terça-feira, 15 de outubro de 2024

Não escrevo com as mãos


Não escrevo com as mãos

Exalo a paisagem

No exílio do meu feudo

Pelo fim das despesas da viagem

Fico aqui mesmo na estação 

Ah, encareceu demais a passagem


A leveza virou um peso 

Um tipo de lavagem

Deixa o coração perdido 

Não escrevo com as mãos 

Quando não entendo

A extensão de certos momentos


Eu me rendo e me entedio

A intuição tem ração

Para o filho, parceiro, tio

Sobrinho, primo e irmão 

Para me lembrar vulnerável 

Humildemente bravio


A despeito do tempo volátil 

Prendo as mãos no guidão 

E dou um grande salto 

Com a arte não morro de perfeição

Cada manhã traz algo

Luminoso aos sonhos sonolentos


Deixo o ar chegar nos pulmões

Assim como os pensamentos 

Perpassam a cabeça na queda

As águas do rio sedento 

Correm pelas pedras

Descem a serra rumo ao mar


Os livros de sangue

Transitam pelas veias

Em transe, andei no ar

Nadei no mangue

E atravessei a fronteira

Tantas vezes pelo enfeite


Do terror, yin e yang 

No teor do bilhete 

Que, enfim, voltei a morar

Em mim, neste lugar

Eu me levo pelo vento

Sempre que leio e viro a página


Na praça do descobrimento

Loucura, lucidez e lágrimas 

Não escrevo com a semântica 

Um dia longevo por vez

Sete tardes por semana

Trinta noites por mês


Não escrevo com a lâmpada 

Espero vir a visão

Eu nutro saudades 

Ao sair de casa, da velha casca 

Sei que já está tarde

Jamais se atrasa a própria revolução


Não escrevo com as mãos

Na redação, acontecimentos 

Erros, reconhecimentos e atritos

A instituição tem corrosão 

Talvez seja a paz o vazio 

Tudo é enfrentamento 


Para me recordar frágil 

Grosseiramente sutil

Sangro no muro flácido 

E mantenho as mãos na ferida

A montanha no alto, dentro, ao lado

É do tamanho da vida.



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