quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Uma cilada nada singela

 



Na disputa da grana

Na luta com granada

Na labuta tacanha

Na fruta abocanhada


Faroeste de má categoria 

Em frente da casa

Bendita falta de pontaria 

Mas não se farta a máfia


É larga a família 

E armada a pátria 

Quem disse um dia

Que isso prestaria


Agora gargalha

E joga balas e balelas

À plateia alucinada

Por uma bíblia paralela


Uma cruzada

Uma cilada nada singela

Uma milícia 

Há tempos anunciada.





segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Os ossos dos fantasmas

 


No forno da cerâmica

No jogo de ser o ânimo

No piscar da lâmpada

No raspar da lâmina


Na mística quântica

Na faísca epifânica

Rasgam-se os panos

No inverno da chama


Atravesso a alma

Arrefeço o drama

Agradeço pela calma

Depois da tempestade


Salto do trauma

Saio da jaula

Ensaio a aula

Em prol da aprendizagem


Retiro os ossos dos fantasmas

Dentro do fosso do armário

Enquanto poucos se pasmam

Com o nosso noticiário


Não sei como desce a palavra

Mas me apetece o itinerário

Vindo maturada ou do nada

Na altura do vocabulário.












segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Quem me repara?

 



Será que para

E me olha?

Paranóia

Quem me repara?

Quem me conserta?

Será que agora

Alguém me acerta

E me leva à glória?

Perambulam

A bala, a bola

E a bela bula


Quem me aguarda

E me guarda a toda hora?

Quem me dirá?

Queimadura

Quem me dera

Quem me adora

Quem me deserta

Pode me aderir

Ao que durar

Será que na espera

Pinta a piora?






terça-feira, 4 de outubro de 2022

Perfumado desespero

 



Sem apelos

Para atrair

Atropelos

Para não seguir

Atrás de pêlo

Em corvo

Quem vai ouvir

O silêncio escroto?

Quem vai mofar

O pedido de socorro?

Embora no sofá 

Eu me locomovo

No mesmo lugar

O sol não pede desculpas 

Pela frieza no ar

Curto ficar na penumbra

Para me enxergar

Sempre, às vezes nunca

Mais telepáticos

Do que verborrágicos

Prorrogam e prosseguem

Os diálogos

Quando conseguem

Caminho com inimigos

Fantoches, mequetrefes 

Perfumado desespero

Acostamento de perigo

Enquanto explode

A tristeza sem exagero

Estrada de desvios 

Entre o chicote

E o terço de terno

Tradicional masoquismo

A escolha da morte

A escalada do império 

De medos e delírios 

Choque de desordem

No quintal do inferno

Em casa, no exílio

No aconchego que morde

Igual a um inseto

Com entrega a domicílio

Antes que a televisão mostre

O monstro ou o mistério.