Nem nos livros de autoajuda.

terça-feira, 7 de junho de 2011

A semana

O meu humor não mais me afunda
Hoje miraculosamente não é segunda
Torço para que a bonança aconteça
Logo nas primeiras horas de terça
Sei que a vida será melhor e farta
Quando acordo numa quarta
E a semana começa a ficar linda
A folhinha indica que é quinta
Já quero festa e tudo quanto não presta
Acertou quem pensou na sexta
Reconheço que agora os ponteiros passam rápidos
O sábio Vinícius degustou com poesia o sábado
E chega o dia em que nunca me resigno
Não é tão espetacular e fantástico o domingo.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Atrás de carne onde só há osso

Embora a segunda-feira esteja solar
Ainda sinto o sabor das cinzas
Do fim de semana

Eu apenas penso em voltar
Para me desintegrar na sua língua
Ao me entregar na sua cama

Daqui a pouco
É a hora do almoço
Talvez o tempo passe veloz
E eu não fique mais louco
Atrás de carne onde só há osso
A sobremesa é para depois.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Eterno circo vicioso

Além do vale-transporte e do vale-refeição
Vou pedir ao setor de benefícios da região
O vale-a-pena

Aos domingos, é matinê:
Um pão no chip com manteiga
E uma comédia, por gentileza.

É melhor pecar no exagero do que na omissão
Ágora de beber, ágora de beber, camará!
É o eterno circo vicioso sob a lona, no chão.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Salvem as balelas

Salvem as balelas
E o disse me disse
É o que alegam
As artes vistas do Greenpeace
Os ativistas também erram
Por mais que a cobiça pise
Nas raízes demovidas da terra
A certeza não é mais palpite
Salvemos as bruxas de Bruxelas
E os broxas resignados e tristes
Pintando aquela aquarela
Para que não se extinguem
Os stings, os raonis e os poetas
Após o sexo vinte.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Meu coração

Apesar da tarde gris
Meu coração está corado
E ancorado numa raiz
Que rasga a calçada e o asfalto
Onde se atropelam os pedestres
Os pediatras e os padrastos
Sob a chuva de sangue e confete
Meu coração está curado.