sábado, 12 de outubro de 2024

O dia da criança


Eu era mais antigo 

Nos tempos idos

Agora estou mais jovem

Do que em setenta e nove

Eu era bem mais idoso


Antes de saber de ouvido 

Que ser inaudito e novo

É um estado de espírito

Estrelas sobre a estrada 

Estreita e cheia de poeira


Chovem tantas charadas

Não se tampa só com peneira 

Várias ondas fingem ignorar 

A chegada da maré 

Tão vasta que vai erguer


Todos os navios do mar

As pessoas transformaram 

O mundo inteiro num inferno 

Falta a mudança na casa

Individual, no porão interno


Às vezes não basta alguém 

Saber o significado das coisas

É significativo saber também 

O que não significam as coisas

A perfeição não mora aqui


E a excelência se esconde

Não muito longe de mim

É que ela esquece seu nome

O passado é um sonho

E o noticiário, um pesadelo


Eu acordo, me assombro

E me abordo no espelho

O pretérito é uma vertigem 

Quando era mais velho

Nos dias de hoje, a origem


E o destino são o elo

Há quem esteja mais presente 

Do que aqueles que estão 

Comigo diariamente 

Ser ou descer, eis a questão


Para quem é leitor,

Telespectador ou ouvinte,

Chega de saudade, acabou

O século vinte

É crucial, é necessário


O acolhimento de despedidas

Caso contrário 

Tudo pela metade finda

As poetisas e os poetas

Têm que ser pessoas médias


Nada de deusas ou divos

Nem comércio de livros

O otimista e o pessimista

Cometem falhas

Mas não padece o otimista 


De forma precipitada

Eu vivia morto

Em tempos remotos

Estou mais moço nos dias atuais

Do que anos atrás. 



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