É difícil
Viver de arte
É impossível
Viver sem arte
Um dia eu atinjo
A tal da estabilidade
E ficarei curtindo
O tédio e a felicidade
É difícil
Ser eu mesmo
É impossível
Deixar de sê-lo
Agora só depende
Da minha vontade
A hora em que de repente
O sonho se torna realidade
É difícil
Eu sei, estou aqui
É impossível
Desistir de ser feliz
Não adianta pingar
Adoçante na vista
Por um olhar mais doce
Nas páginas da revista
Sob o sol
Sai o suor
Pano de fundo
Plano de fuga
São vários dias
Sob o sol que chove
E as chuvas que brilham
Para virar jovem
Não há a possibilidade
De voltar ao século dezenove
Nem por curiosidade
Sob o céu que se move
Só o obscurantismo aprova
E a negligência suporta
O império da mediocridade
Não há outra forma
A arte é uma impostora
Deliciosa e irresistível
Com ela, nada é impossível
A arte é ficção poderosa
E com a dona
Não há quem possa
Quando a ficção não funciona
É porque é realidade grossa
A crença é enfadonha
E a dúvida, bonita
Por mais que se sonhe
A manutenção da vigília é a vida
As coisas desejadas
E aparentemente infactíveis
Só podem ser alcançadas
Com uma pirraça tranquila
Os gênios são trovões,
Encaram o vento,
Arrepiam peões e patrões
E despoluem o ar modorrento
Recentemente,
Ao longo destes indiferentes
Dias estranhos
Passaram-se diversos anos.
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