sábado, 28 de março de 2020

Graças ao ócio

Eu não quero voltar
Para a normalidade
Totalmente insana
Eu me situo no lugar
Onde ninguém invade
Nem seita, gado ou aliança
Eu não necessito retornar
À maratona da cidade
Tonta, notoriamente estranha

Merdas desprezíveis a comprar
Metas inatingíveis a cumprir
Prazos postergáveis a expirar
Prosas inefáveis a exprimir

Graças ao ócio, posso ligar
Para as arcaicas amizades
Resgatando a lembrança
Nunca tive tanto tempo para pensar
Na minha realidade
Repleta de utopias cotidianas
Minto, já fiz isso litros atrás
Aos vinte e cinco anos de idade
Mas caí no equilíbrio e da cama.

segunda-feira, 23 de março de 2020

Uma longa apneia

Uma longa apneia
Para atravessar o oceano,
O plantão e a floresta
Rumo à outra margem
Do Rio de já nem sei
Mais de qual mês
Em busca de qualquer ideia
Insight ou plano
Para planar sobre as quietas
Ruas do planeta, na cidade
Em que nasci e me criei
Do berro ao bom português
A situação está bem feia
O povo vem depois dos bancos
E eu confundo pressa
Claudicante com agilidade
Nestes tempos sufocantes, a lei
É respirar ao chegar a vez.

domingo, 15 de março de 2020

A fome é mais letal do que o Coronavírus

Um ser humano some
Pelo vírus da fome
A cada quatro segundos
Neste apetitoso mundo
Oito mil e quinhentas criancinhas
Morrem todo diabólico dia
Por falta de vacina
Sinônimo de comida

Se a fome dizimasse
Qualquer pessoa
Independente da classe
Social e de quanto tem na conta
Haveria uma mobilização
Como a contra o Corona
Caso a desnutrição
Não tivesse escolha.

terça-feira, 10 de março de 2020

No céu e no chão

Alienação
Como disfarce
Da irresponsabilidade
No céu e no chão
Está aceso o alarme
Do medo e da tempestade
De pé e no caixão
Sofrendo na carne
O caos e as sôfregas saudades.

segunda-feira, 2 de março de 2020

Das mesmas pautas

A serpente rasteja entre nós
Muitos idolatram
A sua mentalidade atroz
Agrotóxica e trágica
Vamos falar das mesmas pautas
Não pela falta
De assunto
Mas porque parecem surdos
Ao cotidiano cheio de absurdos
Que nos matam
Contudo se estivermos juntos
O sonho volta à prática.

domingo, 1 de março de 2020

E há quem

Vidas entregues
A domicílio
Ou na sarjeta

E há quem se cegue
Por necropolíticos
Covardes e caretas

O mundo está prestes
A mudar de cenário
Em vez da cabeça

E há quem se preste
A dizer o contrário
Das teses e receitas

A realidade não serve
Para os aplicativos
Que apenas enfeitam

E há quem me leve
A crer nalgum sentido
A criar qualquer certeza.