domingo, 28 de janeiro de 2024

Espíritos

 

É uma pena que Mercúrio em Peixes
Deixe de ser um mero dado astrológico
Quem me dera se o garimpo pudesse
Ser apenas metafórico

A coragem não se cora
De vergonha ou timidez
É no coração que mora
A coragem cônscia da sua vez

Opa! Ocorreu um erro.
Estamos tentando resolvê-lo
O mais rápido possível, tente
Mais tarde novamente

O que temos não é roupa
Mas conhecimento somente
Ninguém nos rouba
Imateriais cimento e semente

Além de preços e pompas
Somos mais preciosos
Do que um diploma
Somos mais poderosos

Do que um cargo ou título
Trascendendo carnes, ossos
Crachás, cartilhas, remorsos, ritos
Planilhas, ramais e escritórios

Não temos espíritos
Não temos nem temamos o que somos
Nós somos espíritos
E o que somamos em sonhos.







quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

O parto

 


Por que nasci?

Por que eu vim 

Parar aqui?

Por quê?


Não sou nem serei

O único 

Ou o último 

A indagar, eu sei


Preciso seguir 

Perto de mim

O parto é assim

Sangrei, chorei e suei


Eu vou mexer

Na colcha de retalhos 

Na caixa da tevê 

Nas gavetas do armário


Para me rever

Viver dá trabalho

Ah, uma vez que errei

Sou perfeitamente falho.


Hoje há tantos informes inúteis 

Deixemos que os pensamentos 

Passem como as nuvens

Enormes no firmamento.


Todos nós, você e eu

Devemos cuidar da mente.

Quem não enlouqueceu 

Ultimamente?




quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

A vida é uma revolução



Não vou me alugar

Isso é prerrogativa 

Do destino que não se esquiva

Inquilino do lugar


Agora eu me lembro

Do quão não era fácil 

Viver adolescendo

Sobrevivi porque renasço


Há tempos me mantenho

No constante exercício 

De autoconhecimento 

Inteligência não é artifício


Religião paramilitar

E medicina antivax 

Não vão me adoentar

A saúde não vem de táxi


O óbvio é uma revelação

Caos não é bagunça 

A vida é uma revolução 

Antes tarde do que nunca


Não vou me alegar

Inapto para o exame

Rapto do vexame

Capto a chave pra me alegrar


Jamais é como se supõe 

Camadas da existência 

O que se corresponde 

Entre a resistência


E a persistência 

Transcende a própria rima

Nunca é do jeito que se imagina 

Como sempre, tipo ciência


O homem está imundo

E pensa que é um dos deuses

Existe outro mundo

Pulsando dentro deste


A intrepidez é a mola mestra

Toda vez é um novo início 

Não é uma vida péssima 

Foi apenas um dia difícil.



domingo, 14 de janeiro de 2024

Consciência conselheira

 


Consciência conselheira

Sem essa de ânsias

Nem falas falazes

Eu lhe dou os passos e as orelhas

Já fizemos as pazes


Orgulho, vulgo: desvio

Poços de ignorância

Tentadores vales

Não levo as dores e me viro

Verão que tudo se varre


Consciência conselheira

Sem exorbitâncias 

Nem fugas fugazes

Eu lhe devo a minha vida inteira

São dádivas da idade 


Em mim perdura a infância

Atrás das grades 

Que se enferrujam 

A engenharia se cansa 

A intuição não é dúvida


No espelho interno 

Não existe culpa

É incapaz o analfabeto 

De ler nenhum livro 

Até este exato minuto 


Quando a leitura invade o vazio

Quarto escuro 

E a taciturna noite parte

Com as cadavéricas certezas

Brumas de outro século 


Ah, consciência conselheira 

Lesões e lições de nós cegos

A luz brilhante incide na teia

Na bolha, na telha, na borra do ego 

A ilusão vai talhada e tarde


Sempre que vier

Sente-se à mesa,

Estale os ossos, tome um café 

Ou um troço qualquer e conte a verdade, 

Consciência conselheira.


sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

Silêncio na coxia

 


Silêncio na coxia

Os sonhos não são feitos 

Pelos rótulos nem pelas coxas

O céu esplêndido propicia 

A ousadia plena no peito

Uma estrela pousa


Aterrissagem da iniciativa

Postura do guerreiro 

Contra as obscuras coisas

Em prol da coragem na vida

O orgânico vai embora primeiro 

Antes do ânimo, da alma da pessoa


Quietude e telepatia 

O teatro está cheio 

De abutres, ratos e moscas

Miragem quase memória 

Morará aqui na casa um dia

Mais calma do que desespero


Hoje a onda é nova

Agora tudo se inicia

Está pronto o roteiro 

Graças ao mapa da rota

Gritos nas entrelinhas

No planetário inteiro


No fluxo das forças 

Do proscênio, da coxia

O futuro adentro 

A vontade que chora

Pela volta da alegria

Alegoria do tempo


Qual é a idade da Terra?

Quantos anos vivemos?

Na redoma da matéria 

Escuto o esclarecimento do silêncio

A despeito da sombra da psicosfera

Eu me mudo pelo amadurecimento


Mensagem em modo procela

Por dias mais felizes

Aquele mundo já era

Depois do apocalipse

Quando é o aniversário da Terra?

Quantos anos eu tive?



quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Ciente de que vim louco

 

Ciente de que vim louco

É a minha lente

Há pouco tempo

E não passa lento


Gente, sair do jogo

Pela tangente

É um livramento

E talvez seja rabugento 


Já fui diversos outros

Caí fora deste game

Eu me perco e me venço

Vivo feroz, vivo gemendo 


O mundo e o circo pegam fogo

Sou as chamas de alguém

Chamado, pensamento

Fleumático e me queimo


Já fui muito bobo

Palhaço, malabarista

Clássico, artista cênico

Diabólico e me benzo


Não posso ficar no conforto

No sofá, no bar, nas cinzas

Com sono ao passo que vou sendo

Em confronto com o bom senso


Já não sou nada nem novo

Contudo não sou velho ainda

Quanto mais vou, mais venho

Para a jornada interina 


Batem à porta, no meu porto, 

Maravilhas submarinas

Salvarão o desejo, saltarão do desenho

Embarcação a uma milha da minha


Já nasci livre e torto

Na peripécia da periferia 

Entre apocalipses, adventos,

Cicatrizes, inércias e feridas


Já estive nessa, já fui morto

Agora tenho gosto de vida

De perigo da lufada do vento

Que nem a fada adivinha.