domingo, 21 de abril de 2019

Esta empresa hipócrita

A catedral de Notre Dame
Tem extrema fome
A construção da Idade Média
Vive na mais pungente miséria
Logo levantaram novecentos milhões
De euros ou dólares
Para suprimento das privações
Afinal, dinheiro dá em árvores
Um imóvel, uma igreja
Causa mais comoção
Do que a pobreza
Para vermos como são
As pessoas que comandam
Esta empresa hipócrita
Chamada de mundo, onde cagam e andam
Nada disso realmente importa.

Preciso mesmo de quase nada

Quem usa a ironia
Não abusa da mentira
Eu sinto um feliz alívio
Quando termino um livro
Eu tenho tantas saudades
Cidades e adversidades
De quando era mais moço
Só carne e osso
Preciso mesmo de quase nada
Para seguir a longa e sinuosa estrada
A cadela tão bela e velha
Entra na sala e estamos de sentinela
A quaisquer carro e futuro
Para além do escarro e do muro.

terça-feira, 16 de abril de 2019

Assim

Assim que me deito
Na rede
Como se saísse do meu peito
Ou da parede
De cima um sol perfeito
Para os sonhos verdes
Ao mesmo tempo
Em que mato a sede
E a fome, contemplo
Os Beatles, baby
Assim que me deixo
Que assim me deixem.

terça-feira, 9 de abril de 2019

Você pensa que aguenta?

A lama chegou levando
A um metro e setenta
Até quando
Você pensa que aguenta?
As mãos estão
Armadas, enlameadas
Ensanguentadas
E também em forma de oração
Oitenta balas (e nem era
Dia de São Cosme e Damião)
Numa família negra
Com sabor de execução
E de negligência
Aniquilamento
De residências
De pertencimentos
Você pensa que aguenta?