A única coisa que nos compensa
É termos mais atenção
No dia inteiro de hoje, na quinzena,
Na hora transitória de agora
O vindouro virá ermitão
Como quem foge e vai embora
De modo lento e abrupto
É tolo quem pensa
No futuro antes que pense
No segundo do presente
Instante incessante em cena
Racionalmente místico
Talvez adiante num misto
De solidez e mistério
Misticamente racional
O que serve como critério
Fomento de mais interesse
No momento que acontece
Nem sempre o destino da nau
É atingido no fim do caminho
O porvir pinta sozinho
É pensativo quem tolera
A atualidade da espera
O advento do horizonte
O que nos remunera
Sem incêndios de pontes
Nem dos remorsos com remelas?
Fiquemos atentos desde ontem
O que mais vale a pena
É a cabeça leve e aberta
Com o coração love e alerta
Para hoje apenas
A base construída
Para uma nova arquitetura
Interna é a cura
É outra fase da vida.
Pô, é Zia!
Compilação randomicamente ordenada dos versos meus ou de Tchellonious ou de Tchello Melo ou de Marciano Macieira ou de algum lugar.
domingo, 30 de março de 2025
Instante incessante
terça-feira, 18 de março de 2025
Tão-somente eu
Eu pensava que era prazer
E não passava de mera languidez
Achava que era você
De aluguel, contudo, no fundo,
Como de praxe, fora tão-somente eu
Naquele normótico mundo
Imodesta moda demodê
Presumia que não ia doer, mas doeu
No fim da festa, supunha soberania
Todavia me sufocava noite e dia
Eu suspeitava que era lazer
Mas era desvario, era morbidez
Considerava que era eu
Mas havia sido um invento meu
Para que evitasse me ver
Julgava singular às vezes
Porém era só no automático, veja
Como os bares e as igrejas
São laboratórios sem deuses
Baby, eu abomino ambulatórios
Pela proteção da saúde
A imaginação é o limite
Por mais que se estude
Não se decora para ser livre
Querida, eu detesto ser outrora
Entendia que era eu
Entretanto, entre tantos para ser,
Não conseguia me reconhecer
Agora tudo o que sei
Sobre mim, sobre quem
Posso vir a ser
Será apenas a minha pessoa
Tão-somente eu, é o que ressoa
Uma voz daqui, na beira do além,
Brotando uma moda vigorosa e boa.
sexta-feira, 14 de março de 2025
As asas da audácia
A arte precisa mobilizar
A mente e as emoções
A arte não tem que deixar
A gente contente
Mas consciente das ações
Tudo é meu
Não tenho nada
Tudo me pertence, eu
Sou uma alma
O caminho só será aberto
Se eu caminhar
O cérebro só estará desperto
Se não me dispersar
O jardim não será o deserto
Dos dias atuais, dos tempos atrás
As asas da audácia
Mantêm o voo
Acima do teto e do abismo
Meu amor, minha graça,
Mau humor, delirantes sismos
Nas lavanderias, nas farmácias,
Nas drogarias não se vendem mais
Somente medicamentos
Alegam que já não tem cabimento
Nas bancas apenas gibis e jornais
Não faço mais parte da turma
Nem possuo timidez para perder
As alegrias são diurnas
E me permitem de fato ser alguém
Um dia por vez, coração
Cada manhã é um novo exame
Minha cabeça noutra rotação
Não sou do centrão nem do rebanho
Muito menos do enxame
Caso me chame de estranho
Sou mesmo estrangeiro, sou instantes
A limpeza transcende o mero banho
Todo dia é um mês de chances
Tudo pertence a mim, até a pobreza
Que beleza, eu não tenho nada
Vivo bem aqui
E bato as asas
Sei que sou assim
Estou em casa
Ela habita em mim.
domingo, 9 de março de 2025
Flutuando na floresta
Flutuando na floresta
Felicidade calma
Corpo em festa
Desafogo dos traumas
Reparo das arestas
Na terapia das águas
Nas ondas, nas quedas
Na radiografia da alma
Raízes e borboletas
Bailando na mata
Na flora, na fauna e na foto
Eu me inspiro no superboy
Beirando a mim, vivo ou morto,
Bolo um fato que não me destrói
Pulo de um sofá para outro
Voando que nem super-herói
Eu era assim quando garoto
Naquela antiga e gostosa Niterói
Misturo as memórias no fogo
Um futuro que se evapora após
Nadar de um mar para o esgoto
Descanso durante as braçadas
Desbanco o destino ignoto
Por rotas mentalmente traçadas
Na trilha sonora do baile dos sonhos
Vivendo como um super-homem
Eu era assim quando menino
Mais conectado ao meu nome
Ao meu estado de espírito
Sobrevoando que nem um drone
Tenho bailado como se voltasse
Aos velhos e brilhantes tempos
Quando as coisas pareciam fáceis
O que não lembro é vento
Vivo os saudosos e próximos bailes
Sobrevivendo na selva
Sei no fluxo e refúgio que a arte salva
Vou tirando leitura de pedra
E literatura das palavras
Flutuo na floresta feito poeta.
terça-feira, 4 de março de 2025
Todo milagre deriva da expansão da consciência
Todo milagre deriva
Da expansão da consciência
O pensamento vira a chave
O sonho vira realidade
A conquista vira consequência
Na rodovia o sonho virá
Ao acordar, você verá
Apesar da tendência
A negar o incompreensível
Sonhar é estar vivo
Futebol e folia
São as fontes populares
De fuga e fantasia
Vira a mente, a mesa e a fase
A destreza da palavra
A potência da prece
É o preço que se paga
O milagre ou o plano acontece
Quando a consciência se expande
O cotidiano é um absurdo
Depois de tanto estresse
Descobri o quão sou grande
Já sei como sou curto
Prefiro ser longevo
Almejo ser lúcido
Não está longe o que escrevo
Se leio, pego o bonde e escuto
Estou leve e me levo
Levitando, porém não sou vulto
Quero ser jovem e velho.
segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025
Onda lenta
Surfando na onda lenta
Na onda alfa da consciência
Arfando, chego à praia
Depois da tormenta
De volta pra casa
Da época sonolenta
O sonho sabe que se atrasa
A força tem a ciência
De que tudo tem seu tempo
Haja brisa e brasa
Fogo lento me lendo
O sonho me abraça
E me ampara no leito
Para além da carcaça
No sopro do vento
A meta é a caça
O mote mora no peito
A morte não é desgraça
Mas um renascimento
Um tipo de graça
Uma fruta suculenta
Futuro que perpassa
Na crista da onda lenta
Na pista, na estrada
Desde o fim dos anos setenta
De volta pra calma
A memória me cumprimenta
Ela mora na antessala
E dorme na cama poeirenta
Olhando na minha cara
Vejo que, de violenta,
A realidade já basta
A não-violência
Deve ser uma prática
Que não pode apenas
Ser treinada na aula
Ou lida num poema
A paz é uma onda alta
É uma sonda, é uma senha
Capaz de resgatar a alma.
terça-feira, 18 de fevereiro de 2025
Um banho
Brando, bravo e salutar
Banho de mar
Para matar o estranho
Que queria me domar
E bagunçar meus planos
Um banho doce de sais
Dos orixás e anjos
Para saltar do bando
Xará, eu não tenho mais
Dezesseis anos
Antes de me matar
Eu matei o estranho
Que parecia me tomar
E me tirar do meu canto
Ah, santo espanto de paz
Um banho redentor
Dos afogados e submersos
Uma boia de luz interior
Um afago do universo
Uma onda de amor e nada mais
Tanto faz se boa ou má
A realidade é a colheita
Visitei nu o depósito
Soterrado de poeira
E resgatei no baú o propósito
Ao longo do recolhimento
Levei-o pra água de mim, do mar
Lavei a cara para o arranjo da foto
E louvei a alma, anjo do pomar
Um banho salutar e bento.