segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

As ruas da cidade natal

 


As ruas da cidade grande

Onde eu nasci

Têm cheiro de pressa

Competição e xixi

No ranger dos dentes

No rancor dos motores 


Os sonhos menos distantes

O desejo demanda cuidado 

O desenho depende de mim

Quando me interessa 

Quem é indiferente

Sente as próprias dores


As ruas da cidade natal

Estão com mais carros

A cada momento é mais fatal

Há tempo depois do fim

Há jeito de ir em frente

E fazer luz no breu da noite 


Quando mato os traumas

Lembro que sei ser feliz 

Não sou membro do clube dos fantasmas

Nem aderi ao partido dos zumbis

Nasço mais uma vez perene

E calço o caos para dias melhores.






terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Cansei de beijar o quase

 




Cansei de beijar o quase

Quero atingir o que se sonha

Basta de tantos momentos

De vontade estanque

Desde a infância

Egoísmo neste sentido não é coisa feia


Para voar, há de se perder a base

E verificar se funciona

Pelo menos, em pensamento

Respirar paz e ar em vez de pus e arame

E se espiralizar na fragrância

Do milagre que não se freia


Como se não bastasse

Passar vergonha 

Na própria linha do tempo

Há gente que precisa ampliar o vexame 

E se jactar da ignorância 

Na timeline alheia.






sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

Quando tudo soar ruim

 



Não deposite

Toda a sua felicidade em mim

Tudo tem seu limite

Sua borda e seu fim


Não dependa

De ninguém além de você

O planeta não aguenta o sistema

Planejado pelas águias no poder


Não dê pânico

Quando tudo soar ruim

Há risos, rezas, riscos e prantos

Ficar alegre não é ser feliz


Não se deprima

Com as notícias que vê

A vida é uma esgrima

Que não se ensina na tevê.



segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

Não sabia

 



A minha fantasia

É que vire pauta

Do principal jornal 

A falta de autonomia


Do Banco Central

Tomara que mude a editoria

Ao término do carnaval

E da compulsória alegria


Verdades e disparates

Dividem uma quitinete

No centro da cidade

E se maquiam para a internet


Eu tenho saudades

De quando não sabia 

Que existia

Espelho às cegas


Cegueira assídua

Sonda sedada

Sendas, saídas 

Pequenas e extensas


Passos e palavras

Eu usava caneta 

E tinha pena

Sinto falta


De quando não sabia de nada

Nem da diferença

Entre o acostamento e a estrada

Eu não precisava


Vestir a fantasia

Entrar na fazenda

Nem fazer a barba

Ah, eu não sabia.






sábado, 11 de fevereiro de 2023

Amolada tesoura

 



Sinceramente não sei

De todos os vinis

Que emprestei


Que pedi e perdi

Os pensamentos tão vis

Que já perdoei 


Há quem converse

Sobre recorrentes temas

Inócuos e leves


E há quem tema

Os papos que fervem

Incandescentes problemas 


Às vezes falar a respeito

Do tempo, é, dele mesmo,

Pode causar aquele clima


Uma pancada de ladainhas

O comercial de margarina

É o tradicional pretexto 


A felicidade é sintoma

Não do sucesso, do sucedimento 

Mas do êxito, do êxodo 


Eu usaria até mullet e roupas cafonas

Para que voltassem os bons tempos

O resto é paisagem de subtexto 


Eu levo as memórias

Ao salão de beleza

As unhas se lavam e se cortam


Assim como a cabeleira

Com a amolada tesoura

Sou Melo, sou Moreira.





quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

A vida pede carona



Na paquidérmica turnê

Nos desertos lotados

Nos parques, nos porquês 

Das catracas dos rolês


Nas traças, nos lastros

After não é matinê 

A viagem arfa e é longa 

Sem lenga-lenga, ao meu lado


A vida pede carona

A poesia é de quem sonha

Babando acordado pra ver

Além e aquém da redoma


Em virtude dos vidros

No lustre, no telhado

Na portaria, no mister

Do mistério tinindo de tão nítido


Inédito itinerário 

Ao velho esconderijo

Que não me abandona 

Berro rebelde e calado


Destilado não é vinho

Para se perfumar à mercê

Dos estádios vazios

Entre sóis nublados e sombras


Longe da empatia blasé

Onde é dia-a-dia, onde é íntimo 

Estou comigo, eu vou com você

A companhia se encontra.