O coração me bombeia
A visita de quem bamboleia ausente
A televisão me bombardeia
O partido do dinheiro
Nunca está rico o suficiente
Caem da prateleira os brinquedos
Os cacos cortam mais do que os dentes
Rasgam mais do que as unhas
Pendentes de calma e insones
Palavras se dissipam nas ruas
Piscam palavrões como ódio e fome
Inteligência é se agarrar à alma
Sem rogar por noites boêmias
Deixando chegar a luz imediata
Para resgatar poemas
Reaprendendo a bater palmas
Livre de razão e de outras algemas
Há promessas em excesso
E lembranças a mil por hora
Em abraços possessos
De esperança, embrasada espora
Várias vidas são vertidas
Em transes, em impunes mídias
Nos túneis não há astros
Nem chances de cuspe no chão
Apenas para o alto
Incontáveis rastros de vidas
De ficção, nuvens de fato
Plásticos dragões e esgotos
Drásticos contratos
Perigosos dados em jogo
Regado a gotas geladas de suor
O mundo pega fogo
Não rola se jogar da janela do quarto
Nem se perder pelo corredor
A realidade é uma fricção
Mudança na cabeça de bagre
Ponto de espanto, de inflexão
A dança do próprio milagre
Avança todo santo dia
Inúmeras praias virtuais
Quase nenhuma terra à vista
Galera, há tantas vidas
E guerras, silêncios de decibéis glaciais
Conversas cruéis e banidas
A bagatela de estresse
Agora se converte na paz, no amor
E no bem como se pudesse
Representar tudo numa peça só.