quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

O desejo do espelho

 

Do lixo, do lírico 

Ao inequívoco equívoco

Há momentos em que nem o espelho

Deseja me ver belo ou feio

E sei me desenhar por dentro 


Não há nada neutro 

Há essências feito eu e você 

Evidências do fato e do fake

Em sã consciência só sei que

Está tudo fantasticamente bem 


Sou sim, sou singularmente alguém 

Nas primeiras horas da manhã 

Sempre é um novíssimo dia

Se há o passado e o presente, virá o amanhã 

Depois das trevas da travessia


Do mar de esperas e de caldos

Meu ser se eleva e não termina

Num lugar longe ou alto

Havia um náufrago e uma cisma

De que o espelho não me queria 


Havia uma onda e um tempo

Em que não entendia direito 

O espelho já me rechaçou  

Mas hoje vejo quem sou

A coragem vem do coração 


Havia um espelho em cacos

Em que me via aos pedaços 

Há imagens em que o espelho 

Mira as vontades e os desejos

Efeitos da mentalização 


Havia uma temporada 

Em que a tempestade me abrigava

Agora eu não desprezo

O reflexo do espelho 

Nem a minha reflexão 


Do livro, do líquido

Ao onírico capítulo

Há instantes em que o espelho

Não expõe o bastante

Propondo o uso do sonho, da visão.





quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

Prazer e felicidade

Trevas daninhas

Alvoradas à tarde

Antes do que jamais

Prazer não significa 

Felicidade, rapaz 


Felicito a minha vida 

Pela epifania

Pelo despertar do chão

Que por si só

É um tipo de perdão 


Por tanta alegria

Avessa ao sol

A versão pior 

Já jaz lá fora, querida,

O furacão devora 


Âncora do interior

Deleite não quer dizer

Prosperidade ou o nome que for 

É transitório o prazer 

Nos velhos reencontros 


Mesmos desencontros 

Um bônus de terror

Nas fúrias dos monstros 

Ferocidade e torpor

Parecia um sonho 


Mas era só ilusão

Na luz em equilíbrio, amor,

Caíram a ficha, o confronto 

Os livros e a razão

Em suma, o mundo todo 


Prazer não é sinônimo 

De felicidade ou paixão 

Porém parecia um sonho

O coração sai do porão

Sopra a poeira e o abandono. 


Luzes noturnas

Estrelas tardias

Antes do que nunca

Prazer não significa 

Felicidade nem culpa.


quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Vamos sair da normose

Os temas e as metas 

Não podem ser apenas metais

São da polpa as colheitas

Em vez da pompa e do papel 

Moedas mentais 


Tilintam do céu 

Viver é um sacro ofício 

Generosidade 

Não é desperdício 

Eu entendi que é hora 


De ficar fora

Da normose 

Apelidada de normalidade 

Atualmente me apavora

A ideia de tomar uma dose 


Do mar de peçonha, de algo

Que me deixa fraco

Mole e grogue

Eu piamente supunha 

Que era alívio ou remédio 


O sutil veneno 

Mas fui testemunha

Das perdas de crédito

Até então não estava vendo

Corria completamente cego 


Viajava e me perdia

Nos atalhos da vida

A Via Láctea

Não é a única galáxia 

Os objetivos não são só mentais 


Não mora no exterior a paz

Há várias Niteróis

Vamos sair da normose 

Vamos cuidar de nós

Radares, cumes, vales e drones 


Sobrevoando nos arredores 

Nuvens, anjos, urubus e pontes

Sobre o travesseiro, na travessa

Com o novo estilo de cabelo

Dentro do corpo, dentro da cabeça 


Vamos nos cuidar direito

Com coragem e carinho 

Eu viro um exército 

Comigo não estou sozinho

Voava plenamente cego 


Agora me visto de audácia e afeto

O sonho pertence à preguiça 

E o pensamento, ao trabalho

A religião dispensa joelhos e missas

As aves mostram o quão somos baixos.