sexta-feira, 26 de abril de 2024

O odor do descupinizador


Mesmo depois de respondidas

Todas as questões científicas

Prosseguem ilesos

Os problemas da vida

Todos os dilemas intrínsecos e alheios 


Não consigo ser polido 

Com quem não leva a sério 

A opção pelo fascismo

Desprovida de mistérios 

A vida não precisa da fé


Custa tanto ser inteiro

Poucos têm a luz ou a coragem 

É muito caro o preço

Do abraço de um mundo qualquer 

Na tentativa de matar as saudades 


Renúncia completa 

Da busca da segurança 

Correndo o risco da queda

Como uma criança 

Como o que se é 


Aceitação da ansiedade 

Como parte da existência 

O flerte da dúvida e do blecaute

Como bilhete da competência

Área de escape nunca vem tarde


Na batalha diária, vontade ferrenha

A alegria forçada é um porre

Capacidade de total anuência 

De cada consequência

Do que se vive e do que morre 


Nome único, outra pessoa 

Horizonte translúcido perto de mim

O odor do descupinizador me atordoa

Todavia remove os cupins

De uma vez por todas.


Humor não é um estado de espírito, 

Mas um ponto de vista 

Está tudo tão bizarro e esquisito

Que quase ninguém acredita 

Que estou vendo sentido.

sexta-feira, 19 de abril de 2024

Administradores


 Somente administradores 

Podem enviar mensagens 

Todos os exploradores 

Chamam os povos indígenas 

De índios selvagens 


Todos os saqueadores 

Da natureza são facínoras

O resultado nos arredores 

Reflete a selvageria 

Dos acionistas e credores 


Desde a monarquia 

Aos dias de hoje

Aliás o dezenove 

De abril é a data

Dos primeiros ecologistas


Defensores da mata

Dos rios impolutos

Dos ritos sem farsa 

Dos ritmos oriundos

Da chuva, da carta


Emitida do lado de cima

E a tribo dita civilizada 

Mata os povos indígenas

Pela tecnologia avançada 

Com humanidade ínfima


Civilização selvagem

Não imagina que também morre

Mamãe, papai, alguém da torre,

Quando termina a viagem?

Só administradores enviam mensagens.



quinta-feira, 18 de abril de 2024

Vida longe, vida aqui, vida até

 

A vida não é a vivida

Mas a recordada

E o modo

Com que me recordo


Para contá-la

Vida longe, vida aqui, vida até

A vida lembrada

É a propriamente dita


Que serventia tem, gente boa,

Se creio ou não em Deus?

O que se leva em conta é 

Saber se Deus bota fé


Na minha pessoa

Luzes, penumbras e breus

Nenhum amor ou paixão 

É capaz de atingir


O esplendor, a perfeição

Ao procurar no seu par

O que só rola encontrar 

No interior de si


Vida longe

Vida que se esconde 

Vida aqui

Vida souvenir


Vida até

Uma vida qualquer

Toda a minha vida

Memória, mobília. 



segunda-feira, 15 de abril de 2024

Bulevar dos comuns

 

Quanto mais vi da grande peça 

Menos pude caber no seu elenco

Tento, falho, não me interessa

O tempo voa se fingindo de lento


O tipo de prosperidade 

De que careço

Não é fazer o que tenho vontade

Mas não fazer o que não quero


Todos nascemos insanos 

Continuam assim alguns

No passar dos anos

Pelo bulevar dos comuns


Tento mais uma vez só

Fracasso novamente

Um vexame melhor

Mais fresco e quente 


A virtude plena

Anula o indivíduo

Com veemência 

Da mesma maneira é o vício


Através da indolência 

E da ostentação 

Oriundas da intransigência 

E da tentação


Uma experiência profunda 

Nunca, nunca, nunca é serena

Quem argumenta alegando poderio usa

A memória no lugar da inteligência 


O que seria da marmita 

Sem o forno de micro-ondas? 

Uma boia fria, todavia

Não me afogo de fome nem de ondas


Só quem provou sabe como é 

Um híbrido de satisfação 

E tristeza depois da refeição

Sobretudo sem café


Todos estreamos loucos

Prosseguem assim alguns

Bolados, estranhos e soltos 

Pelo bulevar dos comuns. 

sexta-feira, 12 de abril de 2024

Embarcação mundana

 

A Terra é azul

A terra é preta

A terra é humilde

A Terra é um planeta 


A Terra é sobre-humana 

É divina, é soberana

Da terra vem a planta

A terra é húmus 


Embarcação mundana

É o barco, é a canoa

Em que todos estamos

Todas as pessoas


Más, neutras e boas

A Terra é o nosso exílio

A Terra é o domicílio 

De todo mundo


A terra é adubo

A terra gera

Trabalhador e vagabundo

Banqueiro e poeta


Se não cuidarmos dela

Todos os lares

Podem ir pelos ares

E não haverá terra


Para enterrar os mortos

Para abraçar os nossos

Muito menos guerra

Na nossa casa


A Terra é azul

Segundo o astronauta Yuri Gagárin

Em doze de abril

De mil novecentos e sessenta e um


A Terra é o ninho

É o nosso planeta

A nossa placenta

Lugar comum


A Terra pede paz

Da cor do céu e do mar

Antes que seja

Tarde demais


A nave navega

A terra é preta

Geral nasceu nu

A Terra é azul.



quarta-feira, 10 de abril de 2024

Consolos e sinônimos

 

Vamos ser marginais

Mergulhando na paz

Carvão e diamante

Ancião e infante


Contrastantes e iguais,

Diamante e carvão

Do mesmo carbono

Infante e ancião 


É um grito afônico

Sejamos menos distantes

Tudo é virtual e virtuoso demais

O tédio não tem nenhum instante


Para entreter quando nada se faz

Pelo apego ao abandono

Pela franqueza de ser feliz 

Para entender a fraqueza do não


A fim de que a arte finque

A sua fortaleza, os sonhos

O seu estandarte aqui

Com Drummond, Tarsila, Chico, Leminski


Caetano, Lennon, Vinícius, Rita Lee

Pessoa, Dali, Gil, Frida e Kandinsky

Traduzindo anjos e demônios

Salvando mais do que religião 


Choro e gargalho por pura bobeira

Para chegar ao coração eterno

Que bomba um mundo meu

O milagre é o dia seguinte


Os galhos da árvore chegam ao céu

Quando as suas raízes beijam o inferno

Escrevo com ares e teclas

Sou sustentado pela cabeça e pelo chão 


Não me atirem balas nem pedras

No cotidiano de gala

Na raridade de praxe

No eclipse às claras


Sulamericano poeta

Achando saudade e graça

Protocolo e coragem 

Maldade e perdão


O passado não volta mais

Do que o desejo de retorno

A energia se manifesta 

Vamos estar à margem


Do albergue, fora da cidade 

Iceberg no forno

Tudo o que foi já era

Agora será um tempo atrás


Assim a arte deixa

Consolos e sinônimos 

Na sua geladeira aquele recado

Com Pagu, Milton, Machado, Raul Seixas


Gullar, McCartney, Quintana, Picasso

Kubrick, Cacaso, Lispector e Bandeira

Vento, projeto e acaso

Dando sentido, alívio e direção.



segunda-feira, 8 de abril de 2024

Mania de perseguição


Mania de perseguição
Dos próprios sonhos
Com lápis à mão
Logo os sonhos também

É um sermão, é um colapso
É uma façanha, um engodo
Uma mecânica, um contrato
Tive infância, eu sei

Está ao lado a renovação
Do mundo hediondo
Relato da autodestruição
O dinheiro é a lei

Já se decompondo
É mister, é preciso
É um dever, é um estrondo
O pedido para mim e você

Apesar da escuridão
O ar vem com uma espécie
De prece, de vento novo
Não só parece como é a vez

Para que a mente pesque
Numa preciosa imaginação
Pela sinapse feliz dos neurônios
Dos canis aos ateliês

Mania de perseguição
Dos meus objetivos
Sou objeto, carne, dente, osso
Louvo a cor da minha tez

E me movo pela respiração
Não tendo, mas sendo espírito
Ar, terra, água e fogo
Alguém fará o que nunca fez

Eu quero usar a camisa
Escolar assinada no fim do ano
Até rasgá-la com o meu tamanho
E nostalgia daqueles futuros dias.


sexta-feira, 5 de abril de 2024

Nunca somos nós


Nunca somos nós

Quando há multidão 

Não nos vemos mais

Na fila do pão


Estamos sós

Desenganos, eclipses

Desígnios comerciais

Clipes musicais, delírios 


Da velha televisão

Evito dar tanta audiência 

Aos telejornais e às crises

Autoproteção não me aliena


Dos canais que transmitem 

Pautas banais

Falta de evolução 

Falhas nos acordos de paz


A violência vale

Para os covardes

Eu preciso sempre ir à praia

Para me lembrar por dentro 


Renascer, chocar, ficar me vendo

E me lixar para o trauma

Remédio e veneno 

No mar mexido e com calma


Nunca somos nós

Quando há outras

Peças e pessoas

Que são os reais nós.



segunda-feira, 1 de abril de 2024

O que tem de ser


 O que tem de ser 

Possui muita potência

Apenas em mim e em você

Pulsa o poema


Por mais que me esprema

Eu não exprimo 

A solução do problema 

Meu irmão é um primo


Revelo todos e ninguém

Pela metade, pelo meio

Ambiente do pensamento

Quem sente saudades de mim, quem?


Sou um humano poema

Feito de luz e sombra 

Com permanência pequena 

A noite é uma fenda longa


Mas olho para o alto

As estrelas anotam

Sem entender, eu abro 

Novas manhãs, janelas e portas


E neste exato momento 

Alguém me adivinha

O contratempo é do tempo 

Entre idas e vindas


Entrego tudo o que sei 

Pela sorte, pelo terço

Do que desconheço

É forte o que há de ser.



sábado, 23 de março de 2024

Um jogo de instantes

 

Não sei se eu já 

Não estou aqui 

Tampouco lá

Em qualquer lugar, por aí 


Antes de zarpar

Eu fico no ar e me finco no mar

Quiçá a alma

Desatraque antes


E não saiba 

O destino da jornada

Um jogo de instantes

O arbítrio é livre


Ignoro se já não estou lá nem cá 

Eu fui montando o meu filme

Para quem sou agora

E os meus enganos, inclusive


São frutos de escolhas

Não padeço dessa frustração 

De não ter sido outras pessoas

Minha vida ainda está na sucessão


De ocorrências de coisas

Que escoam das minhas mãos 

De uma maneira bem particular

Permaneço envolvido no poema


Nos dias feios, nas horas boas

Sem o dissabor de não virar

Interesses alheios, outras folhas

No solo duro da existência.



quinta-feira, 21 de março de 2024

Alma de borracha

 

Esterco no jardim 

Flores no pântano

A vida é assim

Vai se levando 

Que ponto de inflexão

Nem sei dar a dimensão

Precisa do amor e da ajuda

Quando Francisco Arruda

Tricolor do Ceará, meu tio

Deu para mim

O primeiro disco

Dos Beatles que ouvi

Alma de borracha 

Que nunca se apaga

Com as lembranças 

Dançando rock, break, samba

Pagode e forró 

Foi-se um bloco da minha vida

Da minha infância de uma vez só 

Agora passa uma fita

Casa de vovó Elita, saudades, vó!

Picolés de amendoim

Eu correndo do Barão 

E o primo Victor, de mim

Paco, Macaca e Pantera

Banho de mangueira 

Jackson do Pandeiro, Gonzagão

Fagner, Bebeto, Raça Negra 

Gol a gol com tio Ivinho

Churrasquinho, coração 

Na Arena Cardeal Mazarino

Onde meu pai foi criado

Ah, eu fui feliz mesmo

Eu sinto, agradeço e falo

Antes, durante e depois

Sempre que comer um torresmo

Ou um baião de dois 

Em Jaconé ou em São Gonçalo

Na praia ou à mesa 

Eu estarei com Tia Tereza

Ah, que tristeza parruda!

Descanse em paz, tio Arruda.


quarta-feira, 20 de março de 2024

Não sou mais aquele que me foi

 

Câmeras de monitoramento

Câmaras de gás 

Camas de espreguiçamento 

Ah, manhã fugaz 

Quem está de olho? 


Oh, como sou vulnerável!

Não sou mais aquele que me foi

Adeus, meu medo é superável

E nasceu comigo em Niterói

Contorcendo o rosto 


Quem tem satélite 

Controla quem só intui

À flor da pele

O sangue cego flui

Com a saga que segue 


São grises os céus azuis 

As crises também servem

Os lapsos de luz

Pedalam de tão serelepes

Não me esqueço da minha Caloi


Quem tem sol

Ilumina o porão

De poeira, poluição e pó 

Quantos esperarão 

Pelo super-herói?


Estes dias dinâmicos

Só se parecem com pressa

A clareza, sim, a certeza em si

Não despreza a conferência 

Nem a confusão dos trânsitos


Sonhos se tornam realidade

A natureza não daria incentivo

Nem incêndio a tê-los vivos

Sem essa possibilidade

Cadê a paz daquela promessa?


Serenidade não é tédio 

Tampouco calma é inércia 

Relaxamento no empenho

Dispenso os excessos

Pensando fora do cabresto


Vai longo o tempo em que água é direito

Em vez de mercadoria

Fica na maravilhosa cidade 

O maior porto escravagista 

Da história da humanidade.



sábado, 16 de março de 2024

O desejo de algo

 

Os piores tempos 

Já passaram da berlinda

Foram os melhores momentos 

Das nossas vidas


Cada ano dura menos

Do que doze meses

Uma dose de pensamento 

Dobra num dia desses


Parece trágico 

Não querer nada 

E o desejo de algo

É o eixo da estrada 


Eu não sei quantas vezes 

Fui sem ter vivido

Eu não sei quantos deuses

Ficam me ouvindo 


Os piores tempos 

Não serão os dias futuros 

Foram senhores ensinamentos 

Pontes no lugar de muros


Vivo como posso, 

Agora nunca é cedo

Porque tenho ideias

Do nada e maturadas


Eu me julgo e me jogo

Jamais deixo que o receio

Do erro me impeça 

Do projeto, da jangada


Eu não sei quantas vezes 

Serei fora de senso

Eu não sei quantos deuses

Ficarão me vendo.



domingo, 10 de março de 2024

Thiago Magalhães

 

Thiago Magalhães 

É meu amigo

Desde as manhãs 

Adolescentes 

Do milênio passado 

Quando pegava carona

Apartamentos vizinhos

Fã de Madonna

Thiaguinho me apresentou 

Nelson Rodrigues 

A vida como ela é 

Boca de ouro

O beijo no asfalto 

Passávamos textos

Durante as aulas matinais 

Escrevíamos peças 

Teatrais

Vencedoras de festivais

A culpa é da sociedade 

Ou os laços sanguíneos 

Não são as fronteiras do amor

Editor e dublador 

Meu amigo pequeno 

Fica gigante no palco 

É um ator nato

Flor do teatro 

Meu amigo Thiago

Dos Santos Magalhães 

Desde as manhãs 

Adolescentes 

Do milênio passado.



sexta-feira, 8 de março de 2024

Oito de março

 

Aqui, nesta terra,

Oito de março

Não é feriado 

Nem dia de mera


Homenagem à graça, 

À maternidade e à beleza

Das mulheres, das musas

Inspiradoras da natureza 


É uma diária escaramuça

Eu mesmo me policio 

Para erradicar o machismo

Arraigado pela cultura 


O oitavo dia de março 

É uma data dedicada

À memória da luta, da batalha 

Das heróicas mulheres


Por melhores condições de trabalho

Pelo direito ao aborto 

Em prol da igualdade do salário 

Contra o assédio sexual e feminicídio 


Tais assuntos antigamente 

Eram escondidos 

Entre quatro paredes

Agora estão sendo discutidos


O oito de março 

É um dia para lembrarmos

Do combate permanente 

Das guerreiras de quem somos originários. 



quinta-feira, 7 de março de 2024

Uma infração de segundos

 

Não tenho disciplina por virtude
E sim como reação em virtude
Da minha negligência
Contemplativa urgência

Concilio para não sucumbir
Às minhas cóleras reprimidas
Já me feri nas férias daqui
E noutras esferas e vidas

Um singular minuto
De reconciliação vale
Mais do que anos de amizade
Aquele momento único

Feliz ônus novo
A poesia é uma infração de segundos
Vi no meio do povo
Mas tampouco quis me ler

Pareço gentil, quase bobo
Para velar minha escassez,
Banco o prudente quando não boto fé
E penso na mais inclemente conjectura

Minha compulsão, minha loucura
Pela ortografia, tipo assim,
Não é uma condecoração
De uma mente harmônica

Mas todo um combo
De simulação concebido por mim
Para perfumar o pandemônio
Do meu ânimo, do meu coração

Só sou pontual
Para que não saia no jornal
Que o tempo alheio
Não me importa

O amor não é um estado de espírito
Mas um signo, um segredo
Um significado, uma joia
O amor é um estalo disso, dissolvido.

segunda-feira, 4 de março de 2024

Caso não saiba

 

É impossível

Para uma pessoa

Aprender aquilo 

Que ela pensa 

Que já sabe

É um desperdício 


Quem mata o tempo

Desata a corda toda

Massacra a si mesmo

É uma pena

É um desastre

É um estrupício


Caso não saiba

Eduque-se logo

A existência passa

Sem truque, é um relógio 

Que não se repete

Café não é petróleo 


Tudo vira ilógico

Se você não se percebe

Entre remorsos e crises

A vida tem fases breves

Quase nada tem reprise

Abrace-se e abra os olhos.



sábado, 2 de março de 2024

O baile da alienação

 

O ser humano sempre 

Está com disposição 

De negar o que não entende

A sociedade moderna esquece


Que o mundo não pertence 

A uma única geração

O meu desejo é que pudesse

Aniquilar todos os pensamentos


Que são potentes venenos 

Ao meu êxito, velho texto,

Mas obtenho um tipo de satisfação 

Sendo indulgente com o que penso


Eu não quero dançar 

Antes nem depois da canção 

Apenas danço enquanto durar

O baile da alienação 


Quem se conhece 

Ingressa no universo 

Dos deuses, uma espécie 

Em extinção aos néscios


Eu não danço na prévia 

Nem no enterro dos ossos

Só danço durante a festa

Quando não sou feto nem fóssil.



quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

O presente


A arte do vaticínio

É muito difícil 

Sobretudo 

Sobre o futuro


Jamais vou ser 

Mais do que sou 

Tampouco desejarei 

Não aprendi a viver


Todos os dias aprendo

Desconheço tudo, meu amor

Apenas sei ir vivendo

Se o que faço


É engraçado 

Não preciso 

Ser engraçado 

Para fazer isso


Nenhum agrado

É um mal em si mesmo

Mas certas coisas capazes 

De tecer enlevos


Trazem consigo mais males 

Do que prazeres

Embora tente o resgate 

Daqueles tempos inocentes


O passado está em fuga

Com os deleites

Em direção a uma rua

Inacessível e escura


O que espero está ausente

Se não foi, não apareceu 

Porém é meu o presente

O presente é meu.



segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Tente perceber

 

Tente perceber
Basta ver
Tudo está
E brota aí dentro

De si mesmo
Em cada momento
Além de você
E dos seus meios

Ninguém mais
Ignoro outro alguém
Quiçá nem o tempo
Seja capaz de fazer

Você mudar para melhor
Sem medo nem desespero
Espere a volta do anzol
Apesar do tempo feio

Raia sempre e sem pressa o sol
Ainda que não possa vê-lo
Aguarde a revolução naquele setor
A ingratidão é presa da infelicidade

Os que flatulam e arrotam razão
Costumam ser os menos razoáveis
Antes da compreensão
É fundamental sentir a ideia

A falta de reconhecimento
É da tristeza, faz parte dela
A impressão é que nada tem senso
Trata-se de um erro.


sábado, 24 de fevereiro de 2024

Se você não é audaz

 

Se você não é audaz

A vida se contrai

Com a vontade grande

O que se vê vem e se expande


O meu gesto ou ajuste

É em relação a mim, 

Não ao mundo injusto, rude

Em putrefação, rumo ao fim


A vida na maior parte

É composta de sonhos

É legal ligá-los à ação

As portas se abrem


As coisas brilhantes, as artes

Não são vistas como são

Mas diante do que somos

Visitas do sim, talvez do não


Escrever é uma real necessidade

Ressignifica o escravizado silêncio

O mar precisa das tempestades

E nós, de conhecimento.



terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Busca na luz da bruma



 Busca na luz da bruma

Contra a trama daninha

A ilusão já se transmuta

E sem drama transmite a notícia 


A lágrima que desce

E sai da mumunha

Dessa vez é alegre

E dança a sua melhor música


Traduzir o estoque volátil em versos

Desde a hora do primeiro rock até hoje

Na trajetória táctil do projeto

Nasce, tropeça, rasteja, sobe e foge


Meu bem, positividade 

Não deixa tudo bem 

E na festa, como de praxe,

Não se sabe quem é quem 


Face ao risonho risco

Parece insanidade 

Porém é sonho, heroísmo 

Ou pura santidade


Colocar poesia 

Assobiar no vazio

O coração é uma bateria 

Um aviso sutil. 

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

Transmissão

 

A revolução não será televisionada 

Pela Vênus platinada

A transformação é interna

E pelo menos por inteiro


A esperança voa com pedras

A mudança perdoa de tão velha 

Há pessoas paupérrimas 

Que só possuem dinheiro


E há quem conte moedas

Contando sempre com amizade

Ou com burrice nesta idade 

As edificações do bairro onde cresci


Estão menores e quietas

Ninguém é mais o mesmo 

Eu sou estrangeiro aqui

Na casa no meio da estrada


Nos arredores, nos arremessos

Arretada, ampla e indiscreta 

A revolução não será desligada

Pelas ligas dos sacripantas e imbecis. 

domingo, 28 de janeiro de 2024

Espíritos

 

É uma pena que Mercúrio em Peixes
Deixe de ser um mero dado astrológico
Quem me dera se o garimpo pudesse
Ser apenas metafórico

A coragem não se cora
De vergonha ou timidez
É no coração que mora
A coragem cônscia da sua vez

Opa! Ocorreu um erro.
Estamos tentando resolvê-lo
O mais rápido possível, tente
Mais tarde novamente

O que temos não é roupa
Mas conhecimento somente
Ninguém nos rouba
Imateriais cimento e semente

Além de preços e pompas
Somos mais preciosos
Do que um diploma
Somos mais poderosos

Do que um cargo ou título
Trascendendo carnes, ossos
Crachás, cartilhas, remorsos, ritos
Planilhas, ramais e escritórios

Não temos espíritos
Não temos nem temamos o que somos
Nós somos espíritos
E o que somamos em sonhos.







quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

O parto

 


Por que nasci?

Por que eu vim 

Parar aqui?

Por quê?


Não sou nem serei

O único 

Ou o último 

A indagar, eu sei


Preciso seguir 

Perto de mim

O parto é assim

Sangrei, chorei e suei


Eu vou mexer

Na colcha de retalhos 

Na caixa da tevê 

Nas gavetas do armário


Para me rever

Viver dá trabalho

Ah, uma vez que errei

Sou perfeitamente falho.


Hoje há tantos informes inúteis 

Deixemos que os pensamentos 

Passem como as nuvens

Enormes no firmamento.


Todos nós, você e eu

Devemos cuidar da mente.

Quem não enlouqueceu 

Ultimamente?




quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

A vida é uma revolução



Não vou me alugar

Isso é prerrogativa 

Do destino que não se esquiva

Inquilino do lugar


Agora eu me lembro

Do quão não era fácil 

Viver adolescendo

Sobrevivi porque renasço


Há tempos me mantenho

No constante exercício 

De autoconhecimento 

Inteligência não é artifício


Religião paramilitar

E medicina antivax 

Não vão me adoentar

A saúde não vem de táxi


O óbvio é uma revelação

Caos não é bagunça 

A vida é uma revolução 

Antes tarde do que nunca


Não vou me alegar

Inapto para o exame

Rapto do vexame

Capto a chave pra me alegrar


Jamais é como se supõe 

Camadas da existência 

O que se corresponde 

Entre a resistência


E a persistência 

Transcende a própria rima

Nunca é do jeito que se imagina 

Como sempre, tipo ciência


O homem está imundo

E pensa que é um dos deuses

Existe outro mundo

Pulsando dentro deste


A intrepidez é a mola mestra

Toda vez é um novo início 

Não é uma vida péssima 

Foi apenas um dia difícil.



domingo, 14 de janeiro de 2024

Consciência conselheira

 


Consciência conselheira

Sem essa de ânsias

Nem falas falazes

Eu lhe dou os passos e as orelhas

Já fizemos as pazes


Orgulho, vulgo: desvio

Poços de ignorância

Tentadores vales

Não levo as dores e me viro

Verão que tudo se varre


Consciência conselheira

Sem exorbitâncias 

Nem fugas fugazes

Eu lhe devo a minha vida inteira

São dádivas da idade 


Em mim perdura a infância

Atrás das grades 

Que se enferrujam 

A engenharia se cansa 

A intuição não é dúvida


No espelho interno 

Não existe culpa

É incapaz o analfabeto 

De ler nenhum livro 

Até este exato minuto 


Quando a leitura invade o vazio

Quarto escuro 

E a taciturna noite parte

Com as cadavéricas certezas

Brumas de outro século 


Ah, consciência conselheira 

Lesões e lições de nós cegos

A luz brilhante incide na teia

Na bolha, na telha, na borra do ego 

A ilusão vai talhada e tarde


Sempre que vier

Sente-se à mesa,

Estale os ossos, tome um café 

Ou um troço qualquer e conte a verdade, 

Consciência conselheira.


sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

Silêncio na coxia

 


Silêncio na coxia

Os sonhos não são feitos 

Pelos rótulos nem pelas coxas

O céu esplêndido propicia 

A ousadia plena no peito

Uma estrela pousa


Aterrissagem da iniciativa

Postura do guerreiro 

Contra as obscuras coisas

Em prol da coragem na vida

O orgânico vai embora primeiro 

Antes do ânimo, da alma da pessoa


Quietude e telepatia 

O teatro está cheio 

De abutres, ratos e moscas

Miragem quase memória 

Morará aqui na casa um dia

Mais calma do que desespero


Hoje a onda é nova

Agora tudo se inicia

Está pronto o roteiro 

Graças ao mapa da rota

Gritos nas entrelinhas

No planetário inteiro


No fluxo das forças 

Do proscênio, da coxia

O futuro adentro 

A vontade que chora

Pela volta da alegria

Alegoria do tempo


Qual é a idade da Terra?

Quantos anos vivemos?

Na redoma da matéria 

Escuto o esclarecimento do silêncio

A despeito da sombra da psicosfera

Eu me mudo pelo amadurecimento


Mensagem em modo procela

Por dias mais felizes

Aquele mundo já era

Depois do apocalipse

Quando é o aniversário da Terra?

Quantos anos eu tive?



quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Ciente de que vim louco

 

Ciente de que vim louco

É a minha lente

Há pouco tempo

E não passa lento


Gente, sair do jogo

Pela tangente

É um livramento

E talvez seja rabugento 


Já fui diversos outros

Caí fora deste game

Eu me perco e me venço

Vivo feroz, vivo gemendo 


O mundo e o circo pegam fogo

Sou as chamas de alguém

Chamado, pensamento

Fleumático e me queimo


Já fui muito bobo

Palhaço, malabarista

Clássico, artista cênico

Diabólico e me benzo


Não posso ficar no conforto

No sofá, no bar, nas cinzas

Com sono ao passo que vou sendo

Em confronto com o bom senso


Já não sou nada nem novo

Contudo não sou velho ainda

Quanto mais vou, mais venho

Para a jornada interina 


Batem à porta, no meu porto, 

Maravilhas submarinas

Salvarão o desejo, saltarão do desenho

Embarcação a uma milha da minha


Já nasci livre e torto

Na peripécia da periferia 

Entre apocalipses, adventos,

Cicatrizes, inércias e feridas


Já estive nessa, já fui morto

Agora tenho gosto de vida

De perigo da lufada do vento

Que nem a fada adivinha.