quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Caí da cadeira

 



Caí da cadeira

Prendi o dedo

Vi estrelas

Suei degelos

Perdi a cor

Pedi gelo

Pra aliviar a dor

E o medo

Com a pressão baixa

Comi queijo

Mais um trauma

Que não passa cedo

Cadeira de praia

Não é brinquedo

Mordeu uma lasca

Do anelar direito.


sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

As borboletas

 



Azuis e pretas

As borboletas

Rodeiam

Passeiam

E deixam minha cabeça

Altamente submersa

A queda massageia

E voo com elas

Belas letras

No ar aquarelas

Também das amarelas

Nada se estreita

Perto das borboletas

Telas da natureza.



quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

É uma pena

 




É uma pena

E uma vergonha

Este cinema

Que não funciona

É um problema

É uma onda

Que bate e queima

O filme e a persona

Um esquema

Uma conta

É o sistema

Que nos detona

É um poema

É uma afronta

É uma cena

De quem sonha.




sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Um Cervantes no almoço




Um Cervantes no almoço 

É muito bom pra ficar pintando Miró

Admito que fui menos moço

Na minha adolescência de lá e dó

Tanta revolta, tanto alvoroço

Vazio na volta e no bolso

Cheio de razão

Na revolução

O povo na fila do osso

No fundo do poço

Indignação

Não rima com alienação.










domingo, 7 de novembro de 2021

Quando for eu mesmo

 






Quantos planos

Você nega

E nem aposta?

Quantos pianos

Você carrega

Nas costas?

Com a peça devida

Quando for eu mesmo no sangue

Serei alguém na vida

São tantos colegas

Que receberam colas

E agora dão as costas

São tantas léguas

Percorridas desde a escola

Moradias nas encostas

Não são meros adornos

Se trabalhasse com bumerangues

Certamente teria retorno.





sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Sorella





Ela dormia no berço
Onde antes era só pra mim
E foi só o começo
Bastante longe do fim
No bairro do Barreto
Na rua Mululo da Veiga
Oitenta e um, não esqueço
E fomos morar no Fonseca
Na João Brasil
No três meia meia
Ah, só sabe quem curtiu
As brincadeiras
Polícia e ladrão
Garrafão
Tubarão
E outros piques
Na piscina
Comendo quibes
E gelatinas
Entre penetras e vips
Nos salões de festa
Na quadra
Naquela eterna colônia de férias
Cercada
De seis blocos
Alfa
Beta
Ômega
Delta
Zeta
Gama
Apartamento quinhentos e dois
Onde dormia na cama
Acima da sua, ora, pois,
É beliche que se chama
Comemos muito feijão com arroz
Regado a guaraná
Fomos para Domingues de Sá
E em seguida vim pra cá
E ela para lá
Mas sempre no mesmo lugar
Na memória, no coração
De um geminiano
Irmão de um ser de Escorpião
Com ascendente em Leão
Hoje é o dia dos anos
Da minha irmã
Patrícia, mãe
De dois anjos
Que não são de brinquedo
E causam um belo escarcéu
O mais velho é Pedro
E o gêmeo caçula, Miguel
Vamos brindar ainda
Muitas taças de vinho
Pelas nossas vidas
Pelos meus sobrinhos
Em outubro de oitenta e dois
Eu ganhei uma boneca
Cujo nome, alguns anos depois,
Alterei de Pat para Sorella.








terça-feira, 26 de outubro de 2021

Com os perrengues

 





Com os perrengues
Novíssimos
E os de sempre
Vou subindo e caindo
Na montanha russa
Da vida por música
Faz parte do meu chão
Um paraquedas
Para cada participação
Tiro sangue de pedra
Leite foi noutra encarnação
Pele pode ser pétala .

quarta-feira, 20 de outubro de 2021

O Dia da Poesia


Vinte de outubro
Também visto
Como hoje
Justamente hoje
É comemorado
Extra-oficialmente
O Dia do Poeta
Desde mil novecentos
E setenta e seis
Quando naquele vinte do dez
O Movimento
Poético Nacional surgia
Na casa de Menotti Del Picchia
Além de hoje
O Quatorze de Março
Também é celebrado
Pelos poetas
Por ser o Dia Nacional da Poesia
Data de nascimento
De Castro Alves
E eu estendo
A homenagem
Aos seus idendipartários Quincy Jones
E Glauber
Rocha voadora
Mas, na realidade,
Às vezes opressora
E terapêutica noutras,
O dia do poeta, da poetisa
E da poesia
Cabe em qualquer hora
De um dia
De uma noite qualquer
Mesmo se não couber.




segunda-feira, 4 de outubro de 2021

Para quem não me conhece ainda

 



Para quem não me conhece ainda
Eu me chamo Tchello
Para quem não me conhece
Ainda sou Marcello
Vários sete
No meu CPF
Que começa com zero
Adolescente
Velho
Moleque
Moreira Melo.

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Você quer que eu lhe responda

 




Você quer que eu lhe responda
De imediato
Mas não me telefona
Num tom nostálgico
De um filme na telona
E daquele longa
Roteirizado no rodapé
Entre a nossa velha onda
E o próximo jacaré
Que o mar nos esconda
Quando subir a maré.









domingo, 12 de setembro de 2021

Saudades de tudo

 


Eu nutro
Saudades de tudo
Até do futuro
Pelado e perdido
Nostalgia
Poderia
Ser meu apelido
Ou pedido
Olhos navegáveis
Todos os mares
Onde nado
Quando nada
Ocorre
Ou só morre
Na hora, na areia
Mora a peneira
Saudades de muitas
Eternidades
Até das futuras
Praias balneáveis. 

quarta-feira, 8 de setembro de 2021

Garoto

 


Garoto, você tem que carregar
Este peso
Por um longo tempo
Em qualquer lugar
Parece pesadelo
Que cresce igual a cabelo
Que você tem que pentear
Sem pressa nem atropelo
De olho na fresta e no espelho
Garoto, você vai levar
Este prato feito
Este pranto pronto
Este preso sentimento
Sobre os ombros
Você precisa segurar
E deixar solto
Este pensamento
A contragosto
Garoto, você tem que se guiar
Pelo que aprendo.

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Ganchos do texto



Com ganchos do texto
Danço no teto
E me lanço no tempo
Atemporal
São tantos jeitos
Com santos projetos
Que janto o nojento
Telejornal
Cadê o que não veio?
Só sei que o veto
Da lei se leva pelo vento
Vendaval. 

sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Contemporâneos de antanho

 




Jogadores e surfistas
Tão milionários
Quanto negacionistas
E ainda há quem pense
Que é detergente
Posando de neutro
Como os contemporâneos
De antanho
Do Barreto, do Fonseca
Do Marília e do Salesiano
Muitos pobres de direita
E de espírito humano
Vivendo num tempo
Mais antigo do que quando
Nos conhecemos
Mesmo só conhecendo
Nestes últimos anos.

quinta-feira, 22 de julho de 2021

Não quero que me acorde

 



Não quero que me acorde
Interrompendo
Meu storyboard
A poesia de hoje
Era antes o desenho
Parece que chove
Porém é só o sereno
Para que se molhem
Os móveis do loft
Quadros em movimento.

segunda-feira, 5 de julho de 2021

Enquanto iço




Enquanto iço
A minha cabeça
Com o auxílio
De um guindaste
Vejo rebuliços
Esquivos da beira
Do precipício
Falta sair do quase
Enquanto isso
Há ainda quem venere a besta
Vestida de político
Nos atuais dias de tempos atrás.

quinta-feira, 24 de junho de 2021

Se você estivesse neste plano

 


Se você estivesse neste plano
Faria noventa anos
Hoje, dia de São João
24 de junho, dia de Xangô
Foi você quem me alfabetizou
Antes do Monsenhor
Enquanto jogava bola com vovô
Aprendi a ler de bulas a gibis
Entre jornais, gols e corações
Ah, velhos tempos infantis
Que a memória chama
E chora de saudades de vovó Joanna.

domingo, 20 de junho de 2021

Ground Control to Major Tom

 


Ground Control
To Major Tom
A lua e o sol
Avisam que é bom
Andar com os pés nus
Sobre a terra
E contemplar a luz
Inclusive das estrelas
Sem carregar a cruz
E as crises das igrejas.

Ground Control
To Major Tom
Novela e futebol
Dão o real tom
Da alienação
De uma grande parcela
Da população
Apática e aérea
Que não pega
Mais a visão nem avião.

quinta-feira, 3 de junho de 2021

Eis

 





Exponho minha tez
Defendo minha tese
Ah, se eu pudesse
Escrever mais de dez

Para que uma valesse
Como as luas e as leis
Não seria tão rés
Ao gosto de vassalos e reis

Ah, se houvesse
Uma catarse mais uma vez
Uma quermesse
Um carnaval em cada mês

Que pague logo quem fez
Todas estas fezes
Não será para inglês
Ver com sunglasses

Em que pese
Este mundo aos pés
E sobre os ombros, eis
Um sonho, uma prece.

segunda-feira, 24 de maio de 2021

Pobreza retrô

 


Pobreza retrô
Militarismo vintage
Obscurantismo old school
Alienação raiz
Hipocrisia clássica
A moda é cíclica
A supremacia rodoviária
Bem que poderia se ferrar
E se tornar ferroviária
Pessoas com fome
Pires estendido ao FMI
Os velhos tempos voltaram!

domingo, 16 de maio de 2021

Caôs e fés



All things must pass

All that jazz 

O silêncio a elevados 

Decibéis

Estou ao teu lado 

Mas não sei quem és

Sempre como um catálogo 

E massageio teus pés

Com todas as dores e calos

Entre caôs e fés 

Nem tudo cai pelo ralo

Estranha é a calma sob tal stress.




quinta-feira, 6 de maio de 2021

As tentativas


As tentativas

De me manter são 

Diante das notícias 

As tratativas 

Ao meu coração 

Contra as violências da vida 

As teorias

Como gessos da ação 

Ingredientes da letargia 

As poesias

Ah, como elas me são 

Uma missão comprida. 


quinta-feira, 22 de abril de 2021

Pindoramenho

 

Pindoramenho

Em vez de brasileiro

(Traficante de pau-brasil)

Vinte e dois de abril

É o dia do descobrimento

Do Brasil, 

Embora tentem 

Acobertá-lo diariamente.

terça-feira, 20 de abril de 2021

Rego as plantas



Rego as plantas

Lavo a louça

Pesco o futuro

Acendo a luz

Fico no escuro

Vejo mudo

A televisão silenciada

Ouço canções 

Curtidas há gerações

Concomitantemente

Passo álcool nas mãos

Ranjo os dentes 

No meio do sono 

Esquento o rango 

Canto, bebo e como 

Não mais janto 

Tomo banho 

Mantenho isolamento 

Penso agora 

Piso no pretérito 

Sinto faltas 

Danço, choro 

Uso máscara.

terça-feira, 6 de abril de 2021

Eu preciso escrever

 


Eu preciso escrever 

Para esquecer

E lembrar em vez

De reviver  

Sem ressentir 

Dores velhas 

Demoras e pressas 

Tanto lá quanto aqui 

É curioso reler

O que escrevi 

Parece que é outro ser 

Um gosto de souvenir.    

sábado, 27 de março de 2021

Acabei de falar contigo

 

Acabei de falar contigo

 Telepaticamente 

Telefonicamente  

E com os olhos mareados 

 Sei que apesar da distância 

 Estamos imantados

 Irmanados na esperança

 De passarmos por este sufoco 

Imunizados, lindos 

E devidamente loucos 

Coisa de pai para filho.

segunda-feira, 15 de março de 2021

Trago verdades, tusso inconveniências



Trago verdades
Tusso inconveniências
Busco leviandades
Que me defendam

Fora deste pseudopaís 
Desta cidade
Deste feudo infeliz 
Desta fazenda

Enquanto não se sabe
(Apesar das fendas)
Quantas paredes
Há além da quarta

Além deste quarto dos fundos
De essências e enfeites 
Quando chega a fase
Em que sei os macetes?



quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Pelos tapumes

 

Pelos tapumes
Da realidade
Deve estar impune
Um pouco mais tarde
Urrar o que nos une
Nos tapetes das ideias 
E ritmos voadores
Não está pétrea
A vontade de ir longe e nos arredores
Só com linhas aéreas.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Foi incomum


Foi incomum
O carnaval
De dois mil
E vinte e um
Não dei gole
De cerveja, 
On the rocks 
Rabo de galo nem rum.
Eu não fui
À praia nem ao bloco
Fiquei bloqueado 
Fui pra lugar nenhum 
Foi bem incomum 
Esse carnaval 
De vinte e um. 
Se houve ziriguidum
Só foi virtual
Na minha folia pessoal 
De dois mil e vinte e um 
Fiquei num jejum
Do júbilo no ritual
Naquele carnaval 
De dois mil e vinte e um. 

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Eu reconheço

 


Eu reconheço

Que tenho medo

Mas não me cedo

À covardia

Na luta

Eu me vejo

Flores duras

Azulejo

Árvores numa

Psicodelia

Pedras, lua

Noite fria 

De verão

Ou deveriam

Na dança

Das luzes

É que se alcança

A doce medida.







quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Botar fogo

 

Botar fogo

Nas lixeiras

Da cachola

Sair do jogo

E das trincheiras

Furar a bola

Virar a chave

O futuro chega

Chegando suave

Igual a uma tormenta

Agora é tarde

Alegar que não aguenta.




quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

A liberdade

 

A liberdade

É um estado derelito

É quase

Um delito

Não fica a nave

Sob controle

Sem alarde

Não é de hoje

Que vai embora

Como um sonho

Uma memória

Um abandono

Um pensamento

Uma epifania

Um desenho

Um barco à deriva.



quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Apesar da urgência

 

Apesar da urgência

Vamos com calma

Somos seres que pensam

E que possuem alma

Mesmo com a mão

Invisível do mercado

Eu preciso usar meu coração

Antes de ser pescado

Um passo para trás

Ou para qualquer lado

Ainda é mais eficaz

Do que o tempo atropelado.