Caí da cadeira
Prendi o dedo
Vi estrelas
Suei degelos
Perdi a cor
Pedi gelo
Pra aliviar a dor
E o medo
Com a pressão baixa
Comi queijo
Mais um trauma
Que não passa cedo
Cadeira de praia
Não é brinquedo
Mordeu uma lasca
Do anelar direito.
Compilação randomicamente ordenada dos versos meus ou de Tchellonious ou de Tchello Melo ou de Marciano Macieira ou de algum lugar.
Caí da cadeira
Prendi o dedo
Vi estrelas
Suei degelos
Perdi a cor
Pedi gelo
Pra aliviar a dor
E o medo
Com a pressão baixa
Comi queijo
Mais um trauma
Que não passa cedo
Cadeira de praia
Não é brinquedo
Mordeu uma lasca
Do anelar direito.
Azuis e pretas
As borboletas
Rodeiam
Passeiam
E deixam minha cabeça
Altamente submersa
A queda massageia
E voo com elas
Belas letras
No ar aquarelas
Também das amarelas
Nada se estreita
Perto das borboletas
Telas da natureza.
É uma pena
E uma vergonha
Este cinema
Que não funciona
É um problema
É uma onda
Que bate e queima
O filme e a persona
Um esquema
Uma conta
É o sistema
Que nos detona
É um poema
É uma afronta
É uma cena
De quem sonha.
Um Cervantes no almoço
É muito bom pra ficar pintando Miró
Admito que fui menos moço
Na minha adolescência de lá e dó
Tanta revolta, tanto alvoroço
Vazio na volta e no bolso
Cheio de razão
Na revolução
O povo na fila do osso
No fundo do poço
Indignação
Não rima com alienação.
Quantos planos
Você nega
E nem aposta?
Quantos pianos
Você carrega
Nas costas?
Com a peça devida
Quando for eu mesmo no sangue
Serei alguém na vida
São tantos colegas
Que receberam colas
E agora dão as costas
São tantas léguas
Percorridas desde a escola
Moradias nas encostas
Não são meros adornos
Se trabalhasse com bumerangues
Certamente teria retorno.
Ela dormia no berço
Onde antes era só pra mim
E foi só o começo
Bastante longe do fim
No bairro do Barreto
Na rua Mululo da Veiga
Oitenta e um, não esqueço
E fomos morar no Fonseca
Na João Brasil
No três meia meia
Ah, só sabe quem curtiu
As brincadeiras
Polícia e ladrão
Garrafão
Tubarão
E outros piques
Na piscina
Comendo quibes
E gelatinas
Entre penetras e vips
Nos salões de festa
Na quadra
Naquela eterna colônia de férias
Cercada
De seis blocos
Alfa
Beta
Ômega
Delta
Zeta
Gama
Apartamento quinhentos e dois
Onde dormia na cama
Acima da sua, ora, pois,
É beliche que se chama
Comemos muito feijão com arroz
Regado a guaraná
Fomos para Domingues de Sá
E em seguida vim pra cá
E ela para lá
Mas sempre no mesmo lugar
Na memória, no coração
De um geminiano
Irmão de um ser de Escorpião
Com ascendente em Leão
Hoje é o dia dos anos
Da minha irmã
Patrícia, mãe
De dois anjos
Que não são de brinquedo
E causam um belo escarcéu
O mais velho é Pedro
E o gêmeo caçula, Miguel
Vamos brindar ainda
Muitas taças de vinho
Pelas nossas vidas
Pelos meus sobrinhos
Em outubro de oitenta e dois
Eu ganhei uma boneca
Cujo nome, alguns anos depois,
Alterei de Pat para Sorella.
Com os perrengues
Novíssimos
E os de sempre
Vou subindo e caindo
Na montanha russa
Da vida por música
Faz parte do meu chão
Um paraquedas
Para cada participação
Tiro sangue de pedra
Leite foi noutra encarnação
Pele pode ser pétala .
Vinte de outubro
Também visto
Como hoje
Justamente hoje
É comemorado
Extra-oficialmente
O Dia do Poeta
Desde mil novecentos
E setenta e seis
Quando naquele vinte do dez
O Movimento
Poético Nacional surgia
Na casa de Menotti Del Picchia
Além de hoje
O Quatorze de Março
Também é celebrado
Pelos poetas
Por ser o Dia Nacional da Poesia
Data de nascimento
De Castro Alves
E eu estendo
A homenagem
Aos seus idendipartários Quincy Jones
E Glauber
Rocha voadora
Mas, na realidade,
Às vezes opressora
E terapêutica noutras,
O dia do poeta, da poetisa
E da poesia
Cabe em qualquer hora
De um dia
De uma noite qualquer
Mesmo se não couber.
Para quem não me conhece ainda
Eu me chamo Tchello
Para quem não me conhece
Ainda sou Marcello
Vários sete
No meu CPF
Que começa com zero
Adolescente
Velho
Moleque
Moreira Melo.
Você quer que eu lhe responda
De imediato
Mas não me telefona
Num tom nostálgico
De um filme na telona
E daquele longa
Roteirizado no rodapé
Entre a nossa velha onda
E o próximo jacaré
Que o mar nos esconda
Quando subir a maré.
Garoto, você tem que carregar
Este peso
Por um longo tempo
Em qualquer lugar
Parece pesadelo
Que cresce igual a cabelo
Que você tem que pentear
Sem pressa nem atropelo
De olho na fresta e no espelho
Garoto, você vai levar
Este prato feito
Este pranto pronto
Este preso sentimento
Sobre os ombros
Você precisa segurar
E deixar solto
Este pensamento
A contragosto
Garoto, você tem que se guiar
Pelo que aprendo.
Com ganchos do texto
Danço no teto
E me lanço no tempo
Atemporal
São tantos jeitos
Com santos projetos
Que janto o nojento
Telejornal
Cadê o que não veio?
Só sei que o veto
Da lei se leva pelo vento
Vendaval.
Enquanto iço
A minha cabeça
Com o auxílio
De um guindaste
Vejo rebuliços
Esquivos da beira
Do precipício
Falta sair do quase
Enquanto isso
Há ainda quem venere a besta
Vestida de político
Nos atuais dias de tempos atrás.
Se você estivesse neste plano
Faria noventa anos
Hoje, dia de São João
24 de junho, dia de Xangô
Foi você quem me alfabetizou
Antes do Monsenhor
Enquanto jogava bola com vovô
Aprendi a ler de bulas a gibis
Entre jornais, gols e corações
Ah, velhos tempos infantis
Que a memória chama
E chora de saudades de vovó Joanna.
Ground Control
To Major Tom
A lua e o sol
Avisam que é bom
Andar com os pés nus
Sobre a terra
E contemplar a luz
Inclusive das estrelas
Sem carregar a cruz
E as crises das igrejas.
Ground Control
To Major Tom
Novela e futebol
Dão o real tom
Da alienação
De uma grande parcela
Da população
Apática e aérea
Que não pega
Mais a visão nem avião.
Exponho minha tez
Defendo minha tese
Ah, se eu pudesse
Escrever mais de dez
Para que uma valesse
Como as luas e as leis
Não seria tão rés
Ao gosto de vassalos e reis
Ah, se houvesse
Uma catarse mais uma vez
Uma quermesse
Um carnaval em cada mês
Que pague logo quem fez
Todas estas fezes
Não será para inglês
Ver com sunglasses
Em que pese
Este mundo aos pés
E sobre os ombros, eis
Um sonho, uma prece.
Pobreza retrô
Militarismo vintage
Obscurantismo old school
Alienação raiz
Hipocrisia clássica
A moda é cíclica
A supremacia rodoviária
Bem que poderia se ferrar
E se tornar ferroviária
Pessoas com fome
Pires estendido ao FMI
Os velhos tempos voltaram!
All things must pass
All that jazz
O silêncio a elevados
Decibéis
Estou ao teu lado
Mas não sei quem és
Sempre como um catálogo
E massageio teus pés
Com todas as dores e calos
Entre caôs e fés
Nem tudo cai pelo ralo
Estranha é a calma sob tal stress.
As tentativas
De me manter são
Diante das notícias
As tratativas
Ao meu coração
Contra as violências da vida
As teorias
Como gessos da ação
Ingredientes da letargia
As poesias
Ah, como elas me são
Uma missão comprida.
Pindoramenho
Em vez de brasileiro
(Traficante de pau-brasil)
Vinte e dois de abril
É o dia do descobrimento
Do Brasil,
Embora tentem
Acobertá-lo diariamente.
Rego as plantas
Lavo a louça
Pesco o futuro
Acendo a luz
Fico no escuro
Vejo mudo
A televisão silenciada
Ouço canções
Curtidas há gerações
Concomitantemente
Passo álcool nas mãos
Ranjo os dentes
No meio do sono
Esquento o rango
Canto, bebo e como
Não mais janto
Tomo banho
Mantenho isolamento
Penso agora
Piso no pretérito
Sinto faltas
Danço, choro
Uso máscara.
Eu preciso escrever
Para esquecer
E lembrar em vez
De reviver
Sem ressentir
Dores velhas
Demoras e pressas
Tanto lá quanto aqui
É curioso reler
O que escrevi
Parece que é outro ser
Um gosto de souvenir.
Acabei de falar contigo
Telepaticamente
Telefonicamente
E com os olhos mareados
Sei que apesar da distância
Estamos imantados
Irmanados na esperança
De passarmos por este sufoco
Imunizados, lindos
E devidamente loucos
Coisa de pai para filho.
Pelos tapumes
Da realidade
Deve estar impune
Um pouco mais tarde
Urrar o que nos une
Nos tapetes das ideias
E ritmos voadores
Não está pétrea
A vontade de ir longe e nos arredores
Só com linhas aéreas.
Eu reconheço
Que tenho medo
Mas não me cedo
À covardia
Na luta
Eu me vejo
Flores duras
Azulejo
Árvores numa
Psicodelia
Pedras, lua
Noite fria
De verão
Ou deveriam
Na dança
Das luzes
É que se alcança
A doce medida.
Botar fogo
Nas lixeiras
Da cachola
Sair do jogo
E das trincheiras
Furar a bola
Virar a chave
O futuro chega
Chegando suave
Igual a uma tormenta
Agora é tarde
Alegar que não aguenta.
A liberdade
É um estado derelito
É quase
Um delito
Não fica a nave
Sob controle
Sem alarde
Não é de hoje
Que vai embora
Como um sonho
Uma memória
Um abandono
Um pensamento
Uma epifania
Um desenho
Um barco à deriva.
Apesar da urgência
Vamos com calma
Somos seres que pensam
E que possuem alma
Mesmo com a mão
Invisível do mercado
Eu preciso usar meu coração
Antes de ser pescado
Um passo para trás
Ou para qualquer lado
Ainda é mais eficaz
Do que o tempo atropelado.