sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Uma queda

 


Uma queda

Faz bem à cabeça

Melhor que seja

De cachoeira


O rio passeia

Por entre as pedras

E massageia

As dores das perdas


As lágrimas

Amaciam os traumas

As águas

Amansam a alma.


quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Entre os departamentos da loja

Entre os departamentos da loja

Sentem os pensamentos a lógica

Que cai na realidade em gotas

Numa decoração barroca ou gótica

Chinelo,sapato, descalça ou com bota

A humanidade caminha à robótica

Os mercados se escondem na horta

Nem servem os produtos da ótica

Ou elevadores diante da lama

Só o sol lança sua luminosa lâmina.



sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Só pra lembrar

Humor ácido

Em vez de humor negro

Ovelha desgarrada

Ao invés de ovelha negra

Mercado clandestino

E não mercado negro

Tempos difíceis

Em vez de tempos negros

Lista maldita

No lugar de lista negra

Só pra lembrar

Não se celebra

O vinte de novembro

Dia da consciência negra

Porque a consciência humana

É preconceituosa e racista

Não se denigre, mas se difama.



sexta-feira, 6 de novembro de 2020

São tantas conversas


São tantas conversas

E poucos diálogos

Cada um com sua regra

E seu recado

São sonhos e esperas

Pela utopia do passado

É pausa, é pedra

É o fim do pedaço

São luzes e trevas

Entre o certo e o errado

Não sei se o prazer presta

A quem sabe que é temporário

São instantes e eras

De robôs e dinossauros

Realidades quiméricas

Delírios de longe, por alto.

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Bel

Eu a conheci
Na praça da Cantareira
Parece que não é daqui

A minha bela parceira

Nem de Icaraí

Fonseca ou Cachoeiras

Quando a vi, descobri

Que é pra vida inteira

Na hora de sair

Ela me veste dos papéis à cabeça

Eu sou muito feliz

Por tê-la como companheira

E não sei o que fiz

Pra merecer o brilho desta estrela

De tão penetrante

Seu olhar é caso de crime

Já nos encontramos antes

Desta viagem, deste filme

Da Ilha Grande

De Rio das Ostras ou Nikity

Meu amor acachapante

Chama Isa, Bel, Bebel, Isabel Rimes.


sábado, 17 de outubro de 2020

Do estado mental

Do estado mental

De vigília

Ao de relaxamento

Embarco na nau

Rumo à ilha

Grande do descobrimento


Está na hora de crescer

De deixar de ser

Ingênuo

Sem que eu tire

A criança que vive

Aqui dentro.

terça-feira, 6 de outubro de 2020

Não sei se são problemas


 

Não sei se são problemas

De matemática

Ou do cinema

As diárias

E pequenas

Auto-eutanásias

É estranho e libertador

Estar próximo e alheio

Ao que sou

Depois que leio

Os sinais de amor

No elegante desespero.

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Gisa

 Foi na casa da avó dela

Em Santa Rosa

Que comecei a animar festas

Com a minha seleção sonora

Num remoto oitenta e nove

Trilha da novela Top Model


Quando eu tomei bomba

No primeiro vestibular

Para Comunicação Social

Ela me deu a dica e a carona

Ao IACS, mítico lugar

Onde nos graduamos em Produção Cultural


Do milênio passado, do Marília,

Via Salê, à Universidade Federal Fluminense

A bordo da Esquadrilha

Minha amada amiga da primeira série

Desde mil novecentos e oitenta e seis para sempre

É Gisa, Gi, Canjica, Gisella Chinelli!

domingo, 27 de setembro de 2020

O futum do futuro

 O futum do futuro

Já está presente

No ar poluto

Realidade nonsense

Eis o fruto da semente

Lançada pelo progresso

Embora se queime

Até quem tem acesso

No interior das nuvens

Ao redor do furdunço

A despeito do perfume

Do velho discurso

Permanece fétido

E cada vez mais perto 

Do fim deste mundo

Pintado e cadavérico.


sábado, 26 de setembro de 2020

Bião

 Fabiano Ribeiro 

Froes da Cruz

É meu amigo, parceiro

Cheio de graça e luz

Rubro-negro

Muitos Fla X Flus

Já torcemos contra e juntos

E também com a peça compus

Raps sobre qualquer assunto

Aprendi com o colega de classe

Em mil novecentos e noventa e quatro

A comer a carne

Misturada com arroz e feijão

Fomos repórteres cinematográficos

No Haras São Sebastião

Gaiato e desenhista

Ele já me salvou uma porção

De vezes, inclusive a vida

Quando eu não via mais solução

Na praia de Piratininga

Ou no apê do Ingá

Pai de Ozzy, tio de Mathias

Não consigo chamar

O libriano de Fabiano, só de Bião.


domingo, 13 de setembro de 2020

Quem sou eu na fila do pão?

Quem sou eu

Na fila do pão?

Teatro, museu

Cinema, televisão

Para onde vou

Com minha carcaça?

Morro, praia, show

Casa, bar, praça

Quem eu sou?

Na escuta, à espera

Da consulta ou

Da live da guerra

Eu vou aonde

Com meu coração?

Poema e sobrenome

Qual é a cotação?

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Sob telhados de vidro

 Somos parecidos

Sob telhados de vidro

Para o brilho solar

Eliminar a obscuridade

Embora a claridade

Possa virar pedra

- Faz parte da vereda -


Somos semelhantes

Como vogais e consoantes

Que precisam se acoplar

A fim de que se apalavrem

Em sentido e identidade

Mais do que só uma letra

Faces da mesma moeda.

sábado, 15 de agosto de 2020

Não dá mais

 Não dá mais

Para voltar

A ponte arde

Balança e cai

Olhar para trás

Só não é tarde

Para quem traz

Espelho e saudade

Não podemos mais

Continuar iguais

Ao que éramos

O jeito é irmos em frente

O eterno altera sempre

Que erramos.

terça-feira, 11 de agosto de 2020

Carne exposta





 

Carne exposta

No açougue

É a resposta

Da longa noite

Rasgando o dia

Que as sombras sobrem

Para o sol do meio-dia

Agora só pode ser hoje.


quarta-feira, 29 de julho de 2020

O cansaço e a esperança

Entre o cansaço
E a esperança
Eu me equilibro
Até quando caio
Questão de compensação

Faz tempo que não nado
A maré não está mansa
O abraço é um perigo
Durante o atual campeonato
O bom senso já é campeão

São surreais os fatos
Da realidade estranha
Rolarão filmes, livros
Festas, rezas e feriado
Sobre este ponto de inflexão.

terça-feira, 21 de julho de 2020

Escrever

Escrever é um ato
De coragem extrema
Quando me despedaço
A alma num poema
É um desembaraço
Pode ser cinema
Passos de cima para baixo
Escrever é um gesto
De pura audácia
É um santo remédio
Que não tem na farmácia
Ao vomitar em forma de texto
Noto e anoto sua eficácia
Contra a falácia e o tédio.

quinta-feira, 2 de julho de 2020

Sou mais amigo

Sou mais amigo
Dos falecidos
Do que dos vivos

Lamento a partida
Sem despedida
Não tenho a iniciativa
De desfazer as intrigas
Com quem fica
Não se trata de orgulho
É só preguiça
De um novo mergulho

Dos que respiram
Há quem prefira
Viver na mentira

Eu fiquei ouvindo
As canções do pendrive antigo
De sexta a domingo
Não dei ouvidos
Aos apelos do aplicativo
Não é moda retrô
Mas apenas um paliativo
De quem já escutou
Tudo isso em fita ou disco.

segunda-feira, 29 de junho de 2020

Acostumado com as amarras

Acostumado com as amarras
Esqueceu-se dos amores
Contando com as favas
Escondeu-se dos favores
Segurando as barras
Pesadas de bolores
Foi metendo a cara
Enquanto escorriam as cores
Das molduras diárias
Enquadram-se as dores
Das várias noites de farra
Jarras de chope e de flores
São tempos de tara
Torpe no alto da torre
São tempos de espera para
A saída dos poros de puros porres.

sábado, 20 de junho de 2020

Ensaio do segundo round

Ensaio do segundo round
De dois mil e vinte
Foi o que disse
O blecaute
Como encarte
Do eclipse.

quarta-feira, 17 de junho de 2020

É tanta saudade

É tanta saudade
Que bate
Quando bebo mate
Sob um raio solar
Penso em Itacoá.

segunda-feira, 15 de junho de 2020

Não sei quando

Não sei quando
Está falando
Com a minha pessoa
Ou quando pensa
Alto para que se ouçam
Os áudios da sua cabeça.

sábado, 6 de junho de 2020

Alegria triste

É uma alegria
Totalmente falsa
Farta de melancolia
Que não se afasta
Quando a felicidade é vazia
A tristeza vaza
Em vagas de agonia
Em frias brasas
Nos bons dias
Nas resenhas rasas
Nas portarias
Nas antessalas
Nas fantasias
Nos bailes de gala
Nas garantias
Das mobílias da casa
Não sei quando a empatia
Virou ameaça
Embora tardia
A consciência não se atrasa

sábado, 23 de maio de 2020

Se fiquei esperando

Se fiquei esperando
Meu amor passar
Entre o gelo seco
E luzes estroboscópicas
O globo hipnótico
Segue girando
Mesmo depois de trinta anos
As tardes adolescentes
Dominicais e inocentes
Nunca vão sair da memória
As paredes sonoras
As matinês de cortesia
No Clube Naval
Em Charitas
Na Kool Ibiza
No Bedrock
Na Crazy Horse
Para a dança no meio da pista
Passos coreografados
Ao longo dos dias
Fumaça de cigarro
Mentolado bailando no céu
Como armaduras, camisa bordada
E o topete erguido à base de gel
Cortinas cúmplices e pesadas
Como as pálpebras
Fechando a janela
Do sonho que se congela
E recebe o nome
De reminiscência
Ou de saudade que não some:
As primeiras cervejas
Os beijos de longe
As últimas certezas.

domingo, 10 de maio de 2020

A miragem no espelho

Sempre que me levanto
Às cinco da manhã
Tento ir levando
O cotidiano até amanhã
Dia de descanso
Para manter sã
A mente em desânimo
Amiga e vilã
A miragem no espelho

Quando eu acordo
Nas horas escuras
Abro mais os olhos
E a minha cuca
Por algum propósito
Fora da curva
Para o repertório
Que não se escuta
Neste velho aparelho.

quinta-feira, 7 de maio de 2020

Alguém na vizinhança

Alguém na vizinhança
Punha a gente na dança
Desde o início da pandemia
Às vinte horas, todos os dias
Por quinze minutos
E, ao final do festejo curto,
As janelas aplaudiam
Num frenesi absoluto
A cada apresentação temática:
Beatles, Brega, Jovem Guarda,
Sertanejo, Frank Sinatra,
Disco, Dance, Timbalada
Mas, de umas semanas pra cá,
Ninguém mais ouve
O som doce que saía do seu andar
O que será que houve?

segunda-feira, 4 de maio de 2020

Uma diferença peculiar

Uma diferença peculiar
Entre o que parece
E o que faz lembrar
Uma cizânia simbólica
Entre o que transparece
E quem olha
Uma contenda aguda
Entre o interesse
E o quanto se lucra
Uma discrepância sutil
Entre o que perece
E o que já sumiu.

segunda-feira, 27 de abril de 2020

O assassinato

Viver é facílimo
Com os olhos fechados
Dentro do abismo

Enquanto fico
Sendo alvejado
Ou só dormindo

Acontece o assassinato
Sob o céu que cega de tão lindo
Até quem não desce do salto.

domingo, 26 de abril de 2020

Das coisas impossíveis

Das coisas impossíveis:
A classe média parar de
Pensar que é elite
E uma versão de Paul McCartney
Para "How do you sleep?"


quarta-feira, 22 de abril de 2020

Um pronunciamento

O silêncio
Diz muito
Já é um posicionamento
Em cima do muro
Um pronunciamento
O estado mudo
Invasão e descobrimento
O idiota útil
Abaixo-assinados
Notas de repúdio
O jeito calado
Emana todo um discurso.

terça-feira, 14 de abril de 2020

Meu segundo nascimento

Dezoito anos atrás
Ao voltar de bike
Para casa na madrugada
Fui atropelado por um táxi
Com os faróis apagados
Que avançou o semáforo
Entre a Roberto Silveira
E a Domingues de Sá
Se não fossem a passageira,
Que fez o motorista parar,
A minha vasta cabeleira,
Que mitigou o impacto da queda
E a pronta ajuda médica,
Que me pôs no imobilizador cervical,
Poderia ser mais um da média
Fria e estatística
Só desloquei a clavícula
Esquerda e quebrei a massa ridícula
Do dente frontal
Completo minha segunda maioridade 
Hoje, catorze de abril,
Ainda bem que não há mais a necessidade
De ir até ao fim da João Brasil
Para encarar de novo o Terceiro B.I.,
O Buraco do Inferno, apelido gentil
Do antigo Batalhão de Infantaria.

segunda-feira, 13 de abril de 2020

Um rio de riso

Ainda que pareça
Plena pedra
Sempre passará
Um rio de riso
Para matar
O siso, a sede
Ou encharcar
A parada parede
Da cara que pira
Em casa, na rede.


domingo, 12 de abril de 2020

A paz coa

A paz coa
O pânico
Em coisas boas
Para que se sorvam
De modo orgânico
Em caso de baba, toalha.

A paz coa
O tirânico
Pensamento das pessoas
Em poder de escolha
No aspecto epifânico
Das migalhas às medalhas

A paz coa
O titânico
Desejo de ir embora
Desta realidade-masmorra
Em resistência no campo
De batalha contra os canalhas.

sexta-feira, 10 de abril de 2020

Pouco tempo faz

Há cinquenta anos
O sonho acabou
Com o fim dos Beatles
E há quem ande bocejando
What did I know?
Pouco tempo faz
Que um mundo terminou
Com o advento do vírus
E os doentes vão atrás
Do monstro em vez do doutor.

quinta-feira, 2 de abril de 2020

Caso ninguém se movimente

Caso ninguém se movimente
Da teia de aranha
Ela vira fio de arame
Até se tornar cabo de aço
Nestes dias surpreendentes
Se você não se levanta
Não há mais quem levante
Com beijo, bronca ou abraço
Do Oriente ao Ocidente
Rotina estranha
Cinematográficos instantes
Sobrevoo em passos
Nada de acaso nem acidente
Sete domingos por semana
Agora nunca houve antes
Entre o improvável e o fácil.

quarta-feira, 1 de abril de 2020

Todos sangramos



Quem não se cuida
Não deve ter tempo ao relato
Com o respaldo da loucura
Teremos outros verões
E dançaremos fora do campo minado
Se não dançarmos com as suas convicções

Nem toda ajuda
É considerada socialista de fato
E todos sangramos na cor rubra
Algumas contribuições
Podem ser associadas ao assalto
Mas nem sempre levantamos as mãos.


sábado, 28 de março de 2020

Graças ao ócio

Eu não quero voltar
Para a normalidade
Totalmente insana
Eu me situo no lugar
Onde ninguém invade
Nem seita, gado ou aliança
Eu não necessito retornar
À maratona da cidade
Tonta, notoriamente estranha

Merdas desprezíveis a comprar
Metas inatingíveis a cumprir
Prazos postergáveis a expirar
Prosas inefáveis a exprimir

Graças ao ócio, posso ligar
Para as arcaicas amizades
Resgatando a lembrança
Nunca tive tanto tempo para pensar
Na minha realidade
Repleta de utopias cotidianas
Minto, já fiz isso litros atrás
Aos vinte e cinco anos de idade
Mas caí no equilíbrio e da cama.

segunda-feira, 23 de março de 2020

Uma longa apneia

Uma longa apneia
Para atravessar o oceano,
O plantão e a floresta
Rumo à outra margem
Do Rio de já nem sei
Mais de qual mês
Em busca de qualquer ideia
Insight ou plano
Para planar sobre as quietas
Ruas do planeta, na cidade
Em que nasci e me criei
Do berro ao bom português
A situação está bem feia
O povo vem depois dos bancos
E eu confundo pressa
Claudicante com agilidade
Nestes tempos sufocantes, a lei
É respirar ao chegar a vez.

domingo, 15 de março de 2020

A fome é mais letal do que o Coronavírus

Um ser humano some
Pelo vírus da fome
A cada quatro segundos
Neste apetitoso mundo
Oito mil e quinhentas criancinhas
Morrem todo diabólico dia
Por falta de vacina
Sinônimo de comida

Se a fome dizimasse
Qualquer pessoa
Independente da classe
Social e de quanto tem na conta
Haveria uma mobilização
Como a contra o Corona
Caso a desnutrição
Não tivesse escolha.

terça-feira, 10 de março de 2020

No céu e no chão

Alienação
Como disfarce
Da irresponsabilidade
No céu e no chão
Está aceso o alarme
Do medo e da tempestade
De pé e no caixão
Sofrendo na carne
O caos e as sôfregas saudades.

segunda-feira, 2 de março de 2020

Das mesmas pautas

A serpente rasteja entre nós
Muitos idolatram
A sua mentalidade atroz
Agrotóxica e trágica
Vamos falar das mesmas pautas
Não pela falta
De assunto
Mas porque parecem surdos
Ao cotidiano cheio de absurdos
Que nos matam
Contudo se estivermos juntos
O sonho volta à prática.

domingo, 1 de março de 2020

E há quem

Vidas entregues
A domicílio
Ou na sarjeta

E há quem se cegue
Por necropolíticos
Covardes e caretas

O mundo está prestes
A mudar de cenário
Em vez da cabeça

E há quem se preste
A dizer o contrário
Das teses e receitas

A realidade não serve
Para os aplicativos
Que apenas enfeitam

E há quem me leve
A crer nalgum sentido
A criar qualquer certeza.

domingo, 16 de fevereiro de 2020

Só algum desperdício

Não foi tempo perdido
Só algum desperdício
Do que tenho pedido
Ao longo dos anos

Tudo anda difícil
Meteoro e míssil
Talvez não findem com isso
Nem com os aéreos planos

Eu sei, não tem sido
Aquele sonho colorido
Mas não ponho meu sorriso
Num esconderijo
Até por mim desconhecido

É um martírio instituído
A vida aqui no Rio
De maravilhas e riscos
E o carnaval é um indício
De ocasional paraíso.

domingo, 2 de fevereiro de 2020

Nos preparativos

Nos preparativos para a festa
Do fim do mundo
Talvez dancemos na espera
Porém respiremos fundo
Ficaremos tranquilos
Com os ornamentos
Com os biricuticos
Enquanto morremos de orçamento
Às vésperas do evento
Precisamos estar atentos
À alegria a rigor
Às fantasias da carne
Até o dia em que a bagaça for
Xepa do after
Quando nada houver
Tudo over.


sábado, 1 de fevereiro de 2020

Talvez tudo seja mesmo lido

Reconheço que preciso ler
Mais as entrelinhas
E os livros que passam e pousam
Em minhas mãos agitadas
Talvez tudo seja mesmo lido
Ao passo que tento ser
O que se deseja em vida
Ainda que ninguém ouça
Ou veja além da fachada
Da casa ou do hospício
Embora imprópria, cantarei
A minha própria marchinha
Com todas as forças
Sambadas da alma
Quem vai comigo?
Só porque não posso entender
Não significa
Que alguma coisa
Esteja errada
Será que consigo?

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Esgoto e apatia

Puseram na água
Esgoto e apatia
População letárgica
Parece que pensa na folia
E em mais nada
É triste vê-la ainda
Sorrindo para a Vênus platinada
Enquanto o Rio definha.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Velho frescor

Ah, o velho frescor
De vinte anos atrás
Quando tinha vinte e poucos
Planos e muita paz
Para dormir com os sonhos

A fragrância juvenil
Povoava o ar
No início dos anos dois mil
Agora não posso respirar
Está o maior sufoco

Eu sou membro
Da derradeira geração
Analógica e me lembro
Da forma em que batia meu coração
No filme que achava longo

Para sair do que me separa
Do frágil estrado
E me jogar na estrada
Sem pijama, no atual estado
Tenho que traduzir o calado estrondo.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Iminente, mas não veio

Chuva iminente,
Mas não veio
Que seja o mesmo
Com o entrevero
Lá no meio do Oriente.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

Na Serra da Tiririca

Entre as necessidades da alma
E os desejos do ego
Eu prefiro de cara
O que preciso e enxergo
No momento seguinte
Nas linhas das palmas
Das mãos em obra
Nos ares da calma
Da mata em volta
A vida pode ser um filme
Borboletas em tecnicolor
Um tamanduá inédito
E uma taturana logo
Saúdam um perplexo
Com tantos requintes
No meio da natureza
Na Serra da Tiririca
Espero menos aspereza
Pior do que está não fica
Em dois mil e vinte.