Nas curvas do MAC, o céu se inclina,
Espelhando um póstumo que já se desfaz,
O concreto persiste, mas o clima ensina
Que até o contemporâneo se curva à paz
As águas da Baía, outrora calmas,
Trazem marés que não sabem recuar,
E o Forte de Santa Cruz, entre lágrimas,
Observa o sal corroer seu olhar secular
No Morro do Palácio, o samba ecoava,
Voz de um povo, lembrança em canto,
Porém a chuva, que antes abençoava,
Desce em forma de estrago e pranto
As trilhas do Parque da Cidade
Perdem mais verde a cada voraz verão
E o mico-leão, guardião da amizade,
Busca asilo onde há desproteção
A canoa caiçara, saber ancestral,
Desaparece com o mangue
E o pescador, herdeiro do litoral,
Vê sua cultura submersa e estanque
Entre o mar e a memória, Niterói padece,
O tempo virou vilão, não é mais herói,
As águas sobem e os ventos desobedecem
Ao passado que suavemente se destrói
Na Ilha da Boa Viagem, o silêncio ecoa
Onde era encontro de festas e fé
Agora as pedras se partem à toa,
E os torós não deixam os altares de pé
Museus e praças, antigamente abrigos,
Sofrem com o calor inclemente
E as árvores caídas, em seus vestígios,
Contam biografias que o clima não desmente
Contudo há quem resista, quem registre,
Com câmeras, pincéis e palavras
Imagens e versos que ainda insistem
Em preservar o que o tempo lavra
Niterói, cristal de recordação e arte,
Grita por cuidado, por resguardo,
Pois cada grão, lugar e resgate
É raiz viva do nosso legado.
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