terça-feira, 2 de dezembro de 2025

Vestígios de Niterói



Nas curvas do MAC, o céu se inclina,

Espelhando um póstumo que já se desfaz,

O concreto persiste, mas o clima ensina

Que até o contemporâneo se curva à paz


As águas da Baía, outrora calmas,

Trazem marés que não sabem recuar,

E o Forte de Santa Cruz, entre lágrimas,

Observa o sal corroer seu olhar secular


No Morro do Palácio, o samba ecoava,

Voz de um povo, lembrança em canto,

Porém a chuva, que antes abençoava,

Desce em forma de estrago e pranto


As trilhas do Parque da Cidade

Perdem mais verde a cada voraz verão

E o mico-leão, guardião da amizade,

Busca asilo onde há desproteção


A canoa caiçara, saber ancestral,

Desaparece com o mangue

E o pescador, herdeiro do litoral,

Vê sua cultura submersa e estanque


Entre o mar e a memória, Niterói padece,

O tempo virou vilão, não é mais herói,

As águas sobem e os ventos desobedecem

Ao passado que suavemente se destrói


Na Ilha da Boa Viagem, o silêncio ecoa

Onde era encontro de festas e fé

Agora as pedras se partem à toa,

E os torós não deixam os altares de pé


Museus e praças, antigamente abrigos,

Sofrem com o calor inclemente

E as árvores caídas, em seus vestígios,

Contam biografias que o clima não desmente


Contudo há quem resista, quem registre,

Com câmeras, pincéis e palavras

Imagens e versos que ainda insistem

Em preservar o que o tempo lavra


Niterói, cristal de recordação e arte,

Grita por cuidado, por resguardo,

Pois cada grão, lugar e resgate

É raiz viva do nosso legado.

Nenhum comentário: