segunda-feira, 13 de maio de 2024

Se não fosse pelo poema

 

Se não fosse pelo poema

Pela música, pelos livros

Pela alvorada, pelo cinema

Haveria mais motivos

E motes para a loucura


A mente jamais descansa

Até abiscoitar a plateia 

Poetas são os que mantiveram 

Os olhos de criança

Os chinelos e a bermuda 


Não há uma melhor imagem

Sem capricho na imaginação

A lógica é um atributo das plantas

O rodo e o pano de chão

No ringue, no tumulto, na paciência 


A medida muda, mas o desejo não

Ignoro dois olhares

Que leiam o mesmo poema

Uma risada de mau gosto

Pode acabar com a personagem


No meio da criação sistêmica 

Do medo e do transtorno 

Desbloqueio da criatividade

A contradição cria vida

Todo poeta é pateta


Ah, se não fosse a poesia

Todo pateta seria poeta

Um larápio é julgado 

Um pouco mais temerário 

Do que um poeta, escrever é decidir


Um desenho no quadro

O espírito e o corpo

O escrito e o frenesi

A intuição é um sopro

Fresco do lugar comum 


Se não fosse pela pintura 

Da cabeça em letras

Terapêutica literatura

Balé das estrelas

Não teria sentido nenhum.



sexta-feira, 3 de maio de 2024

A manutenção da vigília

 

É difícil 

Viver de arte

É impossível 

Viver sem arte


Um dia eu atinjo 

A tal da estabilidade

E ficarei curtindo 

O tédio e a felicidade 


É difícil 

Ser eu mesmo

É impossível 

Deixar de sê-lo


Agora só depende 

Da minha vontade

A hora em que de repente 

O sonho se torna realidade


É difícil 

Eu sei, estou aqui

É impossível 

Desistir de ser feliz


Não adianta pingar

Adoçante na vista

Por um olhar mais doce

Nas páginas da revista 


Sob o sol

Sai o suor

Pano de fundo 

Plano de fuga


São vários dias

Sob o sol que chove 

E as chuvas que brilham

Para virar jovem


Não há a possibilidade 

De voltar ao século dezenove

Nem por curiosidade

Sob o céu que se move


Só o obscurantismo aprova

E a negligência suporta

O império da mediocridade

Não há outra forma 


A arte é uma impostora

Deliciosa e irresistível 

Com ela, nada é impossível

A arte é ficção poderosa


E com a dona

Não há quem possa

Quando a ficção não funciona 

É porque é realidade grossa 


A crença é enfadonha

E a dúvida, bonita

Por mais que se sonhe

A manutenção da vigília é a vida 


As coisas desejadas 

E aparentemente infactíveis 

Só podem ser alcançadas

Com uma pirraça tranquila


Os gênios são trovões,

Encaram o vento, 

Arrepiam peões e patrões 

E despoluem o ar modorrento


Recentemente, 

Ao longo destes indiferentes 

Dias estranhos

Passaram-se diversos anos.