domingo, 21 de setembro de 2025

O motivo e o motor


 



Já existem o motivo
E o motor do veículo
Eu moro no volante
Não ando mais claudicante

Uso o santo de segurança
O sentido ousa na dança
Dos dias e das cadeiras
Parecia brincadeira

Eu comecei por lazer
Para deixar de ser criança
E parei de beber pra me zelar
Pra não ser mais um bebê

Já resistem o motim
E o mote dentro de mim
Estou firme aqui neste instante
Não mofo mais tão distante

Sem relógio tampouco hora
Mas não me importo, tenho tempo
Rogo para abrir logo a porta
Para o grande momento

Já há o grito do motor
E o motivo da trama, do tremor
Uma parte de mim vive na estante
Não chafurda na lâmina dando vexame

Ganhei algumas chaves nestes anos
E me livrei de quilos
De danos em pensamentos levianos
Agora é um passatempo tranquilo

Há quem siga tanto um modelo
A ponto de querer mordê-lo
Eu comecei por prazer
Para ingressar no mundo adulto

E desisti de me deter
Para sair do labirinto escuro
Laboriosamente brilham
O motivo e o motor no indivíduo

Eu não entendia em tempos idos
Porque enjoava ou me entediava
No entanto hoje em dia, pelo amor,
As ilusões rangem às claras

A mente se arranja na trilha
Da montanha onde sou
Mais do que ilha, península,
O motivo e o motor.




domingo, 7 de setembro de 2025

O que fui já

 




Não temo as sombras
Elas contêm lampejos
Questão de honra
É o contente silêncio
De fazer bem as coisas

A paciência ensina
Que a alma se refina
Através do tempo
Só agora entendi e ainda entendo
Nada melhor do que uma crise

Para impor limites
E me importar comigo
Sozinho me conheci
Quando lutei pra ser meu amigo
Apenas soube de mim

Quando fui aguerrido
E virei o que sou
A melhor decisão
Da minha vida me estragou
O castelo de papelão

Não há necessidade
Nenhuma de conserto em mim
Mas de reconhecimento
Do que já está aqui
Entendi só nesta idade

Não se trata de perfeição
Mas de crescimento
O que exige rompimento
De antigos padrões
Apenas hoje compreendo

A distância de dentro
Mantém a elegância
E gera desapontamento
É um grande certame
Entre o céu e o tatame

A escolha da vereda
Que seja uma escola
De desejos com verdade verdadeira
Compartilho a dor com arrojo
O que fui já foi embora

Expressão leve de ânsia
Abertura a quem me revele o propósito
Afirmação com confiança
E ação intuitivamente criteriosa
O que fui já era: só ficou na foto

Uma nova forma de pensar
Pinta para riscar o fósforo
Ao rasgar o fantasma da tela
Eu resgato nenhum avatar
Reparo da aquarela

As ilusões se dissolvem no ar
Eis o convite à verdade espiritual
Tarefa com mais bravura
A ferida é a força, afinal
A dor é um portal de cura.