Eu era mais antigo
Nos tempos idos
Agora estou mais jovem
Do que em setenta e nove
Eu era bem mais idoso
Antes de saber de ouvido
Que ser inaudito e novo
É um estado de espírito
Estrelas sobre a estrada
Estreita e cheia de poeira
Chovem tantas charadas
Não se tampa só com peneira
Várias ondas fingem ignorar
A chegada da maré
Tão vasta que vai erguer
Todos os navios do mar
As pessoas transformaram
O mundo inteiro num inferno
Falta a mudança na casa
Individual, no porão interno
Às vezes não basta alguém
Saber o significado das coisas
É significativo saber também
O que não significam as coisas
A perfeição não mora aqui
E a excelência se esconde
Não muito longe de mim
É que ela esquece seu nome
O passado é um sonho
E o noticiário, um pesadelo
Eu acordo, me assombro
E me abordo no espelho
O pretérito é uma vertigem
Quando era mais velho
Nos dias de hoje, a origem
E o destino são o elo
Há quem esteja mais presente
Do que aqueles que estão
Comigo diariamente
Ser ou descer, eis a questão
Para quem é leitor,
Telespectador ou ouvinte,
Chega de saudade, acabou
O século vinte
É crucial, é necessário
O acolhimento de despedidas
Caso contrário
Tudo pela metade finda
As poetisas e os poetas
Têm que ser pessoas médias
Nada de deusas ou divos
Nem comércio de livros
O otimista e o pessimista
Cometem falhas
Mas não padece o otimista
De forma precipitada
Eu vivia morto
Em tempos remotos
Estou mais moço nos dias atuais
Do que anos atrás.
Nenhum comentário:
Postar um comentário