domingo, 18 de maio de 2025

A primeira vez




A aspereza do apego
A inconsistência do apelo
A distância do aperto
Consciência de graça
Convicção adquirida

Ressurjo também nesta vida
Em cada alvorada
Junto com o sol justo
Até nas manhãs nubladas
Olho da janela para tudo

Como se fosse a primeira vez
Com a vista lavada de pureza
Aprendo a desaprender
A comunicação supera
Pluvialmente a expressão

Eu apenas espero ler
O poema sem interpretá-lo
É um impropério, uma confissão
É uma oração, um estalo
Não penso como pensava

Porém sonho do mesmo jeito
Parece a primeira tomada
O passado traz trejeitos
Renasço em cada alvorada
Escrevo só porque leio

Estou no mesmo corpo
Mas não sou como era
O planeta no papel de esgoto
Analfabetos na biblioteca
Somente se rasga o casulo

Com as asas corretas
Para não sair da panela
E cair no fundo do fogo
Eu nunca sei, é sério, eu juro
Que ignoro o que vou pôr

É igual a tentar ser diretor
Do próprio sonho no minuto
Na hora de adormecer
Embora seja quem for
Será sempre a primeira vez.











sábado, 10 de maio de 2025

A questão


 



Podia ser sempre assim a vida
Sonho solto, prensado no plano
Ninguém ouve ninguém
Viva a conversa compreensiva
Você está me dando

Várias coisas boas, meu bem,
A questão agora não é se
Mas quando, é outra etapa
A graça logo vem
Não se entende nada

Graças ao diálogo dos leões
Vida apática ou de rebeliões
Uma pedra e um peixe no lago
Eu já sei berrar e nadar
Na piscina, na sede, no aquário

No rio, na berlinda, no mar
No próximo ano
Num piscar de olhos
Piano, piano, se va lontano
O mapa é um relógio

A questão não é mais se
A questão é quando
Os ponteiros combinam entre si
Os anjos zombeteiros assinam
A vida podia ser assim

Um roteiro no meu idioma
O céu é uma telona, um vasto jardim
Onde se conta o longa-metragem
Factível não significa que será fácil
A vida pode ser uma viagem

Uma ideia no tempo e no espaço
Nova colheita, recolhimento para crescer
A árvore receita os seus bálsamos
Os barcos deixam a garagem
A questão agora não é se.









sábado, 3 de maio de 2025

Experiências transcendentais

 

Uma miríade de ideias
Elevadas pela pirâmide na planta
Aldeias de plêiades virtuais
Experiências transcendentais
No exame da vida cotidiana

Desembarque das naves
Loucas, sem estabilidade e ocas
Uma hora a gincana cansa
Após a descoberta da chave,
Da chama liberta da bolha

Estou fora deste jogo
Não tenho fôlego para jogar mais
Respiro melhor com a luz do fogo
Sei do mel, da fúria e do que sou capaz
Ainda serei eu mesmo se for outro

Nova peça alucinante em cartaz
Refração da onda, as cartas mudam
Antes o sabor da peçonha
Do refrigerante sem açúcar
Do que sabotar a própria pessoa

Já era para saber que tarde não é nunca
Há tempo e tempero para tudo
Tempestade, segredo e temperatura
Fósseis para cada segundo
Entre as fissuras dóceis

Velhas músicas
Doces em altas doses
Motivo não é desculpa
Para os pés imóveis
Alma aluna e mestra na sala de aula

Fechamento no meio da rua
Estamos juntos no ar, na jaula
E chegará a janta ou a ocasião
Num desses feriados universais
Em que os desiguais se igualarão

Há quem exiba
Tanto a superfície
Em Búzios, Barra ou Ibiza
Que a cara não se exige
Nos difíceis dias infernais

Nostalgia e intuição genéticas
Experiências transcendentais
Espelhos, esperanças, pérolas e pedras
Na instância do circo, no trapézio
Das circunstâncias para amanhã

Memória e sonho me reconectam
À criança calma e à ânsia anciã
Ambas certas do belo mistério,
Moram no berço que virou divã
Antes o deletério do refrigerante zero.