quinta-feira, 28 de novembro de 2024

O submundo


 O submundo não é onde se situa

O inferno ou a intenção 

O submundo está com fome nas ruas

O submundo interno do coração

Famélico continua 


O submundo não é onde se encontra

O inferno ou o metrô 

O submundo pega um bronze na sombra

O submundo eterno do amor

Etéreo entre as ondas 


O submundo não é onde está 

O inferno ou o ostracismo 

O submundo trafega pelo ar

O submundo terno do abismo

Abrigo antinuclear 


O submundo não é onde fica

O inferno ou o cinema

O submundo é a vida 

O submundo ermo da consciência

Erro, medo e autocrítica 


O submundo mora

Nos hotéis de luxo 

Nas boates da moda

Nos lares do subúrbio 

O submundo incomoda 


A tradicional família 

O submundo explode agora

Em Londres ou Brasília 

É um ciclo de Saturno 

Um ciclone na ilha 


É um rito de passagem

A rota é do submundo 

Brota no ritmo da viagem

Berço em qualquer fossa 

No topo ou no fundo. 


segunda-feira, 18 de novembro de 2024

A ponte


Janela aberta

Novas lentes

Consciência desperta 

Descoberta na mente 

Olhos atentos

Passos tranquilos

Passou o tempo 

De fracassos e grilos

Refrescados por um temporal 

Campos e jardins

São aquecidos pelo sol 


No Oriente, no interior

A luz aumenta lentamente

Apagando as estrelas

Epifania dentro de mim

A despeito da dúvida 

E da desconfiança 

As coisas se despem 

Despencam e mudam

Constante é só a mudança

Daqui para frente

Desde aquela sexta 


Um estalo na mente

Estrada não é esteira

O instante se estende

De agora em diante

Depois que a caverna

Ficou cintilante

Fazendo asas das pernas

E presente do instante 

Já é concreto o sonho

Com o translado 

Para o lado cônscio 


Embarque efetuado

Bilhete singular 

Sob o sol, a caminhada 

Não é mais circular

Tampouco é esteira a estrada

Aqui é o lugar

Onde ocorre o encontro 

Hoje em dia

A partir de algum ontem 

Está claro o que não se entendia

Erguida a ponte 


E conquistado o ponto 

Colo ao que se despedaça

As coisas se despedem

O velho sol está se pondo

E o novo não se intromete 

Solo ao que se despetala

Vocabulário às favas

É rasa a comunicação 

Apenas com palavras 

Basta ouvir o coração

Que a ponte se ergue.



segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Na imersão da luz solar

De farda, inativo,

O capitão do mar

Observa a abdução dos navios

Na imersão da luz solar

Numa sala de estar ampla

Canários cantam

A bruma oculta a praia

Mas, numa visível rocha,

Uma cruz repousa

 

Figuras enceradas

Exibem belas roupas

Em vitrines da loja

Um jovem casal

Caminha pela rua principal

Olhando vitrinas

O governante de uma nação

Está em apresentação oficial

Um jovem casal anda na avenida


Maravilhas da natureza

São exibidas

Numa aula de ciências

Coelhos em vestimentas

Humanas perfeitas

Desfilam com decência

Uma rede vazia suspensa

Entre duas árvores esplêndidas

Um jovem par na alameda


Um químico conduz uma experiência

Diante de seus estudantes

O cupido topa

Acolhedor na porta

Do coração humano

Gelo em separação

De um lago congelado

Para uso no verão

Uma imensa praia


Uma costa rochosa intacta

Por séculos de dilúvios

Inspirados discípulos

Ouvem as palavras do conselheiro

Uma ponte em construção

Sobre um profundo desfiladeiro

Uma tortuosa carreira

Altera através de florestas

Gloriosas de outono


No salão de um castelo

Entes de olhos acesos

Gracejam alegremente

Um artista expressionista

Moderno pinta

Uma tela esquisita 

Um proletário em chamas

De paixão social 

Comove caravanas


Um estadista poderoso

Conquista um histérico povo

Para a sua causa

Cardumes de nuvens

Como asas

Pelo céu se arrastam

Vários pássaros

Estão ocupados

Na ostentação de seus ninhos


Barco de casco

Transparente trafega

Sobre fascínios submarinos 

Uma festa de jardim

Está em vibração plena

Sob fachos orientais

Como um querubim

Uma alma humana sussurra

Buscando se manifestar

 

Um homem em explosão

Com a fartura

Do que ele possui para dar

Uma cisterna remota

Repleta de água bucólica

À sombra de árvores

Uma demonstração

Trabalhista amontoa       

Uma grande praça da cidade


Uma jovem viúva

Transfigurada pela ansiedade

Está de joelhos na catacumba

Um triângulo alvo

Com asas douradas

Em seus lados elevados

Uma idosa pálida

Sorrindo feito a aurora

Vende tralhas


Uma menina negra escravizada

Exige seus direitos de sua senhora

Pianista mundialmente famoso

Começa a tocar

Para um público assombroso

Uma mão com polegar

Notável, proeminente

Estendida receptivamente

Na imersão da luz solar


Um homem com dois crânios

É visto olhando

Para o além

Uma borboleta

Abre as asas mostrando que tem

Uma asa esquerda extra

Oficiais superiores

Reunidos num baile

Influente da embaixada


Graças a uma boa análise

Com raios xis

Uma vida é salva

Um domador de leões

Entra sem temor

Na arena do circo

Um velho professor

Ensina com gentileza

Uma classe de adolescentes


Uma viúva moça é pega de surpresa

De um novo nascimento de amor

Na praia quente, as crianças brincam Protegidas por sombrinhas

Sob picos cobertos de nevasca

Um adorador do fogo medita

A grande escada da vida

Em cada patamar

Um novo nível de vida


Na imersão da luz solar

O aviador navega pelo ar

Senhor de lugares altos

Um jovem casal

Viaja pela via capital

Olhando mostruários

De uniforme, aposentado,

O capitão do mar

Observa o afastamento dos barcos.


 



 

sexta-feira, 8 de novembro de 2024

A manhã


Amizades de infância 

Não precisam significar

Que prosseguem desde então

As coisas balançam

Não conseguem e ficam lá


Se você necessita de religião 

Para parecer ter uma alma boa

Você é só um obediente cão

Uma penitente pessoa

Um pet adestrado 


Café forte, uma dose que acorde

O ser amargo para ser mago

Uma borra de café nanquim

Se a memória me cai bem

A ponto de corroborar a espera


A fé recupera para mim

Aqueles dias doces de férias 

Quando pensava em ser alguém 

Como se já não fosse

Que sorte acontecer assim


Meus amigos de infância 

Jamais serão eternos

Pela contabilidade dos anos

Dor, imbecilidade e infâmia 

Não temos mais as caras de anjos


Se você precisa de um credo

Para bancar o bom-mocismo 

Você só segue os modismos 

Na ameaça do forno do inferno 

O céu é um suborno ou escambo


O meu progresso teve começo 

Ao ser amigo de mim mesmo

Preciso fazer jus ao santo

Sentido do nome Marcello 

Sou um jovem guerreiro 


O norte é a paz, a noite, luz

E a manhã, esclarecedora

Saquei o significado dos eventos

A direção dos ventos e a vida toda

Vou deixar que só o tempo me definhe


Não tenho mais este afã 

Graças à revelação

Ponto de virada do filme

Sagrada revolução 

É uma bênção a manhã.