quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

São pessoas

 


São pessoas do banzo que choram

Uma lágrima dropa e vira dupla

Várias páginas que adubam

As bases, os trânsitos e os treinos

Diuturnos, sem panos nem extremos


São pessoas do banco que olham

Das frases dúbias 

Às fases de dúvidas

Alarmes estranhos de incêndios

De estúdios e de planos que não demos


São pessoas do banho que demoram

Cada segundo dura

Um comando que educa

As artes aonde vamos com os venenos

De Marte, do mundo e de Vênus


São pessoas do bando que cobram

Fazendo farofa da duna 

Dose não quer dizer uma ducha 

Milagres e quebrantos nos silêncios 

Tão profundos que quebramos e vemos.



terça-feira, 19 de dezembro de 2023

Fúria oculta


Comunhão incomum

Loquacidade incomunicável 

É louvável a recordação

Do recurso da respiração

Quando não está fácil 


Haverá flecha, tendo bambu

Soa falso fazer o coração 

Com os dedos das mãos 

Ásperas de medo

Da bomba, do brinquedo 


As aspas do rebu

Não tiram as palavras 

Da minha tirania ou autoria

No berro livre, plácida arruaça 

Na rua, na praça, na auditoria


Rumo a lugar nenhum

A paciência é a fúria oculta

Na indiferença, na unha

Nas rimas que ficam

Remando no raso, na praia.



domingo, 10 de dezembro de 2023

Se você

 


Se você acha

Que só tem a mesma cara

Quem faz a barba

De forma diária


Se você pensa

Que o cromo compensa 

A cor da desistência 

Por falta de força e crença


Se você deduz

Que não há luz

Nem céus azuis 

Para os seus tabus


Se você supõe 

Que não tem sobrenome 

Nem sobremesa para a fome

Azeda que não some


Se você infere

Que salvará a sua pele

Em plena febre

Da falsidade alegre


Se você concorda 

Que está curta a corda

Curta a vida toda

Porque não se recruta a volta.



domingo, 3 de dezembro de 2023

Não aperte



Não aperte

A minha mente

Nem me acerte

As costas ou de frente 

Se perder a aposta


Talvez aperte a dor

Talvez alerte a minha mão

Ou somente o botão 

Do elevador

Sem abrir a porta


Para qualquer andar

O centésimo, o térreo 

A casa de máquinas, a cobertura 

A mágica pra não me torrar

O cérebro na abertura


Não venha me apertar 

A mente, aventura 

Já basta a minha própria 

Ala paranoica na avenida e na rua

Aba clara do mistério.



quarta-feira, 22 de novembro de 2023

Vestido de vestígios

 


Vestido de vestígios 

E visões vertiginosas

Eu me dispo, me roubo, me livro

Me disponho e me despeço 

Robô com coração vai embora


Como o passado em cinemascope

Que nunca ouve

As lamúrias, as estórias

Das duras e doces memórias

Escolhas, escórias e flores 


Feito de faltas

E falas espalhafatosas

O mangue se asfalta

O consolo é fértil 

No sertão após certas horas 


Pra friend é que se anda

O presente não se estanca

O eufemismo das grandes mídias 

Menciona propinas 

Como recursos não contabilizados 


Retalho de versões 

Rasgado pelos versos

Infernos, ensaios e verões 

Eu desligo o rádio

Viro o disco e recomeço.



quarta-feira, 15 de novembro de 2023

A esfera é poda

 


Se é fato

Não rui o real

Mas com tantas 

Falácias e inverdades 

Cabe a redundância


Veterano e novato 

Deslumbre ficcional

Uma sede insana

Desbundes familiares 

Bandeide para a criança 


Fumaça não é nuvem

As cruéis paisagens 

São fuligens úteis

Outros ângulos

Blasfêmias santas


Loucos anjos

Cantando numa boa

Tocando banjo

Nos bailes de boda

Uma beleza de banda


A esperança é uma déspota 

Na popa, na proa

A espera se esbanja

Na polpa da fruta

Radical da planta


Na manga da roupa suja

Em qualquer época

Feras, fé e planos

A esfera é poda

Tocando anjos.


quarta-feira, 1 de novembro de 2023

O interesse do interior

 

O interesse do interior 

Não é infame

Nem alheamento ao que for

Nem sempre

O jogo se vence


Contudo eu venho

Treinando para o exame 

Para o reconhecimento 

Para o jantar dançante 

E lidando com o dissabor


Deixar de ganhar, garanto,

É um merecimento 

Eu não sei quantos 

Desenganos tive

Foram tantos dias


Entretanto sou esfinge 

E besta o bastante 

Aéreo navegante

Fundo de garantia 

Por tempo de ser isso


Livro aberto 

Livre arbítrio

Instante longevo

Motores, temores

Delirantes desejos


Tranquilos descontroles

Equilibrados desesperos 

Razoáveis compulsões 

Demônios interiores 

Essenciais decorações


Para amanhã que não veio

Haja hoje

Uma geração nova

Crianças nomofóbicas

Não são plantas nem flores. 



terça-feira, 17 de outubro de 2023

Revisão dos textos

 


O poema sempre desmonta

Qualquer protocolo 

Pura imposição

O cinema é mais que uma telona 

O tráfego é pesado


A resenha não se fatiga

A antena tem todos os olhos 

O dilema é uma ficção 

Ainda que não se diga

O trânsito é ditado


Distribuição dos pesos

Para as bases no chão

Revisão dos textos

Do berço ao caixão

O transporte é cuidado 


Mudança de rota

De humor, de dança

Da rotina rota

Dói quando não arranha

O trabalho é errático 


Sem desespero 

Para cometer o que quiser

Os mesmos acertos 

No cometa, a pé ou no VLT

O trato é válido 


Alteração da retina

Das nuvens na linha

Do horizonte, marco zero

A humildade é uma ponte

O atraso é exato.

segunda-feira, 2 de outubro de 2023

A sociedade

 

Alguma coisa se distancia 

Da data corrente

Enquanto correm os dias

Diafragma, o ideal

E se rompe a corrente 


Falamos o mesmo idioma

Estamos noutras mídias

Live and let dial

Em nada neutras ondas

Alguma coisa se aproxima


O sistema sempre funciona

A elite civilizada se livra

Desde o período colonial 

Os tubarões com pompas

Comem as sardinhas


Alguma coisa cretina

Que alucina e assombra

Filosofia superficial 

Gentileza mesquinha 

Maquiagem de honra 


A sociedade é hedionda

A sociedade é uma convenção

A sociedade é um bacanal

A sociedade é uma redoma 

A sociedade é uma prisão


No coletivo apertado

Com uma fome medonha

E uma fé medieval

O povo está cansado

Demais para uma revolução.



sábado, 23 de setembro de 2023

Prateleiras e galhos


Uma pausa

Não é tédio 

É a pauta

É o remédio 


Com as palmas

Das mãos unidas

Vêm a calma

E a paz para a vida


Apesar da pressão insana

E da competitividade tola

Desde os tempos de criança

Número não pode ser pessoa


Amigo de infância fascista 

Fica só no passado

Onde as memórias transitam

Prateleiras e galhos


A respiração é a âncora 

No meio do mar revolto 

Sobre mim uma câmera

Eu sou quem é outro.

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Na amargura do dossiê

 


Aluguel de alegria
Alerta de ressaca
Litros de psiquê
Alma aberta, maré alta

Alegação de alegorias
Levitação, tombo
Leveza, delírio, lavanderia
Equilíbrio, coragem

Ondas da pontaria
Os dias que faltam
Na amargura do dossiê
Na ponta da faca

A gélida clausura
Na lógica do sonho
Pode ser mais segura
Do que a claudicante liberdade

Conforto da firmeza
Pesos do milênio
Arroto, pose, reza
Ruínas do reino

Sombras do meio-dia
Securas que fartam
Na amargura do dossiê
Levando na flauta.



quarta-feira, 13 de setembro de 2023

Só esteja aqui

 


Aumento do intervalo
Entre as composições
Intuições não são ilusões
Não estão por acaso

Só esteja aqui
O melhor momento é agora
Triste ou feliz
Algum argumento vigora

Somente acolha
O que vier, seja o que for
Centro nervoso do interior
Dentro e fora da bolha

Às vezes longe de mim
Noutras na geladeira
Esquina além do jardim
Aqui apenas esteja.





sábado, 2 de setembro de 2023

Enquanto cai a areia

 


Somos pessoas feitas

Da mesma matéria 

Das estrelas


Fluindo como sangue nas veias

Nas artérias

Singrando como caravelas 


Solte a face

Relaxe

Silencie

A tagarelice 

Da cabeça


Inspire-se pelo riff

Da guitarra de Keith

Dance enquanto cai a areia

E se conta a história 

Podre ou doce


A que horas

Eu iria

Se não fosse agora?


A que horas

Seria

Se não fosse?


Deixe que passem

As angústias 

As vaidades 

As dúvidas

As fases


Para que se perceba 

O que se pode perceber 

Nas telas do ateliê 

Antes que derreta

Todo o gelo do mundo


Hoje em dia 

Aposta é profecia 

É brincar de vivo ou morto 

Na zona de conforto

Incômodo porto


A vida é um gerúndio 

É um presente contínuo 

Dura um segundo

A linha de raciocínio 

Um dia seguinte ao outro.

terça-feira, 15 de agosto de 2023

Do são elã

 


Flash-back
Déjà vu
Analepse
Paladar do passado
Avós, pais e irmã

Futebóis e picolés
Este filme já vi
A première
Será no feriado
Do são elã

Qualquer dia
Sabores de saudade
Bolores de nostalgia
Renovado coração
Constelação, clã

Qualquer idade
Da minha geração
Agora me cabe
Os ponteiros giram
E juram tempos de afã

Olfato
Ou ficção
Já esperava ficar pasmo
De tanto esperar
Hoje amanhã

Qualquer eu para mim
Sem feitos especiais
Conheço quando nasci
Mesmo sem estar a par
Do vilão e do galã.





terça-feira, 8 de agosto de 2023

Os dados

 




A consciência 

Ou a lei divina 

Não é uma ofensa

E traz luz à vida

É fato, é facho, é mantra


A despeito da violência 

Das notícias e da psicopatia

Somos seres que pensam 

Entre o cansaço e a vigília 

A realidade de aço espanta


Quando o sonho acorda 

Sacode a sonolência 

No sertão e na orla

Na ilusão do cinema

A energia não engana 


Ninguém é uma ilha

Nem o acaso é inteligente

A longo prazo se desvencilha

O medo derramado da gente 

Todo enredo é um drama


A mentalidade cartesiana

Tridimensional, quadrada

Binária e mecânica 

Garante que Deus é uma piada

Mas os dados não ganham





sexta-feira, 28 de julho de 2023

O disco ou o olhar

 


O que dialogam
Os olhos
Atrás dos ósculos?
O que olham?

Uma bomba-relógio
Se não explodir agora
Na hora do break, será logo
Um dia estoura

Uma caixa preta
Que só vai expor
A faixa com a letra
Quando cair em si

Cada alma
Leva figurinos, jardins
De amarguras na jaula
Simetria sem cálculo

Subindo que nem vapor
Flutuando feito flauta
Caindo como óculos
Boiando igual a isopor

O que diz
O disco ou o olhar
Se não expandir?
O que quer falar?






quarta-feira, 12 de julho de 2023

Mesas e meses

 



Se a barra está pesada
Deixe estar
Se leva uma tonelada
Deixe de lado
Se pesa a barra

Se está no inferno
Continue a andar
Se estou possesso
Vou me possuir rápido
Se não tenho nada

Se estou perdido
Volto para mim já
Se me contradigo
Ao menos admito
Se o silêncio acaba

Se eu perambular
Permaneço comigo
Se eu assegurar
Com certeza, sei lá
Se quero que saiba

Quando eu era leve
E os dias, alegres
Eu não sabia
Que seriam só estes
Prazeres na praça

Nem sei quantas vezes
Eu já quis
Não estar aqui
Entre mesas e meses
Da mesma macarronada


quarta-feira, 5 de julho de 2023

Clichês

 




Eu não sou mais

O mesmo após 

As redes sociais 

Nenhum de nós 

É igual, aliás 


O quadro que se pendura

No imaginário da parede

Já tem moldura 

E comentários na rede

Modulam e ondulam


Eu voltei a ouvir

E revoltei para mim

A voltagem alta

A vontade peralta

A vantagem de permitir 


Sem permanecer

Permeando sentimentos 

Alicerces de anos e cimento

Epifânicos clichês

Alegres reconhecimentos 


Peças de teatro

Fora de cartaz 

Peças do acaso

Sonho incapaz

De pegar fracasso


Passos em falso

Cortes tão corteses

Que tropeços são saltos

Pessoas, deuses

Promoções, estragos


O destino não é atroz

Os dias ficam para trás 

Vamos ficar em paz

Agora, depois

Ou só outra vez


Sem engasgos com o gás 

Eu sou meu único algoz

Cadência veloz

Velórios e carnavais

São vexatórios clichês. 






terça-feira, 20 de junho de 2023

Planta podada

 

Sou outro, outonal

Temporada de choque 

Temporal perto do final

Planta podada, feita

Pra crescer original


Folhas secas

Escassez é estoque 

Belas quedas

Uma apneia, um mergulho 

Para que se afoguem


O ego e o orgulho 

São tempos grogues 

De perdas e pedras

Estrada do sonho 

Presente sem embrulho 


É o fim do outono

É a palavra que pinta

E larga o dono

É a imagem irrestrita

Ao delírio do abandono


Não são os mesmos dias

Selvagens e tontos

Como se não se domassem

Há tantos tombos e tomos

Bilhetes de viagem de psicodelia


Mais valiosos e tristonhos 

Do que os de loteria

Um mantra, um slogan 

Que os pensamentos passem 

Sem que eu me envolva


Sangrando com classe

Na minha canoa

Na minha nave

Na minha pessoa

Na minha graça nova


Singrando os céticos mares

Os sonhos são indóceis

Indícios de que não é doce

A alucinação com nome de realidade

Quem tem raízes é árvore.

sábado, 3 de junho de 2023

Fúria, flor, fantasma, flâmula

 




Só em momentos

Tensos e soturnos

Que o aluno

Procura o professor


Tomara que o tormento

Seja mais potente 

Na minha mente 

Do que ao redor


Sob vendas ou na miragem

Mora a minha face

E se decora o meu interior

Atual ou anterior

No balanço do mar, na base

Da areia baila a âncora 


Eu era o que me falavam

E fui o que me faltou

Agora é outra fase

Serei fúria, flor

Fantasma, flâmula

Vou ser o que for.

quarta-feira, 24 de maio de 2023

O som do brio

 


Voltar para casa

Seguir adiante

Adianta pacas

O tempo passa


Menos o instante

Que se disfarça

Como constante

O vento abraça 


Retornar às raízes

Afinar as antenas

Arar a terra, as origens

Cultivar apenas


Bora lá dançar

Baby

E se alguém olhar

Dance


Regressar ao lar

Ao andar pra frente

Deixa o passo 

E o passado pra trás


O som do brio

É do sol

É sombrio

É melhor


Prossegue o presente

Em tudo, tudo, tudo o que se faz

Agora perene, 

Por ora e pra sempre…

terça-feira, 9 de maio de 2023

Magia de você

 


Ao som de Rita Lee

Padroeira de Sampa

Como se bailam no limbo

Sonho e lembrança

Guerrilheira, cigana e santa

Maria-sem-vergonha do jardim

Suspenso da Babilônia

Lá no meu esconderijo

Perto de um final feliz

Fui no Canecão ao seu show

Cantando versões dos Beatles

Mas de repente o filme pifou

Vai poder escutar meu grito

De ser quem eu sou?

Vivas e cheias de graça 

As memórias bailam

Comigo na sala

Do apartamento perdido na idade

E me descolam um carinho 

No mutante salão

De festas da imaginação

Meu departamento é de criação 

Arrombando as frestas

Para chegar mais

Com a boca no mundo

Em Atlântida, em Shangrilá 

Aqui, ali, em qualquer lugar

Não quero luxo nem lixo

Eu me recuso

A ficar só me desculpando do auê

Magia de você

Atrás do porto tem uma saudade

Perdida no fundo do mar

Ai, ai, meu Deus,

O que foi que aconteceu?

Quem falou que não pode ser?

Hoje é o primeiro dia

Dançar para não dançar

Pra que sofrer com despedida?

Luz del Fuego, Lady Babel 

São coisas da vida

Ela também foi pro céu

Um som diferente entrou 

Está no colo da mamãe natureza

Esse tal de roquenrol 

Só pra deitar e rolar

Longe de qualquer problema 

E tomar banho de sol

Na hora agá

Quando a sombra estourar

Rita Lee foi passear.

sábado, 6 de maio de 2023

Se eu me levar

 




Se eu me levar

A sério

Não será

Porque quero 


Elogio sem bajulação

Crítica sem ofensa


Se eu me velar

Soará manifesto

Se eu me livrar

Estarei por perto


Espiritualidade sem religião

Ciência sem crença


Se eu me levar

Não sei se regresso

Daquele lugar

De onde me esperam


Entre cumprir a missão

E comprar a omissão

Vou regando as plantas


Tendo o céu aberto

Como piso e teto

Regalias estranhas











terça-feira, 18 de abril de 2023

Que desterro

 




Casa cheia de moscas

Chegando do deserto 

Decerto das coisas

Que disserto


A verdade é fosca

E os indícios, a ferro

Nos versos, nas forças 

Que desperto 


A vida vem em bombas

E a vaidade, do império

Belo e bélico nas sombras

Que disseco


As virtudes são poucas

E os humores, sérios

Perto das pessoas

Que se darão e se deram


As saudades vêm à tona

De uma cidade dos anos zero

De uma necessidade atônita 

Que desterro 


A realidade é louca

E os delírios, sinceros

Mistérios das bocas

Que dirão e disseram.




sábado, 15 de abril de 2023

A vida em seus métodos diz carma

 




A vida

Em seus métodos

Diz carma


Há quem coma

Somente os presuntos

De Parma


E há quem vire defunto 

Por fome, por arma, por credo,

Por trauma, por excesso de faltas 


A vida

Em seus préstimos 

Diz alma


Há quem vire a cara

Ao que está imaterial 

E impresso na palma


Clique da garrafa ou aéreo 

Do Leminski ao pontal

Ninguém grafa igual.





sábado, 1 de abril de 2023

Alguém alguém

 



Fora da curva

Sob a chuva

O tempo espicha 

Alguém espirra


À beira do rio

Na baixeza do abismo

O buraco espera 

Alguém espeta


Entre a pressão

E a pressa da revolução 

A intuição explica

Alguém espanta


No sinal verde

Além da parede 

O céu espelha

Alguém espalha


Fora do ar

Na força do mar

A onda expulsa 

Alguém espuma


Na matéria etérea

Do planeta Terra 

O limite expõe

Alguém explode


Perante a vida

Longo enigma

Alguém expede

Alguém espírito 



sexta-feira, 24 de março de 2023

Vamos correr

 


Vamos correr para as montanhas

Onde nossas entranhas

Não sejam estradas submissas

Para os mares que sobem e avançam

Dia após dia


Vamos correr da dicotomia

Obsoleta entre o comunismo

E o capitalismo

Agora a treta é do Mercado

Contra o Estado


Vamos correr para as estranhas

Maneiras das nossas almas

Onde os nomes encantam e acalmam

Pela musicalidade

Vamos correr, humanidade


E quem disser que teve auxílio

Do Mercado deve correr ao hospício

Se não for um empresário, podre

De rico ou um reacionário pobre.

quinta-feira, 23 de março de 2023

Eu enxergo mais para dentro quando uso as antenas




Antolhos, atalho
Entulhos, atoleiro
É tudo tão doméstico
Até o mistério

Um dia nublado
Não dubla o berro nem arrefece
A cuca quando é verão

De volta aos trabalhos 
Não se debelam os segredos
Pregados na porta, histéricos 
Picolé é tiroteio certo

Depois da pimenta no lábio
Na digestão do arrebol que derrete
As cortinas abolindo a visão

Entre retalhos, talhos
E telhados inteiros
Retenho o céu debaixo do teto
Ah, é tudo tão poético

Que por raciocínio indecifrável 
Dislexia ou stress
Pode ter outra interpretação.

segunda-feira, 6 de março de 2023

Você pode

 



Você pode seguir a novela

Apenas pelas chamadas

Você consegue uma boa ideia 

Mesmo sem concretizá-la


Você pode estar contente 

E a felicidade, em falta 

Você pode fingir ser coerente 

Mas berimbau não é gaita


Você pode sonhar

Enquanto não pressente 

Você é capaz de voar

Sem que bata as asas


Você pode estar no exílio

No seu próprio domicílio 

Você pode viajar

Sem sair do lugar


Você pode ser pobre

E possuir muita grana

É possível haver fome

Mesmo após a janta 


Você pode estar no atraso 

Porém tem hora pra tudo 

Você pode nadar no raso 

E parecer profundo.



segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

As ruas da cidade natal

 


As ruas da cidade grande

Onde eu nasci

Têm cheiro de pressa

Competição e xixi

No ranger dos dentes

No rancor dos motores 


Os sonhos menos distantes

O desejo demanda cuidado 

O desenho depende de mim

Quando me interessa 

Quem é indiferente

Sente as próprias dores


As ruas da cidade natal

Estão com mais carros

A cada momento é mais fatal

Há tempo depois do fim

Há jeito de ir em frente

E fazer luz no breu da noite 


Quando mato os traumas

Lembro que sei ser feliz 

Não sou membro do clube dos fantasmas

Nem aderi ao partido dos zumbis

Nasço mais uma vez perene

E calço o caos para dias melhores.






terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Cansei de beijar o quase

 




Cansei de beijar o quase

Quero atingir o que se sonha

Basta de tantos momentos

De vontade estanque

Desde a infância

Egoísmo neste sentido não é coisa feia


Para voar, há de se perder a base

E verificar se funciona

Pelo menos, em pensamento

Respirar paz e ar em vez de pus e arame

E se espiralizar na fragrância

Do milagre que não se freia


Como se não bastasse

Passar vergonha 

Na própria linha do tempo

Há gente que precisa ampliar o vexame 

E se jactar da ignorância 

Na timeline alheia.






sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

Quando tudo soar ruim

 



Não deposite

Toda a sua felicidade em mim

Tudo tem seu limite

Sua borda e seu fim


Não dependa

De ninguém além de você

O planeta não aguenta o sistema

Planejado pelas águias no poder


Não dê pânico

Quando tudo soar ruim

Há risos, rezas, riscos e prantos

Ficar alegre não é ser feliz


Não se deprima

Com as notícias que vê

A vida é uma esgrima

Que não se ensina na tevê.



segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

Não sabia

 



A minha fantasia

É que vire pauta

Do principal jornal 

A falta de autonomia


Do Banco Central

Tomara que mude a editoria

Ao término do carnaval

E da compulsória alegria


Verdades e disparates

Dividem uma quitinete

No centro da cidade

E se maquiam para a internet


Eu tenho saudades

De quando não sabia 

Que existia

Espelho às cegas


Cegueira assídua

Sonda sedada

Sendas, saídas 

Pequenas e extensas


Passos e palavras

Eu usava caneta 

E tinha pena

Sinto falta


De quando não sabia de nada

Nem da diferença

Entre o acostamento e a estrada

Eu não precisava


Vestir a fantasia

Entrar na fazenda

Nem fazer a barba

Ah, eu não sabia.






sábado, 11 de fevereiro de 2023

Amolada tesoura

 



Sinceramente não sei

De todos os vinis

Que emprestei


Que pedi e perdi

Os pensamentos tão vis

Que já perdoei 


Há quem converse

Sobre recorrentes temas

Inócuos e leves


E há quem tema

Os papos que fervem

Incandescentes problemas 


Às vezes falar a respeito

Do tempo, é, dele mesmo,

Pode causar aquele clima


Uma pancada de ladainhas

O comercial de margarina

É o tradicional pretexto 


A felicidade é sintoma

Não do sucesso, do sucedimento 

Mas do êxito, do êxodo 


Eu usaria até mullet e roupas cafonas

Para que voltassem os bons tempos

O resto é paisagem de subtexto 


Eu levo as memórias

Ao salão de beleza

As unhas se lavam e se cortam


Assim como a cabeleira

Com a amolada tesoura

Sou Melo, sou Moreira.





quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

A vida pede carona



Na paquidérmica turnê

Nos desertos lotados

Nos parques, nos porquês 

Das catracas dos rolês


Nas traças, nos lastros

After não é matinê 

A viagem arfa e é longa 

Sem lenga-lenga, ao meu lado


A vida pede carona

A poesia é de quem sonha

Babando acordado pra ver

Além e aquém da redoma


Em virtude dos vidros

No lustre, no telhado

Na portaria, no mister

Do mistério tinindo de tão nítido


Inédito itinerário 

Ao velho esconderijo

Que não me abandona 

Berro rebelde e calado


Destilado não é vinho

Para se perfumar à mercê

Dos estádios vazios

Entre sóis nublados e sombras


Longe da empatia blasé

Onde é dia-a-dia, onde é íntimo 

Estou comigo, eu vou com você

A companhia se encontra.




sábado, 28 de janeiro de 2023

Diamante e diarreia




Para que o dia raia

Diamante e diarreia

Esperam-se a palavra

Distante, a ideia


E o instante de se levar à praia

Louvar as pedras 

Lavar a alma

Enquanto a onda pega 


Nademos na veia

Na espuma da água

No espasmo da tela 

No espelho de sangue


Talvez à noite se leia

Na torra da estrada 

A nota da estrela 

Na derrota, no derrame.



sábado, 21 de janeiro de 2023

Os guardas da fronteira

 




Os guardas da fronteira

Não me deixam

Atravessar para o norte

Rumo ao interior


A vida é um filme de terror 

Psicológico, com cortes

Coleira, colégio, colheita 

Entre privilégios e rasteiras


Eu me esqueço do passaporte

Para aquele voo

Bem depois das dez e meia

Não me deixam transpor


Sem pagar as taxas aduaneiras

Já sei que quando for

Preciso, atento e forte,

Portarei na carteira 


A alma, o passaporte

Para cruzar o atual estado

O sol ignora a aurora ao se pôr 

Para os guardas da fronteira


Ficarem sossegados

Com afinco sendo quem sou

Não é questão de sorte

Mas de intuição certeira.










sábado, 14 de janeiro de 2023

Coisas do pretérito

 



Parecem coisas do pretérito

Anos oitenta, novena e zero

Planos plenos na gaveta

Decretos pétreos que revogo

O sentimento é ideal


Vendo mais mortos

Do que os vivos nas fotos

Destroços, ciscos, poeira

E o comecinho do mofo

A ideia é sentimental 


Não é só mais no mar que percebo

O quão sou pequeno 

Uma temporada inteira

De tempestade nos olhos

Tempero do tempo temporal 




sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

Apesar da mesma ausência

 


Há frutos do mar

E frutas do pomar

Há uma diferença

Entre a nostalgia


E a saudade

Apesar da mesma ausência 

Eu sinto falta do ar,

Do tempo, dos dias, da idade 


Em que não sabia de nada

Eu me lembro do lugar

Onde tudo era à tarde 

Onde já foi meu lar, minha tenda


E vejo como está agora

É como se eu estivesse fora

De lá, à margem da estrada 

Noutra cidade, noutra existência


Não pode ser capaz pela espora

Em busca da paz de espírito

E a dança dos eucaliptos

É sopro da safra apenas.