segunda-feira, 27 de abril de 2020

O assassinato

Viver é facílimo
Com os olhos fechados
Dentro do abismo

Enquanto fico
Sendo alvejado
Ou só dormindo

Acontece o assassinato
Sob o céu que cega de tão lindo
Até quem não desce do salto.

domingo, 26 de abril de 2020

Das coisas impossíveis

Das coisas impossíveis:
A classe média parar de
Pensar que é elite
E uma versão de Paul McCartney
Para "How do you sleep?"


quarta-feira, 22 de abril de 2020

Um pronunciamento

O silêncio
Diz muito
Já é um posicionamento
Em cima do muro
Um pronunciamento
O estado mudo
Invasão e descobrimento
O idiota útil
Abaixo-assinados
Notas de repúdio
O jeito calado
Emana todo um discurso.

terça-feira, 14 de abril de 2020

Meu segundo nascimento

Dezoito anos atrás
Ao voltar de bike
Para casa na madrugada
Fui atropelado por um táxi
Com os faróis apagados
Que avançou o semáforo
Entre a Roberto Silveira
E a Domingues de Sá
Se não fossem a passageira,
Que fez o motorista parar,
A minha vasta cabeleira,
Que mitigou o impacto da queda
E a pronta ajuda médica,
Que me pôs no imobilizador cervical,
Poderia ser mais um da média
Fria e estatística
Só desloquei a clavícula
Esquerda e quebrei a massa ridícula
Do dente frontal
Completo minha segunda maioridade 
Hoje, catorze de abril,
Ainda bem que não há mais a necessidade
De ir até ao fim da João Brasil
Para encarar de novo o Terceiro B.I.,
O Buraco do Inferno, apelido gentil
Do antigo Batalhão de Infantaria.

segunda-feira, 13 de abril de 2020

Um rio de riso

Ainda que pareça
Plena pedra
Sempre passará
Um rio de riso
Para matar
O siso, a sede
Ou encharcar
A parada parede
Da cara que pira
Em casa, na rede.


domingo, 12 de abril de 2020

A paz coa

A paz coa
O pânico
Em coisas boas
Para que se sorvam
De modo orgânico
Em caso de baba, toalha.

A paz coa
O tirânico
Pensamento das pessoas
Em poder de escolha
No aspecto epifânico
Das migalhas às medalhas

A paz coa
O titânico
Desejo de ir embora
Desta realidade-masmorra
Em resistência no campo
De batalha contra os canalhas.

sexta-feira, 10 de abril de 2020

Pouco tempo faz

Há cinquenta anos
O sonho acabou
Com o fim dos Beatles
E há quem ande bocejando
What did I know?
Pouco tempo faz
Que um mundo terminou
Com o advento do vírus
E os doentes vão atrás
Do monstro em vez do doutor.

quinta-feira, 2 de abril de 2020

Caso ninguém se movimente

Caso ninguém se movimente
Da teia de aranha
Ela vira fio de arame
Até se tornar cabo de aço
Nestes dias surpreendentes
Se você não se levanta
Não há mais quem levante
Com beijo, bronca ou abraço
Do Oriente ao Ocidente
Rotina estranha
Cinematográficos instantes
Sobrevoo em passos
Nada de acaso nem acidente
Sete domingos por semana
Agora nunca houve antes
Entre o improvável e o fácil.

quarta-feira, 1 de abril de 2020

Todos sangramos



Quem não se cuida
Não deve ter tempo ao relato
Com o respaldo da loucura
Teremos outros verões
E dançaremos fora do campo minado
Se não dançarmos com as suas convicções

Nem toda ajuda
É considerada socialista de fato
E todos sangramos na cor rubra
Algumas contribuições
Podem ser associadas ao assalto
Mas nem sempre levantamos as mãos.