sábado, 31 de dezembro de 2011

Dos elementais

A falta de eletricidade
faz com que a quietude fale
de uma móvel pintura
os cães latem para o que passa na rua
as nuvens andam naturalmente estranhas
lembro que são vivas as plantas
a sinfonia dos pássaros
em harmonia com a dos galos
é integrante do silêncio
as folhas dançam com o vento
e nem parece o derradeiro dia do ano
em Conservatória, é outro encanto
melhora tudo ao ser menos urbano
ao lado dos elementais
eu fico em paz
são seres essenciais
ao que sou capaz
e agora estou à espera
da volta da luz elétrica
para postar esta aquarela
vou me distrair com a bicicleta.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

A poesia do meio

Durante o passeio
Pela praça do presságio
Passo a pensar nos conselhos
E no quão a pressa é frágil
Objetos tétricos caem do teto

Até as pessoas com dinheiro
São presas do pedágio
Exceto a poesia do meio
Ao deixar porosa a prosa ágil
A cada metro e mérito

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Que o ano novo seja

Que o ano novo
Seja dois mil e doce
Como se para sempre fosse
Uma vida sem estorvo
Apesar dos erros velhos
Dos mesmos tédios
Regurgito os salgados preços
Que a ambição trouxe
Junto com o amargor
E de todo o torpor
Antes do sabor
De um tempo mais dois mil e doze.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Correntezas coerentes

O cursor piscando indica
Que o curso pode ter qualquer sentido
Navega-se e aprende-se
Mais recheio no currículo
Do que apêndice
Novo começo no avanço das horas

Nos últimos dias de vida
Do ano corrente
Entre promessas e balanços
Correntezas coerentes
Conduzem-me a certezas e o meu barco de vez em quando
Como talvez agora

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Sujeito ao ego

Dentro da cápsula
Já sinto a alma
Com mais aconchego
Agora sei de um novo lugar
Para chegar se eu me cansar

No interior de mim
Vejo que não fui nem vou ser assim
Sujeito ao ego
Como se fosse vantagem
Exercer com ar soberbo a vassalagem

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

No fito de abraçar o horizonte

No picadeiro do grande circo
místico
eu me estico
no fito de abraçar o horizonte
fica perto o que era longe
e o que se chama homem
vira mito
ou some.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Um novo ensaio

O vindouro não carece mais de guerras
Mas de um novo ensaio que não foi tentado
Embora tenham existido insurgentes há eras
Eles seguem singulares e solitários

Talvez ainda não fosse o momento
Mas agora não é só a hora
Como já não haverá mais tempo
Se não nos apressarmos nesta história

Ou sumirá o ser humano
Ou um novo homem com um novo olhar
Pintará neste plano
Um rebelde ele será.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

A paciência é a sapiência

A paciência
É a sapiência
Passada pela paz do sapo
E da ciência dos próprios passos

Mais papos em forma de atos
E menos sopapos
Só os metafóricos
Exceto os desaforos.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Pode parecer delírio

Eu penso que há pessoas a mais na minha casa
Pode parecer delírio
Mas não quero ficar neste martírio
De pedir desculpas por coisas rasas
Por não ter sido intencional
Ademais, todos têm o lado bom e o mau
Eu gostaria de redigir sem ser guiado por rimas
E jogo futebol em vez de esgrima.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Telepatia, telepatia

Silêncio em documento
Nada ouço
É sermão
Quero conseguir me sendo
Ou não?
Eu vou por uma intuitiva razão.

Celulares substituem isqueiros
Mas as cartas superam os e-mails
No quesito afeto
Prefiro a telepatia ao torpedo
Quando fico quieto
Eu me escuto direito.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Oxigênio

Ainda bem que aqui venta
Para respirar oxigênio
Nem sempre quem inventa
É considerado um gênio
Tampouco uma sub-celebridade

Espero que consiga
Sacar a poesia
Secar o derrame
Socar a máquina em caso de pane
A despeito da síndrome da pequena autoridade.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Pelas vidraças sacudidas

O vento sibila
Pelas vidraças sacudidas
E eu não sabia
Que ficava com medo

E é só uma canção no topo
Das paradas enquanto volto
A encher o copo
Tem que permanecer cheio

O navio como exército
O cínico como certo
O ridículo como sucesso
E eu tento me manter alheio.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Mais sentido à vida

O que me decola
Mesmo que seja um gole
Não me degola
Por mais que me descole

O sol ressurge
Ainda que acanhado
E espremido entre as nuvens
Já torna o dia dourado

E este cheiro de comida
Das cozinhas imediatas
Dá mais sentido à vida
Apesar da fome que morre e mata.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Novembro raro

A chuva como de costume
Faz o seu papel
Cai das nuvens
Suspensas no céu
Suspense no ar
Novembro raro
Eclipses solar e lunar
Sob o signo de sagitário
As roupas atraiçoam
Nada mais é imaginário
Desnudam-se as pessoas
Cadeiras e moscas mudam de lugar.

sábado, 19 de novembro de 2011

Tempo de espanto

Séculos antes da elegia para a ecologia
e do estado sacro da hipocrisia
os índios já tinham se civilizado
os rios, límpidos, corriam
os ritos e mitos estavam longe de virarem manias
e o mundo dito selvagem ao seu modo era organizado.

Eu nutro intuitivamente um banzo
pelos dias de antanho
e o tempo me dissolve
para um tipo de tempo de espanto
de quando tudo era em preto e branco
eu existo antes de mil novecentos e setenta e nove.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O que a noite me traz

Estou gostando de ficar aqui
Depois de um frenético ano
A casa começa a morar em mim
E às novas mobílias vou me acostumando
Bem como a varanda virando jardim
Chamariz de pássaros e proteção do meu canto

Vou teclando o que a noite me traz
Sem que eu veja as teclas sujas de cerveja
Daqui a pouco acendo os castiçais
E derrubo os castelos de areia
Enquanto a lágrima não cai
Senão enlameia

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

O sonho é o lugar

O brilho do olhar
Pode ficar a qualquer instante
Fosco e sombrio

Aonde eu for andar
Por mais que seja distante
Um dia atinjo

O sonho é o lugar
Em que o depois se funde com o antes
Gerando o agora contínuo

Enquanto eu respirar
Nada será asfixiante
Apesar do salário mínimo.

sábado, 5 de novembro de 2011

Alguma vantagem

É um mundo selvagem
vendem-se as almas
e vendam-se os olhos
achando haver alguma vantagem

É uma cidade caótica
moramos em jaulas
à espera do espólio
julgando ser uma boa troca.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Outros tempos

Boa tarde, devo confessar
que estou com menos medo
e nem me sinto no mar
puxando água como cabelo
além das memórias absurdas

São outros tempos
agora há mais poros
e poucos impedimentos
o bom senso é o melhor protocolo
ontem ou anteontem foi o dia das bruxas.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A nuvem e o navio

Quiçá uma ajuda
Em caso negativo
O tempo molda e muda
O mundo é uma roda
E eu sou a nuvem e o navio

Pensei que a chuva
Fosse cair agora
As plantas nem andam murchas
Não faz calor nem frio
É só o caos que vigora

Mas não é motivo de pânico
Os coletivos seguem como latinhas de sardinhas
A miséria nunca chegou a ser um escândalo
E continuam as tragicomédias, os gols e as dietas nas revistas.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Familiar

Mamãe não mora lá em casa
Papai de vez em quando passa
Minha irmã já é casada
E eu vivo mais no lar da namorada

Com suor, giz e voz, mamãe aguarda o dia
Para ficar igual a papai na aposentadoria
Minha irmã nem pensa em ser titia
E eu sei que não dá dinheiro escrever poesia

Mamãe,
Papai,
Irmã,
Um dia o livro sai.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Nem tudo são flores na primavera

Nem tudo são flores
na primavera
vibra quem tem alergia a pólen
o equilíbrio impera
e a democracia transcorre
fácil apenas no discurso de espera

Está tudo bem
poderia estar pior
a chuva ainda vem
como há espaço no céu para o sol
e para aquele trem
que atravessa o túnel só.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

A outra mesma direção

Não estou mais morto
fora da zona de conforto
desde que a hora de verão
teve o seu começo
assim como aquele beijo
agora é a outra mesma direção

Entre sons da tevê
da intuição e das obras
intermináveis ao lavar a louça
sobra alguma emepebê
volto a me sentir renascido
para redigir um novo capítulo.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A cada dia que passa

Entre os diálogos onomatopéicos
Dos pássaros e dos marrecos
Vou sorvendo o ar campestre
Depois do resgate da praia na pele

Ouvindo canções quase ancestrais
Selecionadas com meu pai
Vou entendendo mais a vida
Enquanto ela é bebida

A cada dia que passa
Compreendo que esta casa
Não é só um mero esconderijo
Mas onde reconheço que estou vivo.

domingo, 9 de outubro de 2011

Meio confuso

Nada como o mar
Para me chamar
Ao que me nutre
Em sóis e sombras

Nado com o mar
Para me acalmar
Entre as nuvens
Depois das ondas

Caminhando sobre as pedras
Não as retiro
O tempo as esculpe
Em folhas, em páginas abertas
De um intrigante livro
Se eu segredar o final, me desculpe.

Sei que estou meio confuso
Acabei de voltar de Búzios.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Como hoje

Eu deixo o controle
Para que me console
Com sol e
Dias futuros
Como hoje
E limpo o prato fundo
No intuito de ficar forte
Junto com todo mundo.

Eu controlo a deixa
Para que me veja
Com a blusa em v já
Que falta pouco
Antes carecia mais
E é igual o copo
A água é com gás
Indico ar contra o sufoco.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

O grito não é à prova d’água

Sou um anjo
Mas nem tanto
As asas andam escassas
A minha casa me abriga
Do que me obriga
Enquanto a tormenta não passa

Razoavelmente insano
Tento romper a bolha no oceano
O grito não é à prova d’água
Embora pareça fadiga
Não sou de comprar briga
Como quem come e caga

Nunca vou me esquecer
De te aquecer os pés
Como quem não quer nada
Na hora de adormecer
A cachola cheia de porquês
E a cachoeira não acaba.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Faz tanto tempo

Faz tanto tempo
Que eu nem lembro
Se foi em julho
Ou em setembro
O grande mergulho
O mês é o de menos

Faz tanto tempo
Que fiquei sabendo
Dos meus sonhos
Ajeitados pelo vento
Daquele outono
Mesmo assim, eu tento

Faz tanto tempo
Que eu me apresento
Sob este verniz
Ferozmente sereno
Que pareço ser feliz
Falando o que não penso.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

No meio do nevoeiro

Meu amor me adverte
A respeito dos bueiros
Das pessoas reais e das marionetes
No meio do nevoeiro
Onde não é fácil
Saber quem está do meu lado

Minha advertência me ama
A despeito da paranoia
E do desejo de ficar na cama
A cada manhã que se força em ser nova
Enquanto me refaço
Na alquimia da fantasia em fato.




segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Em caso de emergência

Em caso de emergência
Mantenha a alma
Não como quem pensa
Em preservar a fauna
Para pô-la à venda
Às camadas sociais mais altas
Mas como quem não admite
Ser um zumbi sem apetite

Em caso de emergência
Mantenha a palma
Colada à outra, em clemência
À colossal sauna
Para deixar a temperatura amena
Aos animais da jaula
Onde um fiapo de voz resiste
À surdez de imaginários limites




sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Menos do que tanto

Não vou permitir que meus cabelos
Fiquem mais brancos
De graça
Sobretudo numa sexta

Tenho que pensar nos meus medos
Menos do que tanto
A dor sempre passa
Não segue inteira

Eu sei que não mereço
Estragar o que alcanço
Já fiz merdas crassas
Sem abrir depois a torneira.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Marasmos e temporais

Eu preciso sair da ostra
E não é pra ser um astro
Das colunas sociais
A arte me mostra
Feito estandarte no mastro
Entre marasmos e temporais

Estou em pleno processo
De redução das mil pernas
E dos quinhentos braços
Reconheço que é só o começo
Das revoluções internas
Dos intuitivos passos

Não tenho que colar a orelha
Ao meu coração
Para saber o que me diz
A luz do semáforo não será mais vermelha
Vou atropelar a razão
Prefiro ser feliz.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Fingindo ou tentando ser pacato

Acho que ainda não sei
Se o que aspiro
É o mesmo do que preciso
Meia dúzia ou seis?

Às vezes me pergunto
A que lei me submeto:
À do coração ou à do medo?
Na verdade, não penso noutro assunto

Parece que não capto
De imediato a resposta
Como se lhe desse as costas
Fingindo ou tentando ser pacato

terça-feira, 19 de julho de 2011

Reflexo, reflexão

Eu fico estupefato com o outro pela imitação
Perfeita de mim
Reflexo, reflexão
A flexão é o exercício do não para ser sim
Se eu sorrio
O clone me mostra os caninos
Que já foram mais alvos
Se eu choramingo
As lágrimas pintam
Através do quadro mutável
E eu não consigo secá-las
Passando o lenço apenas no espelho
Como se eu não tivesse cara
Um dia me tateio
E acabo sabendo que aquele cara
Intangível sou eu mesmo.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Um ser autêntico

Eis-me envolto
Em dúvidas
Feito as músicas
De péssimo gosto
Das rádios popularescas
Que impregnam como tinta fresca

Parece que a vontade
Supera a noção
Para recauchutar o coração
E chutar o balde
Sem a vã preocupação de machucar os sonhos
De que não sou dono

Diria que está prestes
A nascer um ser autêntico
Se eu não soubesse
Que sempre esteve aqui dentro
Igual a uma espécie
De grito amordaçado pelo acovardamento
De quem me rege
De quem dependo.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Ninguém ou você

Num lapso
Ou de veneta
Escrevo a lápis
Minha velha caneta
Na lápide
Através da luneta
Para me observar
E me obliterar
Até eu ser
Antes do que sou
- Ninguém ou você -
Serei alguém por amor

terça-feira, 12 de julho de 2011

A áspera espera

A áspera espera me tranquiliza
À parede lisa
E eu desço com lisura
Tenho medo de altar, de altura baixa
E nojo do arroto de caviar
Quando se come sardinha

A áspera espera me arremessa
À virada de mesa
Preciso andar com mesura
Agora que vivo sem mesada
Embora adore uma dose cavalar
Da sua doce companhia

Apesar da síndrome da nanica autoridade
E dos sorrisos alheios e cheios de dentes que só sabem ruminar
Um nanossegundo de probabilidade
É capaz de me perpetuar
Não como uma estátua
Onde os pombos se satisfazem
Mas como uma palavra
Grafada em cartazes
Corteses de tanta certeza
E dos meus poros transpira à espreita a áspera espera.

O sol é uma lua absurda

O sol atua
No papel da lua
Por trás dos véus
De nuvens e de pano
Não sai dos céus

O sol é uma lua absurda
Que nunca muda
É uma lua perenemente redonda
Que continua flutuando
A despeito das ondas

O sol se finge de lua
Nos dias de bruma
Porque quer ficar no palco
Para alastrar seus encantos
Afinal trata-se de um astro.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

De volta à cova e ao berço

Longe de onde estou
Eu me vejo
Feito meu jovial avô
De volta à cova e ao berço

Parece que sigo
O mesmo script
Sou meu pior inimigo
E o meu melhor revide

Como se fosse um ensaio
Repito as cenas
Cujos gestos e diálogos
Capto pelas antenas

Perto de onde estarei
Cato as migalhas de pão
Da estrada em que já passei
Com quem sempre me deu a mão.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

A sagrada arte da pachorra

Eu me calo pelos cotovelos
Procuro ovo em pêlo
Tenho problemas de calúnia
E processos por diáfana ação e coluna

Não há filosofia melhor
Do que levar a vida com amor
Se a situação anda sinistra
A respiração branda administra

Contraio experiências
E não me traio mais com expectativas sonhadoras
Agora me distraio apenas
Com a sagrada arte da pachorra
Assim atraio aquelas coincidências
Que de fato são coisas sincrônicas e boas.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Até tudo se tornar pó

Eu não careço nutrir
O sôfrego medo
Nem quero ser faquir
A fome chega mais cedo

Nada como um sol
Depois do outro
Até tudo se tornar pó
Ou ouro

Há uma nova chance a cada dia
Não consigo enganar meu humor
Eu sou a minha fisionomia
Está na cara, sacou?

quarta-feira, 22 de junho de 2011

O tapete de sal

O tapete de sal
Vai alçar voo
E realçar o sabor
Dos elementos

O tapete de sal
Vai me temperar
E me temporizar
A qualquer momento

O tapete de sal
Fará chão do céu
E clarão do véu
É uma questão de tempo

O tapete de sal
Não salgará a cotação
Nem sangrará o coração
De quem segue vivendo

terça-feira, 21 de junho de 2011

A língua do sonho aliado

Preciso aumentar a minha imunidade
Diante desta nulidade
Apelidada de humanidade
Desde muito cedo

Não sei o que fazer comigo
Além de encontrar perigo
E de contar com os amigos
Que se contam nos dedos

Eu nunca pedi a participação
Deste mundo em corrosão
Onde o dinheiro é a razão
E a toxina do impagável enredo

Quando eu estiver inumado ou incinerado
O papel sujo fará seu papel tão admirável?
Eu tenho que soltar a língua do sonho aliado
E as rédeas do medo.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Nenhuma segunda

Nenhuma segunda é fácil
Pelo menos a de hoje
Está a três dias do feriado
Por mais que a ressaca enoje
É um fato a ser comemorado

Não há a felicidade plena
A danada sempre foge
E eu me consolo com poemas
Em ode ao sol que se põe
No seu colo de pele morena.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

À procura do que me busca

Só compro ordens
Embora sejam gratuitas
A cada manhã fortuita
Um novo totem
E a mesma labuta
Que parece não ter norte
Os sonhos me mordem
Com dentes de angústia
O despertador me cospe
Ao me pescar da candura
Que ainda perdura
Apesar da lei do mais forte
Eu não sou coisa nenhuma
A não ser aquele que engole
Brejos, berros e engov
À procura do que me busca.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

O que peço

Em exercício contínuo
Do desapego
Admito que o infinito
Supera o meu ego

Não serei o primeiro
Tampouco o último
A desejar o regresso
Ao útero

Pra saber o quão é verdadeiro
Ou absurdo
O que peço
Entre o berço e o túmulo

Choro palavras
Típicas de receita
Na lama lavrada
À espera da colheita.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Antes mesmo desses dias

Nestes dias em que estou desprovido
De óculos escurecidos
Faço minha mão esquerda
De viseira
Ao sair do prédio onde trabalho
Para almoçar calado

Antes mesmo desses dias sem ósculos
Eu já punha minha língua e meu imbróglio
No picolé de fruta
E nem tenho comido fritura com fartura
Compenso as poucas horas de descanso
No ônibus e aqui, esperando.

terça-feira, 14 de junho de 2011

O perfume da oração

Estou cruzando ciente
De que um dia atravesso
Por completo as nuvens
Da omissão

Não posso mais ser negligente
Nem me aliviar com versos
Paliativos, efêmeros e inúteis
Eis a missão

Sei que preciso seguir paciente
Domando todos os meus nervos
Para distinguir onde está o perfume
Da oração

Enquanto o sonho não se faz presente
Nesta dimensão a que estou servo
Escalo famélico em direção ao cume
Da ração.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Relógio cósmico

O tempo não é uma coisa
Para ser ganha
Trocada ou perdida
O tempo não se pega

O tempo é causa
E consequência que nos banha
Antes, durante e após a vida
O tempo nunca se desespera

Preciso voltar - ou começar - a seguir o relógio
Que não seja o mecânico
Mas o cósmico
Como ensinou meu avô

Eu me mato enquanto
Não vem o instante lógico
Em que estarei sempre me tornando
No que sou

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Sobre a minha pessoa

Não me importa
O que os outros pensam
Sobre a minha pessoa
Há uma celestial abóbada
E as estrelas que despencam
Belas como moças

Não me interessa
O que o mundo acha
Do que se passa na minha cabeça
Correntes elétricas
Coerentes e inexatas
Para que os sonhos aconteçam

Porém já me preocupa
O que os meus hóspedes refletem
Com o coração e a cuca
A olho nu ou coberta de lupa em vez de culpa
A resposta correta não está na internet
Nem nos livros de autoajuda.

terça-feira, 7 de junho de 2011

A semana

O meu humor não mais me afunda
Hoje miraculosamente não é segunda
Torço para que a bonança aconteça
Logo nas primeiras horas de terça
Sei que a vida será melhor e farta
Quando acordo numa quarta
E a semana começa a ficar linda
A folhinha indica que é quinta
Já quero festa e tudo quanto não presta
Acertou quem pensou na sexta
Reconheço que agora os ponteiros passam rápidos
O sábio Vinícius degustou com poesia o sábado
E chega o dia em que nunca me resigno
Não é tão espetacular e fantástico o domingo.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Atrás de carne onde só há osso

Embora a segunda-feira esteja solar
Ainda sinto o sabor das cinzas
Do fim de semana

Eu apenas penso em voltar
Para me desintegrar na sua língua
Ao me entregar na sua cama

Daqui a pouco
É a hora do almoço
Talvez o tempo passe veloz
E eu não fique mais louco
Atrás de carne onde só há osso
A sobremesa é para depois.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Eterno circo vicioso

Além do vale-transporte e do vale-refeição
Vou pedir ao setor de benefícios da região
O vale-a-pena

Aos domingos, é matinê:
Um pão no chip com manteiga
E uma comédia, por gentileza.

É melhor pecar no exagero do que na omissão
Ágora de beber, ágora de beber, camará!
É o eterno circo vicioso sob a lona, no chão.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Salvem as balelas

Salvem as balelas
E o disse me disse
É o que alegam
As artes vistas do Greenpeace
Os ativistas também erram
Por mais que a cobiça pise
Nas raízes demovidas da terra
A certeza não é mais palpite
Salvemos as bruxas de Bruxelas
E os broxas resignados e tristes
Pintando aquela aquarela
Para que não se extinguem
Os stings, os raonis e os poetas
Após o sexo vinte.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Meu coração

Apesar da tarde gris
Meu coração está corado
E ancorado numa raiz
Que rasga a calçada e o asfalto
Onde se atropelam os pedestres
Os pediatras e os padrastos
Sob a chuva de sangue e confete
Meu coração está curado.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Os homens e os deuses

Há os homens de barro
E os deuses de carne
Moram no meu bairro
E já tiveram acne

Às franjas da minha revolução
As velas do bolo não correspondem
Mais à idade em evolução
As águas submergem a ponte
E o que se afoga
Já foi vivido com folga

Há os homens das nuvens
E os deuses da cédula
Vendem no fim dos túneis
Luzes que somente cegam.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Na papila dos olhos, na pupila da língua

Eu me mantenho
Através dos ossos
Dos pés e do silêncio
Enquanto a lua míngua
Na papila dos olhos

Eu me contenho
Do modo que posso
No gordo incêndio
Na pupila da língua
Lambendo os destroços

E quando a lua ficar nova
Mudarei meu visual
Deixando toda a sobra
Ao próximo funeral
Tento entender quem chora
É só mais um ritual.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Mesmo a esmo

Eu tenho tanta coisa pra fazer
Que nem sempre me lembro
E faço tanto o que não se ousa pra ter
A prorrogação do tempo
Que tendo ainda a crer
Na minha fase de crescimento

A despeito da chuva
No meio do fim de semana
Eu vou certeiro, mesmo a esmo, à luta
E abraço a campanha
Brindando com menos cicuta
Eu me embriago de esperança.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Aquele dia

Preciso limpar a mochila
Depois de cultivar a pachorra
Na quilométrica fila

Quero que chegue aquele dia
De deixar crescer a barba toda
Pra cortar a densa rotina

Sou assaltado pelo cansaço
Ao fazer de lixeira o cinzeiro
Com unhas, chicletes e enfados

Mas, tudo bem, eu passo
A bola, a roupa e o tempo
Em troca do seu abraço.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Daqui a onze mil dias

Quem me dera ter um dispositivo
Que me conduzisse
Apesar da imobilidade e da calvície
À velhice

Lá pela década de quarenta
Do século vinte e um
Atuarei mais no cinema
Do que no atual teatro dos comuns

Quem me dera estar vivo
Daqui a onze mil dias
Quando a aposentadoria
Não for mais utopia

Ao atingir os sessenta
E poucos anos
Vou diluir meus problemas
No oceano e na horta que já planto.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Para ficar mais perto

Ao passo que a minha alma caminha
Tendo a carcaça e a bruma maciça
Como quase imutáveis companhias
Vou me dopar e me topar naquela esquina
Para ficar mais perto dos breus

Confesso que eu me esqueço
Do sol que tenho aqui dentro
Para dissipar o nevoeiro
Serve também o vento
Para ficar mais perto dos céus

Enquanto ando
Ainda que sonâmbulo
Vou tateando
O que sonho tanto
Para ficar mais perto de Deus.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Sempre que é nunca

Enquanto a mediocridade ascende
Embora patine
Na zona de conforto novamente
Onde o confronto com a realidade não se define
Nada acende além de
Você e de mim
E as contas que se propagam
São pagas com o nosso din-din
A sobremesa não devia ser amarga

É meu natural direito
Querer que aceitem
O meu jeito
Eu careço que me acertem
No peito
Para que seja exposto
Em praça pública
O meu coração que fica fosco
Sempre que é nunca.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Sem o domesticado desespero

Sentado no trono
Lembro que existo
Sob o olhar pronto
De Jesus Cristo
Sempre que deixo
A porta aberta
Sem o domesticado desespero
Das antimetafóricas cadelas
Eu acordei antes do sol brotar
Longe do ocaso ao contrário
E minha irmã há de me dar
Um presente extraordinário
Algo que recompense
O tempo em que passei absorto
Cuidando dos seus pertences
Ela tem bom gosto.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

O melhor dia que já houve

Vou te contar
No quinto andar
Que sei imitar
E do quinto pavimento
Que eu sinto e não me contenho
Contanto que eu firme
Contigo um contrato
Para uma viagem com direito a um filme
De roteiro concretamente abstrato

Canto de modo quente e contente
Ao constatar que consta um contato
Com o tato do grande teto
Com as tetas que ordenho
Tantas tintas tontas que tento ordenar
No fim das contas
O desenho é a senha do sonho
E o melhor dia que já houve
É hoje.

A cada folha extraída

Uma manhã a mais
É uma noite a menos
O sol sempre sai
Apesar do céu cinzento

Os olhos salientes de criança
E nada silentes da minha cara
Veem para além da ganância
De quem se vende por nada

Na hora do caldo
Com as cartas à mesa
E o coração na boca

Vou saber se o saldo
Estará com a luz vermelha
Ou se a bazófia foi pouca

A cada folha extraída
Do caderno e do calendário
Desconfio que a vida
Segue conforme meu itinerário

Enquanto o dia acontece
Tento ficar a par do que me abrange
Como se eu pudesse
Correr tanto quanto o meu sangue.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Na curta temporada da peça

Verto-me em lágrimas
Com cenas de novelas

Visto-me de máquina
Na curta temporada da peça

Veto-me ao não dar braçadas
Na cidade árida e submersa

Vendo-me por nada
Em nome da visão periférica

Vingo-me na estrada
O tempo de carona atropela

Valho-me com palavras
Impressas e expressas às pressas

Venço-me a cada mancada
Quase ninguém erra

E volto para a minha casa
Onde a vida me espera

terça-feira, 26 de abril de 2011

Não sou mais

Eu não sou mais aquele
Muito menos o outro
Agora é apenas uma foto
Na cortiça da parede

Não sou mais quem me repele
Ele está oficialmente morto
Hoje em dia o meu modo
De ser me sacia a fome e a sede

Eu troquei de pele
Foi alto o fogo
E a fumaça me fez ver logo
Em vez da ferida, o bandeide.

domingo, 24 de abril de 2011

No domingo

No domingo de Páscoa
Eu dormindo em casa
Faço um pouco mais do que nada
Do que nadar nas marés das convenções

No domingo de Fla-Flu
Pó de arroz versus urubu
Quero abrir o apetite pra comer tutu
Em vez de ficar no muro das convulsões

No domingo de chocolate
Em que a preguiça late
A decisão pode causar enfarte
Melhor do que estar sob a mira das convicções.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Eterno a qualquer instante

Quando chegar o feriado
Eu quero me esconder no mato
Pra ver se mato as saudades
Da natureza

Quando pintar a folga
Preciso estar de volta
Ao que me invade
De surpresa

Quando eu acordo do verão
Com um bocejo de outono
Bebo um beijo do teu coração
Como um queijo com café longo

Quando aparecer o inverno
Com o frio que não mais me desespera
Sei que estarei eterno
A qualquer instante contigo pela primavera

sexta-feira, 15 de abril de 2011

O topete e o tapete

O topete anuncia
Episódios
Mais cabeludos
Contudo sem ódio

Eu quero bailar
Deixei de boiar
Agora mergulho
Na terra, no céu
Pra afogar o orgulho
E afagar o labéu

O tapete denuncia
Onde
Estive
Wonder

Eu espero bolar
Um plano
Em vez de pessoas
Sem mais bobear
Pra não entrar no cano
Do navio, à toa na proa.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

À espera do fim da peça

Coesão só rima com coerção
Quando é ministrada
Com lobotomia e paranoia

Já doei o meu coração
Para a nova trama sem traumas
Muito menos tramoias

Conto cada segundo
À espera do fim da peça
A fim de voltar pra casa
Onde eu me inundo
De calma em vez de pressa
Ao lado de quem me atraca
No mar de caos qual um cais

E quando eu saio do meu mundo
Pra fazer o que não me interessa
Tudo fica tão sem graça
Que eu penso que me iludo
Com a mesma velha conversa
De que o salário compensa pois paga
As contas, mas não as espirituais.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Sondando por enquanto

Eu tenho juízo
E não é algo
Que sempre utilizo

Eu mostro um sorriso
Nada cáustico
Somente preciso

Invariavelmente eu me levanto
Com a vontade de seguir o sonho
Sondando por enquanto
O que não significa cair no sono
Mas agir feito os anjos
No reconhecimento dos demônios.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Realidade implausível

Quero me entorpecer com películas
Não sei se estou com uma ressaca ridícula
Ou vitimado de uma overdose de fatos
Também aceito de bom grado
Uma dosagem excessiva de livros
Estou enojado desta realidade implausível
Ocorrendo como esgoto sob o céu em fenda
Não creio no fim geofísico do mundo quase sem saúde
Mas numa nova consciência
Ainda acredito na virtude
Apesar do próprio vício da crença
Que talvez me deixe impune.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Vontade de chorar iminente

Estou com uma vontade de chorar iminente
E não é por causa da derrota
Do meu Fluminense
Nem devido a uma suposta desilusão amorosa

As pessoas precisam mais do que nunca
De carinho e de respeito
Antes que fiquem malucas
Atirando em crianças a esmo

Eu sairia hoje à noite
Se não fossem as notícias
Do mundo sob o açoite
Do materialismo xiita.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Através do toque do vento

Não sou aquilo
Que tenho
Enquanto não aniquilo
Eu tento
Através do toque do vento
Saber me desfazer da ideia
De que as minhas posses
Apenas moram na matéria
Como se fossem
Entre pesos e poses
A completa definição
Do meu tutano
Em degradação
Se eu continuar me enganando
Se não me engano.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Gangorra e masmorra

Eu fico surpreso
Com o quanto oscilo
Feito gangorra
Ontem teso
E hoje tranquilo
O que não muda é a masmorra

Eu nutro uma esperança
De que todos os dias
Considerados úteis
Sejam como os do fim de semana
Com muita luz e folia
Fazendo jus ao que nos une

Reconheço que os extremos
Servem para que nos lembremos
Da existência do equilíbrio
Mesmo que pareça delírio.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Algum sentido

Eu acho que já achei algum sentido
No meu novo trabalho
E tenho a certeza do amor
Separando o meu caminho dos atalhos

Bato no teclado para não ficar abatido
No horário comercial
E o tempo nunca comprou
Relógio nos classificados do jornal

Escrevo trêmulo
Em qualquer espaço
Branco do papel
Eu sou de Gêmeos
Sei que não é fácil
Noticiar os fatos do céu.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Muitos rituais

Quando fico sozinho
Nunca estou só
Eu me divirto
Com alguns de mim ao redor
Depois entra na roda o restante
Diante da rotina enfadonha
Preciso desvendar muitos rituais
Como quem sonha
Por apenas um sentido e nada mais
Para que não seja uma morte agonizante.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Quando não houver mais chão

Pipocam religiões, igrejas
E fiéis convictos de terno
Enquanto mínguam gentilezas
Lotando com os bons desígnios o inferno
Não sou de levantar nem de dar bandeira
A pretensão da discrição às vezes é dramática
Eu creio que possa andar ainda à beira
E, quando não houver mais chão, crio asas
E quem me beija
A me levar para além da imaginação
É a minha fortaleza
Contra qualquer esquadrão.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Do que é ao que será

Muitas vezes eu me digo
Em tom de denúncia
Que ainda estou comigo
Não é que a exclua
Até porque você é a única
Que, sem malícia, me atura

Mas eu sou assim mesmo
O que não é nenhuma regra
De que darei sempre defeito
Enquanto a era acelera
A gente celebra e se lembra
Do que é ao que será.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Urbe e orbe

Preciso evitar o meu envolvimento
Com dramas e problemas alheios
Eu me ponho tanto no outro lugar
Que nem sei como voltar
À minha posição de origem
Entre nitidezes e vertigens
Às vezes dou a minha cara a tapa
Através de telescópios e capas
Confesso que tenho que me ver
Para me mover com você
Na poltrona da janela ou do corredor
Do ônibus ou do disco voador
Em direção à nossa urbe e orbe
Antes que mais nada dure ou sobre.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Pedra e isopor

Minha irmã sempre me pergunta
Sobre o itinerário dos coletivos
Enquanto a minha angústia
É uma pedra que tento fazer de isopor

Agora tenho uma janela
Para descortinar meus desvarios
E outros temas de novela
Que não sejam canções insípidas de amor

Já queria você antes
Do primeiro dia
Do nosso enlace

Somos tão semelhantes
Que eu nem acreditaria
Se me autossabotasse.

terça-feira, 1 de março de 2011

De mim, de você e da natureza

Assisto: observo e ajudo
Sendo servo do que me faz ficar junto
De mim, de você e da natureza
Apesar das vontades rasteiras

Os dias não são para sempre tão grises
Quanto os meus atuais cabelos
O que não é nenhuma crise
Do tempo, quiçá do espelho

Já que há outros entretons
Hoje adormeço os marasmos
Com hipnóticos danados de bom
Em vez de andar sem entusiasmo.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Em busca do sol

Quem me provoca
Mais do que eu
A não ser a própria pessoa
Que deve ser eu?

Espelho, espelho meu
Será que há alguém neste recinto
Mais parecido comigo
Do que eu?

Enquanto faço perguntas
Com respostas prontas
E aparentemente nulas
Descubro que a vida não é só um faz-de-conta
Para quem pula em busca
Do sol abolindo aquelas velhas sombras
E águas frescas coisa nenhuma
Porque ficam sem onda.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Filtro

Admito que seja preciso
Em caráter de urgência
Fazer um filtro
Apenas do que vale a pena

Senão eu me lavo
Em plena cisterna
Sem saber o lado
Aonde vão as pernas

A minha cabeça fervilha
De tantas ideias
No intuito de me mudar de ilha
Contanto que não vá para outra cadeia.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O céu e as pessoas

O céu segue
As pessoas de pileque
E as que bebem jamais

O céu escolta
As pessoas soltas
E as que só olham pra trás

O céu acompanha
As pessoas subterrâneas
E as que plainam no ar

O céu comboia
As pessoas boas
E também as más

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O dinheiro

O dinheiro não é o fim
Mas o começo do mesmo
Reconheço que deva existir
Menos acaso do que esmero

Quando o dinheiro é resultado
De algo feito com brasa
Não se trata de perdão nem de pecado
Tampouco de causa

Dinheiro não pode ser
Apenas o escopo
Por mais que soe clichê
Não se bebe todo o mar num copo.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Ilusões ilesas

Como você
Embora mantenha
A minha identidade
O meu ser
Longe das maldades
Do sistema

Tenho vicissitudes
Assim como (?)
O ornitorrinco
Tem as suas virtudes
Eu brinco e finjo
Que sou tonto.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Sou eu quase

Sob este clima senegalesco
Tenho acordado cedo
Em alvoroço alvoreço
Com amor derreto o gelo do medo

Há um sol para cada pessoa
E nem todos cintilam
A vida pode ser boa
Fanfarrona e tranquila

Quem me aconselha
A sentar à direita
(Sem conotação política)
Do ônibus na ida?

Sou eu quase
No intuito de que o oásis
Não seja só no túnel
Em menos de um minuto.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Hoje em dia

Não deixo mais as latinhas
Sobre a pia
Não é lixo

Tenho poucas noites sozinhas
Hoje em dia
Estou mais comigo

A ficha ainda está para cair
E eu uso cartão e celular
Os bons auspícios pintam por aí
E os hospícios fecham, mudam de lugar.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Tudo condiz

Provido de fé e luz
Tudo condiz
Com o que me conduz
Menos falaz do que feliz

Quando a peçonha da audácia
Era vendida na farmácia
Eu não tinha a receita,
A eloquência perfeita.

Aos poucos, assimilo
A boníssima nova
Que me deixa tranquilo
Mais pro berço do que pra cova.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

A borboleta azul

Camisa abotoada
Para dentro da calça
Não estão grandes as unhas
Muito menos imundas

Com a barba feita
Além do pensamento positivo
Intuo que esta segunda-feira
Não seja só um dia qualquer após domingo

Parece que a borboleta azul
Vai me atender nesta ocasião
E a canção não será o mesmo macambúzio blues
Mas um contagiante baião.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Uma fresta

Desconheço
Se o desejo me deixa
Indefeso
Ou se sou eu mesmo
Que me mino
Mas não há mais tempo
Para queixas
Típicas de menino

O arco não escolta
Só arremessa a flecha
O alvo esvaece
E volta
Sempre que aparece
Uma fresta
Através da porta
Ou janela.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

A par de quem devo matar

Saindo da zona de conforto
Podo o que nunca pude podar
Para não seguir morto
Eu me ergo a par de quem devo matar

Sei que tenho que estar livre
De mim, do ego, dos que me fizeram
Ser assim até agora a fim de
Fugir desta consentida cela

Após tantos anos de aprendizado
Entre tentativas e erros
Preciso ir a um ponto mais elevado
Do que onde me soterro.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Da montanha de curvas e degraus

Se não me movo
A despeito da internet
Eu mofo

Não posso me dar bolo
Porém não é diabetes
É pra não virar bolor

Não é que eu esteja insatisfeito
Tenho amigos, cabelo, família
Saúde, sede, fome, emprego
E alguma subfama pelo carisma

Mas eu não atingi o auge
Da montanha de curvas e degraus
Para fluir até lá nunca é tarde
Quando se sabe fruir o caos.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

A fim de não ser mais o que serei ou fui

Tenho me cuidado na ducha
Para não bater os cotovelos nas bicas
E secar a toalha no varal
Aprendi gamão nos dias de chuva
E as plantas não morreram ressequidas
Não adianta beneficência apenas no Natal

Desde a época da pedra, a idade dilata
E a amizade diminui
Somente em quantidade
O que invariavelmente me mata
E me molda a fim de não ser mais o que serei ou fui
Tirei o bigode apesar da moda da continuidade.