sexta-feira, 3 de maio de 2024

A manutenção da vigília

 

É difícil 

Viver de arte

É impossível 

Viver sem arte


Um dia eu atinjo 

A tal da estabilidade

E ficarei curtindo 

O tédio e a felicidade 


É difícil 

Ser eu mesmo

É impossível 

Deixar de sê-lo


Agora só depende 

Da minha vontade

A hora em que de repente 

O sonho se torna realidade


É difícil 

Eu sei, estou aqui

É impossível 

Desistir de ser feliz


Não adianta pingar

Adoçante na vista

Por um olhar mais doce

Nas páginas da revista 


Sob o sol

Sai o suor

Pano de fundo 

Plano de fuga


São vários dias

Sob o sol que chove 

E as chuvas que brilham

Para virar jovem


Não há a possibilidade 

De voltar ao século dezenove

Nem por curiosidade

Sob o céu que se move


Só o obscurantismo aprova

E a negligência suporta

O império da mediocridade

Não há outra forma 


A arte é uma impostora

Deliciosa e irresistível 

Com ela, nada é impossível

A arte é ficção poderosa


E com a dona

Não há quem possa

Quando a ficção não funciona 

É porque é realidade grossa 


A crença é enfadonha

E a dúvida, bonita

Por mais que se sonhe

A manutenção da vigília é a vida 


As coisas desejadas 

E aparentemente infactíveis 

Só podem ser alcançadas

Com uma pirraça tranquila


Os gênios são trovões,

Encaram o vento, 

Arrepiam peões e patrões 

E despoluem o ar modorrento


Recentemente, 

Ao longo destes indiferentes 

Dias estranhos

Passaram-se diversos anos.



Nenhum comentário: