Não escrevo com as mãos
Exalo a paisagem
No exílio do meu feudo
Pelo fim das despesas da viagem
Fico aqui mesmo na estação
Ah, encareceu demais a passagem
A leveza virou um peso
Um tipo de lavagem
Deixa o coração perdido
Não escrevo com as mãos
Quando não entendo
A extensão de certos momentos
Eu me rendo e me entedio
A intuição tem ração
Para o filho, parceiro, tio
Sobrinho, primo e irmão
Para me lembrar vulnerável
Humildemente bravio
A despeito do tempo volátil
Prendo as mãos no guidão
E dou um grande salto
Com a arte não morro de perfeição
Cada manhã traz algo
Luminoso aos sonhos sonolentos
Deixo o ar chegar nos pulmões
Assim como os pensamentos
Perpassam a cabeça na queda
As águas do rio sedento
Correm pelas pedras
Descem a serra rumo ao mar
Os livros de sangue
Transitam pelas veias
Em transe, andei no ar
Nadei no mangue
E atravessei a fronteira
Tantas vezes pelo enfeite
Do terror, yin e yang
No teor do bilhete
Que, enfim, voltei a morar
Em mim, neste lugar
Eu me levo pelo vento
Sempre que leio e viro a página
Na praça do descobrimento
Loucura, lucidez e lágrimas
Não escrevo com a semântica
Um dia longevo por vez
Sete tardes por semana
Trinta noites por mês
Não escrevo com a lâmpada
Espero vir a visão
Eu nutro saudades
Ao sair de casa, da velha casca
Sei que já está tarde
Jamais se atrasa a própria revolução
Não escrevo com as mãos
Na redação, acontecimentos
Erros, reconhecimentos e atritos
A instituição tem corrosão
Talvez seja a paz o vazio
Tudo é enfrentamento
Para me recordar frágil
Grosseiramente sutil
Sangro no muro flácido
E mantenho as mãos na ferida
A montanha no alto, dentro, ao lado
É do tamanho da vida.
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