terça-feira, 2 de dezembro de 2025

Vestígios de Niterói



Nas curvas do MAC, o céu se inclina,

Espelhando um póstumo que já se desfaz,

O concreto persiste, mas o clima ensina

Que até o contemporâneo se curva à paz


As águas da Baía, outrora calmas,

Trazem marés que não sabem recuar,

E o Forte de Santa Cruz, entre lágrimas,

Observa o sal corroer seu olhar secular


No Morro do Palácio, o samba ecoava,

Voz de um povo, lembrança em canto,

Porém a chuva, que antes abençoava,

Desce em forma de estrago e pranto


As trilhas do Parque da Cidade

Perdem mais verde a cada voraz verão

E o mico-leão, guardião da amizade,

Busca asilo onde há desproteção


A canoa caiçara, saber ancestral,

Desaparece com o mangue

E o pescador, herdeiro do litoral,

Vê sua cultura submersa e estanque


Entre o mar e a memória, Niterói padece,

O tempo virou vilão, não é mais herói,

As águas sobem e os ventos desobedecem

Ao passado que suavemente se destrói


Na Ilha da Boa Viagem, o silêncio ecoa

Onde era encontro de festas e fé

Agora as pedras se partem à toa,

E os torós não deixam os altares de pé


Museus e praças, antigamente abrigos,

Sofrem com o calor inclemente

E as árvores caídas, em seus vestígios,

Contam biografias que o clima não desmente


Contudo há quem resista, quem registre,

Com câmeras, pincéis e palavras

Imagens e versos que ainda insistem

Em preservar o que o tempo lavra


Niterói, cristal de recordação e arte,

Grita por cuidado, por resguardo,

Pois cada grão, lugar e resgate

É raiz viva do nosso legado.

quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Algumas obras de arte



Salvam o circo

Da fome, do mofo e do declínio 

Algumas obras de arte

Porém nem todas são capazes

 

O desejo do desejo

É a morte personificada

As ideias perdem o desenho 

Na aldeia erma das palavras

 

E você me comenta que faz sol

Que cairá um toró ou que venta demais

Ao lhe perguntar como está 

Como você vai? Está melhor?


Talvez seja uma metáfora 

O estado pluvial ou solar

Vinte e cinco limões secos não transbordam

Um copo de suco à beira do mar


Algumas obras de arte

São mais do que boas redentoras

Algumas só, nem todas

São reais boias de resgate


O sonho toma forma

Quando se acorda 

O conhecimento soma na vivência 

O saber é sentido no sabor


O cotidiano vira cinema

O sentido sobrevive no amor

O sonho se transforma

Com determinadas obras

 

Uma mensagem divina

Mesada da viagem

Chamada da vida

Chama da coragem


Vivendo o momento 

O futuro será estupendo

Fariam falta ao mundo, à vila

Algumas obras de arte


Poupam o indivíduo 

Da solidão, da lassidão e do suicídio 

Algumas obras de arte

Poucas possuem tal capacidade


As ideias não são aproveitadas

Na privação das palavras

O vento prepara o penteado 

No passeio da orla


O sonho é concretizado

Quando se acorda

Poemas, danças, canções, quadros,

Peças e arquiteturas sempre agora


Vivendo o instante 

O futuro será brilhante

O sonho é descoberto 

Quando a lembrança colabora


O anseio do anseio

É o falecimento em pessoa 

Ns orla, o vento orna o passeio

Falando que hoje não tem garoa


Na quietude eu me reconecto

Com o meu espírito e confio

Na atitude invisível 

No caminho aberto


O sol nascente bate

Na cara de quem sente e olha 

O sonho é uma obra

Uma sobra da realidade















terça-feira, 18 de novembro de 2025

Garrancho beletrista

 



Garrancho beletrista

Guerra serena

Paz belicista

Qual é a senha?

Periferia elitista


Autoridade pequena

Papado niilista

Imprensa isenta

A gargalhada matutina 

Não tem efeito colateral


Não dá ressaca nem assassina

Tal felicidade não faz mal não 

É mais forte a minha luz interior

Porque, meu amor, a escuridão 

É uma velha vizinha do andar anterior 


A vida não é o seu drops predileto

Aprendizado a fórceps

Por meio de tentativas e erros

Correção do barômetro interno 

Leitura do mundo como um código


O futuro não será um bar no inferno

Se for um prédio de fé e propósito

O passado, pois é, já está curado

Vai um presente expresso de modo 

Autêntico? É sem compromisso!


Se os aplicativos precisam tanto

De atualização a cada momento 

Nós também precisamos 

Noites fugidias, dias nojentos

Muito tempo gasto a gosto sumindo


Longe de mim, mesmo aqui

Foi longa a noite no labirinto 

Não sei, minto, sei como dormi

Agora é um novíssimo quadro

Deste clube sou sócio-membro

 

O futuro mora nas nuvens, ao lado,

O passado, bem me lembro, 

Já está mofado e acabado

E o presente não é desembrulhado

Somente em dezembro


Garrancho beletrista

Silêncio sônico

Paz belicista

Qual é o sonho?

Poesia astrologística


Não escrevo na areia

Nem grafo no ar

Para que se leia

Ligeireza gravada devagar

Qual é a lenha?














sábado, 8 de novembro de 2025

Gole de ar

 



Gole de ar, meu anjo

Me ajuda pelo encanto

Vem a galope me ajudar

Não finge que quer se calçar


Enquanto me fisga feliz

Junto com os planos gentis

Meu anjo não pode se cansar 

Na rede, na rua, golpe haverá


Agora gosto de mim

Aprendi realmente a gostar

De cuidar do jardim

Talvez goste cada vez mais


Gole de ar, gole do gol

Gole do grito a degolar

Gole do diletante meio de ser quem sou

O grande segredo da mente


Se eu nasci descalço 

Sem gravata nem parênteses 

Eu renasço e, grato, me refaço 

Alvorada vasta e perene


Gole de suor, do que há 

De melhor, nem sempre

Meu anjo vem cá me salvar

Sabendo que sou eu somente


Para me deixar de um jeito

Impecavelmente imperfeito

Meu anjo não foge do que é sério 

Nem deixa que eu me afogue


Neste chão, oceano aéreo

Não quer que me sufoque

De insanos mistérios

Anjo, amor, minério forte


Meu plano, canto protetor

Planando por onde for

O sonho que quero tanto

No playground, em pleno voo


O plantão parece o mar

No balde sereno, manso

E também malemolente demais

Nas estrelas, futuro de antanho 


Se eu nasci inseguro e alucinado

Numa noite nada quente de junho 

Eu me redireciono e nado 

Em ondas de arte, meu sonho justo.












quarta-feira, 29 de outubro de 2025

Mensageiro do indizível

 




Mensageiro do indizível
Entrego gestos e poemas
Escritos em correspondências
Comunicação com espíritos
Frequento muros e cinemas

Jardineiro do deserto
Cultivo menos incêndios
No solo, eu me refloresto
A solidão é um prêmio
E a solidez, um prédio.

A versão presente
É a melhor edição de mim
Sonho, suor, semente
Que emana do verão do porvir
Semana que vem de repente

Calma diserta
Escuridão que sempre vi
Pausa maior do que a conversa
Canção que toca por aí
Na calada discoteca

Semeio versos e pensamentos
Floricultor no meio da aridez
Viro árvore de milênio
Visitada mês após mês
A solução do silêncio

Sentença reticente
Telepatia que sempre entendi
Olhar eloquente
Relato do que não se diz
Estalo que pinta de repente.

quinta-feira, 9 de outubro de 2025

Coragem e carinho

 



Não é ideologia 

Mas um tipo de seita

Perfeita lobotomia

Loucura à espreita

História ao vivo todo dia


O paraíso se povoa

De intenções nada boas

O olimpo é a moradia

De bênçãos, besteiras

Utopias e armadilhas 


À margem, no caminho 

Com a bússola interior 

Coragem e carinho

Não soube mais ser inferior

Luz, baque, saída, bom dia 


Descoberta do cadinho 

Cuja substância eu sou

Coragem e carinho 

Do embaçamento sobe o esplendor

E se vê o que não se via


Pleno, eu não me sinto vazio

Lendo, viajo lindo por aí 

Coragem e carinho 

Consigo me digerir e dirigir

A vida é uma película, um livro 


Não se trata de política 

Mas de politicagem 

Espectros de uma antiga

Programação da mesma grade

Está gravando? Tudo se grita!


Descoberta do caminho 

Cuja alternância eu sou

Coragem e carinho 

Da desconfiança sairá o que for

A ancoragem é minha.







domingo, 21 de setembro de 2025

O motivo e o motor


 



Já existem o motivo
E o motor do veículo
Eu moro no volante
Não ando mais claudicante

Uso o santo de segurança
O sentido ousa na dança
Dos dias e das cadeiras
Parecia brincadeira

Eu comecei por lazer
Para deixar de ser criança
E parei de beber pra me zelar
Pra não ser mais um bebê

Já resistem o motim
E o mote dentro de mim
Estou firme aqui neste instante
Não mofo mais tão distante

Sem relógio tampouco hora
Mas não me importo, tenho tempo
Rogo para abrir logo a porta
Para o grande momento

Já há o grito do motor
E o motivo da trama, do tremor
Uma parte de mim vive na estante
Não chafurda na lâmina dando vexame

Ganhei algumas chaves nestes anos
E me livrei de quilos
De danos em pensamentos levianos
Agora é um passatempo tranquilo

Há quem siga tanto um modelo
A ponto de querer mordê-lo
Eu comecei por prazer
Para ingressar no mundo adulto

E desisti de me deter
Para sair do labirinto escuro
Laboriosamente brilham
O motivo e o motor no indivíduo

Eu não entendia em tempos idos
Porque enjoava ou me entediava
No entanto hoje em dia, pelo amor,
As ilusões rangem às claras

A mente se arranja na trilha
Da montanha onde sou
Mais do que ilha, península,
O motivo e o motor.




domingo, 7 de setembro de 2025

O que fui já

 




Não temo as sombras
Elas contêm lampejos
Questão de honra
É o contente silêncio
De fazer bem as coisas

A paciência ensina
Que a alma se refina
Através do tempo
Só agora entendi e ainda entendo
Nada melhor do que uma crise

Para impor limites
E me importar comigo
Sozinho me conheci
Quando lutei pra ser meu amigo
Apenas soube de mim

Quando fui aguerrido
E virei o que sou
A melhor decisão
Da minha vida me estragou
O castelo de papelão

Não há necessidade
Nenhuma de conserto em mim
Mas de reconhecimento
Do que já está aqui
Entendi só nesta idade

Não se trata de perfeição
Mas de crescimento
O que exige rompimento
De antigos padrões
Apenas hoje compreendo

A distância de dentro
Mantém a elegância
E gera desapontamento
É um grande certame
Entre o céu e o tatame

A escolha da vereda
Que seja uma escola
De desejos com verdade verdadeira
Compartilho a dor com arrojo
O que fui já foi embora

Expressão leve de ânsia
Abertura a quem me revele o propósito
Afirmação com confiança
E ação intuitivamente criteriosa
O que fui já era: só ficou na foto

Uma nova forma de pensar
Pinta para riscar o fósforo
Ao rasgar o fantasma da tela
Eu resgato nenhum avatar
Reparo da aquarela

As ilusões se dissolvem no ar
Eis o convite à verdade espiritual
Tarefa com mais bravura
A ferida é a força, afinal
A dor é um portal de cura.







domingo, 24 de agosto de 2025

Fico pensando


 


O desenvolvimento se alastra

Na expansão da consciência

Progresso é aumento da casta

Antes grosseiras advertências

Do que maciças ressacas


Dos maços de cigarro 

Para as latas e garrafas 

Uns progenitores são pais 

Outros, bancos letárgicos 

Todos os dias, incomuns e banais


Fico pensando, profano e santo

Não foi perda de tempo 

Mas um ensinamento, um espanto

O caos sabe ser sereno

Mediano filmaço


Há uma dezena de mandamentos 

E uma dúzia de passos

Nunca é desperdício de novembro

O álcool deve ser o novo tabaco 

Progresso nem sempre é avanço


Em algum momento do dia

Santo ou profano, fico pensando

Como fui, como serei, como seria

Cônscio do jurássico juízo 

Civilizada selvageria


A ganância não quer os avisos

Dos malefícios do cigarro nas bebidas

O lobby prosseguirá forte

(Fico pensando sob um céu fechado)

Enquanto durarem os estoques


Sem fincar meus pés chatos

Agora sei como sou

Desprovido da energia vazia

Aluno e professor

Alucinação e valentia


Voltei a ser como era

Antes dos quinze anos

Mas não como adolescera 

Eu me chamo, eu me desmancho

Focando a chama da vela


Achei a chave da cela

O sol não se descumpre

Por sombras e nuvens

Lá em cima, do pensamento

A chuva também ensina


Epifania, meu bem, é silêncio

Acorda, é bomba! A corda é fina

Fico enquanto tiver saúde 

Filtro a onda, há oxigênio 

Fico encantado, tem vida ainda


Fico pensando no que penso

O veneno me dava alegria

No entanto eu tinha depressão 

Apocalipse nos trópicos 

Bebo com moderação


Bebo nada alcoólico

Agora tenho ânimo

Fico pensando com o coração

Passado contemporâneo

A maturidade é lei


Consciência em expansão

Certezas, enganos

Voltei a ser como serei

Amnésias, descansos

Fico pensando como passei


Epifania, meu amor, é uma revelação 

Voltei a ser pacato como sei

No sapato, com os pés no chão 

Coerentemente insano

Fico pensando e nem pensei.























segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Vamos acolher

 



Vamos acolher as oscilações

Na busca da praia e do equilíbrio

Os fracassos são bons

Capítulos do livro

Em todas as bruscas traduções

Vamos olhar para as sombras


Pela vidência do espírito

Vibrações, frequências, ondas

No frescor da rede e do equilíbrio

Realidade, redenção, afronta

Eu me lembro daquele menino

De cabelinho boi lambeu


Embora não exista mais

Continuo na pista ardente, sendo eu

Agora prudente, numa boa, em paz

Matemática da constelação do signo

Questões práticas esclarecidas

Desde ontem me desloco do abismo


Horizonte em foco, perto da vista

Meu nome completo é o título

A onda se levanta e vai me levando

Estou na varanda, mas não sou planta

Sou quem, como, onde, porque e quando

Através dos apoios, reparto os pesos


Bora colher os sonhos e planos

Em caso de vitória ou tropeço

A onda bate, recolhe e levanta

Cada aurora é um recomeço

E a arte, uma senhora criança

Agora me acolho e me reconheço.














#

quarta-feira, 23 de julho de 2025

Borbulhante e tranquilo



Uma respiração lenta e profunda

Um restaurador mergulho

Barulho silencioso da cuca

Fagulha do novo mundo

Antes alarde do que nunca.


Os meus versos importam

Mesmo que não se entendam 

Tão logo se anotam

Numa noite de veneta sairão as vendas

E vão se abrir veredas e portas.


Uma revelação, um riso, um clique

Uma imersão nada rasa, verdadeira,

Na piscina, na pessoa, na psique

Enquanto se aproxima a outra beira

Do mar, do rio, da lagoa, do filme. 


Ao longo da crise e da ameaça

Alongamento anímico e físico

Só há borboleta fora da crisálida

No calor borbulhante e tranquilo 

Na fumaça do aquecimento da água


Para o chá, mate ou café 

Acolhimento, aconchego 

Chão, âncora, chocolate, pés 

Com os quais vou e chego

Pés que me deixam de pé


Na estrada de versos e ideias

A estrela mora no fim do túnel 

Tudo o que expresso interessa

Embora pareça inútil 

A poesia é uma peça, uma prece, uma tela.


As minhas palavras são importantes 

Ainda que não sejam entendidas

No mesmíssimo instante 

Que se pronunciam

Tranquilas e borbulhantes.






 





 

sexta-feira, 11 de julho de 2025

Fita VHS



Minha vida cabia

Numa fita VHS

Nos dias correntes é fluida

Ainda que não quisesse


A tolerância à intolerância é uma tolice

Minha vida já sabia

O que seria quando cumprisse

Qualquer meta descabida


A esperança lenta me pertence

É o que me cabe ter

Antes que me prense

Vil no vinil do elepê


É minha vida, eu sinto muito

Minhas pelejas participavam

Num cassete de sessenta minutos

Numa fita VHS poeirenta, quase mofada

 

Atualmente, nada rebobina

Nem serve caneta daquela marca antiga para rolar o som na caixa

Em compasso de espera, quase parado

Com o passo ajustado à perna


Vou cozinhando o galo

Alugo a vista sem cisco da janela

Minha vida cabia num disco, num álbum

Conto cada uma das quarenta gotas


Para adoçar a jarra de mate

Conto com cada segundo que não volta, se é que foi

Segundo meu espírito de combate

Raja minha casa, capital guerra interior.

 

quinta-feira, 3 de julho de 2025

Intuição e intelecto



Meu arquivo é um blog
A vida é de quem sonha
Estou vivo, virei forte
A simetria das ondas
É medida quando se medita

Eu estive em vários lugares
Querida, cavalguei nas sombras
Como se fossem cavalos, acredita?
Surfei desequilibrado nos vales
Pensando que eram cristas

E eu, fatalmente eterno
Meu amor, forcei a barra
Dancei no inferno
Amadureci na marra
Intuição e intelecto

Compulsões e males
São diabos internos
O diálogo mora nos detalhes
Ó, simetria das nuvens no olhar, e agora?
A proporção do verso é furada

Como quando atravesso as marolas
Azuladas do sétimo mar
Minha amada, eu passei pelas sombras
E percebi que não sou aquele avatar
Imbecil e feliz, tirando onda

Meu bem, eu nadei na lama
E saquei quem sou na outra margem
Do rio da região oceânica
E me sequei sob o sol da coragem 
Lembranças da infância jocosa

Meu poema é um relatório
Um jornal que realmente informa
No blog, pelas paredes e poros
Um blefe simplório que não importa
Já bastam os próprios olhos

Meu leitor, minha leitora,
Eu abri mata nas noites sem lua, no breu,
Até notar a criança que um dia fora
Minha poesia é um traje, sou eu,
É outra pessoa, é uma longa trajetória.


terça-feira, 24 de junho de 2025

Eternidade meteórica


 



Eternidade meteórica
Para já, para ontem
Justamente agora
Desde que se sonhe
Tão veloz que demora

Não há nós que domem
O desvio também é da rota
Desperdício desde o início
Estreita porta benta
Vigente fome besta

À espreita, espíritos
Quando a gente volta
Eu compro o presente
Coisas que não explico
Coisas que não se vendem

Você me utiliza
Eternidade meteórica
Você me hostiliza
Por rumores de um rumo
Dureza lisa da retórica

Amores de um amor
Perdido no prumo
Rumos de um rumor
A vida é um fumo
Um verdadeiro torpor

Um vespeiro de dados
Profundidade mínima
Uma profusão de fatos
Um flato vira notícia
Tanto faz o palco ou estúdio

A cena é bem ensaiada
Você sabe de tudo
Mas não conhece nada
Você me rodeia e está por fora
Você me olha e me espelha

Através da minha ideia
Velha senhora, sem hora
Não dura pouco a vela eterna
Que nem o copo apaga
Eternidade meteórica

Você sabe de tudo
Mas não conhece nada
A vida é um fumo
Um sopro, uma fumaça
Um sonho com o futuro.










domingo, 1 de junho de 2025

Do que se trata?


 




Eu nem me lembro
Do que se trata
Aconteceu recentemente
Há muito tempo
Uma ideia qualquer
Rodeia na mente

Você vai saber se não puder
Manter acesa
Uma lâmpada sob a mesa
Mobilização do magma
O malabarismo da realidade
É um passe de mágica

Agora é uma longa fase
Incontáveis episódios
Do que se trata?
Tampouco me recordo
Só por foto, talvez haja
Algum modo de resgate

A minha cara me retrata
Hoje eu sei como
E nem conheço tanto
As cores do sonho
Os pormenores do plano
Eu me esqueço da fala

Navios percorrem o horizonte
Carros, léguas de ponte
E eu, os dias de ontem
Estranhos e atônitos
Colegas de classe
E até amigos já fomos

Águas nascem das fontes
Atitudes, das fomes
E eu, do meu nome
Confiro o rol como se me beliscasse
A realidade é um tipo de milagre
Um tiro que se ouve ao longe

O mundo rui tão insano
Quanto um isopor
E um sofá no oceano
O sol vai se içar e se pôr
Mesmo que não vejamos
O plástico no interior do peixe

Às vezes sei muito bem como
Noutras não sei nada de cor
Milagre é a realidade da parede
Cotidiano, miragem, sonho
Robôs, borras de fé, farras dos deuses
Alguém sabe do que se trata?

O dente da engrenagem
Dá também a sua mordida
A vida é uma viagem boa
É evidente que não há duas vezes
Mas vários takes nesta película
Que já queimou e a fênix voa.



domingo, 18 de maio de 2025

A primeira vez




A aspereza do apego
A inconsistência do apelo
A distância do aperto
Consciência de graça
Convicção adquirida

Ressurjo também nesta vida
Em cada alvorada
Junto com o sol justo
Até nas manhãs nubladas
Olho da janela para tudo

Como se fosse a primeira vez
Com a vista lavada de pureza
Aprendo a desaprender
A comunicação supera
Pluvialmente a expressão

Eu apenas espero ler
O poema sem interpretá-lo
É um impropério, uma confissão
É uma oração, um estalo
Não penso como pensava

Porém sonho do mesmo jeito
Parece a primeira tomada
O passado traz trejeitos
Renasço em cada alvorada
Escrevo só porque leio

Estou no mesmo corpo
Mas não sou como era
O planeta no papel de esgoto
Analfabetos na biblioteca
Somente se rasga o casulo

Com as asas corretas
Para não sair da panela
E cair no fundo do fogo
Eu nunca sei, é sério, eu juro
Que ignoro o que vou pôr

É igual a tentar ser diretor
Do próprio sonho no minuto
Na hora de adormecer
Embora seja quem for
Será sempre a primeira vez.











sábado, 10 de maio de 2025

A questão


 



Podia ser sempre assim a vida
Sonho solto, prensado no plano
Ninguém ouve ninguém
Viva a conversa compreensiva
Você está me dando

Várias coisas boas, meu bem,
A questão agora não é se
Mas quando, é outra etapa
A graça logo vem
Não se entende nada

Graças ao diálogo dos leões
Vida apática ou de rebeliões
Uma pedra e um peixe no lago
Eu já sei berrar e nadar
Na piscina, na sede, no aquário

No rio, na berlinda, no mar
No próximo ano
Num piscar de olhos
Piano, piano, se va lontano
O mapa é um relógio

A questão não é mais se
A questão é quando
Os ponteiros combinam entre si
Os anjos zombeteiros assinam
A vida podia ser assim

Um roteiro no meu idioma
O céu é uma telona, um vasto jardim
Onde se conta o longa-metragem
Factível não significa que será fácil
A vida pode ser uma viagem

Uma ideia no tempo e no espaço
Nova colheita, recolhimento para crescer
A árvore receita os seus bálsamos
Os barcos deixam a garagem
A questão agora não é se.









sábado, 3 de maio de 2025

Experiências transcendentais

 

Uma miríade de ideias
Elevadas pela pirâmide na planta
Aldeias de plêiades virtuais
Experiências transcendentais
No exame da vida cotidiana

Desembarque das naves
Loucas, sem estabilidade e ocas
Uma hora a gincana cansa
Após a descoberta da chave,
Da chama liberta da bolha

Estou fora deste jogo
Não tenho fôlego para jogar mais
Respiro melhor com a luz do fogo
Sei do mel, da fúria e do que sou capaz
Ainda serei eu mesmo se for outro

Nova peça alucinante em cartaz
Refração da onda, as cartas mudam
Antes o sabor da peçonha
Do refrigerante sem açúcar
Do que sabotar a própria pessoa

Já era para saber que tarde não é nunca
Há tempo e tempero para tudo
Tempestade, segredo e temperatura
Fósseis para cada segundo
Entre as fissuras dóceis

Velhas músicas
Doces em altas doses
Motivo não é desculpa
Para os pés imóveis
Alma aluna e mestra na sala de aula

Fechamento no meio da rua
Estamos juntos no ar, na jaula
E chegará a janta ou a ocasião
Num desses feriados universais
Em que os desiguais se igualarão

Há quem exiba
Tanto a superfície
Em Búzios, Barra ou Ibiza
Que a cara não se exige
Nos difíceis dias infernais

Nostalgia e intuição genéticas
Experiências transcendentais
Espelhos, esperanças, pérolas e pedras
Na instância do circo, no trapézio
Das circunstâncias para amanhã

Memória e sonho me reconectam
À criança calma e à ânsia anciã
Ambas certas do belo mistério,
Moram no berço que virou divã
Antes o deletério do refrigerante zero.


















sábado, 26 de abril de 2025

Réplica límpida


Ser gentil e aberto
Exige beijo e coragem
Deus não é descoberto
No ensejo da passagem
Ninguém está certo

No meio ou além da paisagem
Por mais poético e belo
Que seja o fim da tarde
Na saída da cela
No aspecto da minha cara

Na abertura da janela
Da consciência obscura e clara
Na figura da minha face
Cansada da resistência, com rugas
Não foram dias fáceis

Com doçuras, disfarces, ofensas e fugas
Contudo agora
Nas manhãs sadias
As nuvens carregadas foram embora
Madrugada já é bom dia

Ser receptivo e empático
Requer abraço e audácia
Não é tão prático
Quanto ir à farmácia
Ninguém está errado

Na bruma da massa
O corpo é um embrulho ou um carro
E o copo, um mergulho ou uma falácia
Seja como for, tudo é amor
Entre filmes e discos

Haja espera para este depois
Em que serei entendido
O meu rio interior
Não é uma área de risco
É uma réplica límpida

Entre crimes e livros
Entreouvido é poesia
Deus não está perto
Apenas no desejo do milagre
Deus está no piso, no peso e no teto

Fora da igreja, em diversos lugares
Até dentro de si mesmo, num verso
No brejo, no beco, na fortaleza
A fé é um gesto de coragem
Um credo sem medo da gentileza.








sábado, 12 de abril de 2025

Pedra pulsante


 



Pedra pulsante, viajante
Alma corpórea, grossa
Agora não é só um instante
Memórias, às vezes paranoias
Amanhã talvez venha antes

Conexão durante a ioga
Televisão edificante
Sem anunciantes, jogando o lixo fora
Trocando o nicho e as lâmpadas
Que duram bem menos

Do que as de outrora
Regando as plantas
Descarregando os venenos
Levezas em voga são esperanças
Lição de certezas vagas

Relógio liso, lento, ameno
E submisso como um leão
No fogão aceso a leiteira afogada
De água da torneira para fazer o mate
Sem esquecer as gotas e o limão

No amargor da realidade
Amar o gol que espanta
Pedir logo o galão de vinte litros
E virar o lado do disco lá pelas tantas
Para uma novíssima ideia

Há diversos delírios e livros
De versos, receitas e mantras
Reuniões literárias submersas
De poetas que não são lidos
Pulsa outro perfil da pedra

E você pensa que sinto
Graça naquelas janelas
Sagradas como brinquedos
Da velha brinquedoteca
Pedra comovente e latejante

Lances de audazes medos
Nuvem pétrea, lúcido pane
Ao vento, cavalares segredos
Lembretes de puro sangue
Na parede, cegos caranguejos

Brilhantes mágoas no mangue
E você sente que penso
Mas não como antigamente
Travesseiros tensos
Sem cabeças, ofuscantes lentes

Talvez na fuga apareça antes
Pedra pulsante, alma corpórea
Diamante distante, cá dentro
E você sabe que rolam
Horas e demoras diante do tempo.










sexta-feira, 4 de abril de 2025

Agora que bateu



Agora que bateu
A lembrança do esqueleto
Na naftalina do armário
Debaixo do couro
Eu me acho mais eu do que outro
Agora que bateu
A onda que balança o leito

Dentro do aquário
Está fervendo o tesouro
Eu me vejo mais eu do que outro
Agora que bateu
A vontade do aumento do teto
No meio do itinerário
Sem despejo de onde moro

Eu sou mais eu do que outro
Agora que bateu
A saudade da criança ou do leitor
Aparece um novo abecedário
Aprendizado duradouro, garoto
Eu estou mais eu do que outro
Agora que bateu

A fome de um prato feito
Após a longa noite, está claro
Que nem toda água limpa tem cloro
Eu me noto mais eu do que outro
Agora que bateu
O coração corajoso na expansão do peito
Do tabuleiro do jogo, o esquema diário

Das regras rui o velho escritório
Eu me escrevo mais eu do que outro
Agora que bateu
A claquete no estúdio inteiro
Não é mais ficção, é documentário
Do que sou, quando rio e choro
Eu atuo mais eu do que outro.









domingo, 30 de março de 2025

Instante incessante



A única coisa que nos compensa
É termos mais atenção
No dia inteiro de hoje, na quinzena,
Na hora transitória de agora
O vindouro virá ermitão
Como quem foge e vai embora

De modo lento e abrupto
É tolo quem pensa
No futuro antes que pense
No segundo do presente
Instante incessante em cena
Racionalmente místico

Talvez adiante num misto
De solidez e mistério
Misticamente racional
O que serve como critério
Fomento de mais interesse
No momento que acontece

Nem sempre o destino da nau
É atingido no fim do caminho
O porvir pinta sozinho
É pensativo quem tolera
A atualidade da espera
O advento do horizonte

O que nos remunera
Sem incêndios de pontes
Nem dos remorsos com remelas?
Fiquemos atentos desde ontem
O que mais vale a pena
É a cabeça leve e aberta

Com o coração love e alerta
Para hoje apenas
A base construída
Para uma nova arquitetura
Interna é a cura
É outra fase da vida.











terça-feira, 18 de março de 2025

Tão-somente eu



Eu pensava que era prazer
E não passava de mera languidez
Achava que era você
De aluguel, contudo, no fundo,
Como de praxe, fora tão-somente eu

Naquele normótico mundo
Imodesta moda demodê
Presumia que não ia doer, mas doeu
No fim da festa, supunha soberania
Todavia me sufocava noite e dia

Eu suspeitava que era lazer
Mas era desvario, era morbidez
Considerava que era eu
Mas havia sido um invento meu
Para que evitasse me ver

Julgava singular às vezes
Porém era só no automático, veja
Como os bares e as igrejas
São laboratórios sem deuses
Baby, eu abomino ambulatórios

Pela proteção da saúde
A imaginação é o limite
Por mais que se estude
Não se decora para ser livre
Querida, eu detesto ser outrora

Entendia que era eu
Entretanto, entre tantos para ser,
Não conseguia me reconhecer
Agora tudo o que sei
Sobre mim, sobre quem

Posso vir a ser
Será apenas a minha pessoa
Tão-somente eu, é o que ressoa
Uma voz daqui, na beira do além,
Brotando uma moda vigorosa e boa.





sexta-feira, 14 de março de 2025

As asas da audácia

 



A arte precisa mobilizar
A mente e as emoções
A arte não tem que deixar
A gente contente
Mas consciente das ações

Tudo é meu
Não tenho nada
Tudo me pertence, eu
Sou uma alma
O caminho só será aberto

Se eu caminhar
O cérebro só estará desperto
Se não me dispersar
O jardim não será o deserto
Dos dias atuais, dos tempos atrás

As asas da audácia
Mantêm o voo
Acima do teto e do abismo
Meu amor, minha graça,
Mau humor, delirantes sismos

Nas lavanderias, nas farmácias,
Nas drogarias não se vendem mais
Somente medicamentos
Alegam que já não tem cabimento
Nas bancas apenas gibis e jornais

Não faço mais parte da turma
Nem possuo timidez para perder
As alegrias são diurnas
E me permitem de fato ser alguém
Um dia por vez, coração

Cada manhã é um novo exame
Minha cabeça noutra rotação
Não sou do centrão nem do rebanho
Muito menos do enxame
Caso me chame de estranho

Sou mesmo estrangeiro, sou instantes
A limpeza transcende o mero banho
Todo dia é um mês de chances
Tudo pertence a mim, até a pobreza
Que beleza, eu não tenho nada

Vivo bem aqui
E bato as asas
Sei que sou assim
Estou em casa
Ela habita em mim.


domingo, 9 de março de 2025

Flutuando na floresta



Flutuando na floresta
Felicidade calma
Corpo em festa
Desafogo dos traumas

Reparo das arestas
Na terapia das águas
Nas ondas, nas quedas
Na radiografia da alma

Raízes e borboletas
Bailando na mata
Na flora, na fauna e na foto
Eu me inspiro no superboy

Beirando a mim, vivo ou morto,
Bolo um fato que não me destrói
Pulo de um sofá para outro
Voando que nem super-herói

Eu era assim quando garoto
Naquela antiga e gostosa Niterói
Misturo as memórias no fogo
Um futuro que se evapora após

Nadar de um mar para o esgoto
Descanso durante as braçadas
Desbanco o destino ignoto
Por rotas mentalmente traçadas

Na trilha sonora do baile dos sonhos
Vivendo como um super-homem
Eu era assim quando menino
Mais conectado ao meu nome

Ao meu estado de espírito
Sobrevoando que nem um drone
Tenho bailado como se voltasse
Aos velhos e brilhantes tempos

Quando as coisas pareciam fáceis
O que não lembro é vento
Vivo os saudosos e próximos bailes
Sobrevivendo na selva

Sei no fluxo e refúgio que a arte salva
Vou tirando leitura de pedra
E literatura das palavras
Flutuo na floresta feito poeta.




terça-feira, 4 de março de 2025

Todo milagre deriva da expansão da consciência



Todo milagre deriva
Da expansão da consciência
O pensamento vira a chave
O sonho vira realidade
A conquista vira consequência

Na rodovia o sonho virá
Ao acordar, você verá
Apesar da tendência
A negar o incompreensível
Sonhar é estar vivo

Futebol e folia
São as fontes populares
De fuga e fantasia
Vira a mente, a mesa e a fase
A destreza da palavra

A potência da prece
É o preço que se paga
O milagre ou o plano acontece
Quando a consciência se expande
O cotidiano é um absurdo

Depois de tanto estresse
Descobri o quão sou grande
Já sei como sou curto
Prefiro ser longevo
Almejo ser lúcido

Não está longe o que escrevo
Se leio, pego o bonde e escuto
Estou leve e me levo
Levitando, porém não sou vulto
Quero ser jovem e velho.




segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

Onda lenta

Surfando na onda lenta

Na onda alfa da consciência 

Arfando, chego à praia

Depois da tormenta

De volta pra casa 


Da época sonolenta

O sonho sabe que se atrasa

A força tem a ciência 

De que tudo tem seu tempo

Haja brisa e brasa 


Fogo lento me lendo

O sonho me abraça 

E me ampara no leito

Para além da carcaça 

No sopro do vento 


A meta é a caça 

O mote mora no peito 

A morte não é desgraça 

Mas um renascimento 

Um tipo de graça 


Uma fruta suculenta 

Futuro que perpassa

Na crista da onda lenta

Na pista, na estrada 

Desde o fim dos anos setenta 


De volta pra calma

A memória me cumprimenta 

Ela mora na antessala 

E dorme na cama poeirenta

Olhando na minha cara 


Vejo que, de violenta,

A realidade já basta

A não-violência 

Deve ser uma prática 

Que não pode apenas 


Ser treinada na aula

Ou lida num poema

A paz é uma onda alta

É uma sonda, é uma senha

Capaz de resgatar a alma.



terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

Um banho


Brando, bravo e salutar
Banho de mar
Para matar o estranho
Que queria me domar
E bagunçar meus planos

Um banho doce de sais
Dos orixás e anjos
Para saltar do bando
Xará, eu não tenho mais
Dezesseis anos

Antes de me matar
Eu matei o estranho
Que parecia me tomar
E me tirar do meu canto
Ah, santo espanto de paz

Um banho redentor
Dos afogados e submersos
Uma boia de luz interior
Um afago do universo
Uma onda de amor e nada mais

Tanto faz se boa ou má
A realidade é a colheita
Visitei nu o depósito
Soterrado de poeira
E resgatei no baú o propósito

Ao longo do recolhimento
Levei-o pra água de mim, do mar
Lavei a cara para o arranjo da foto
E louvei a alma, anjo do pomar
Um banho salutar e bento.







domingo, 9 de fevereiro de 2025

Puro cinema

Nasci num dia de luar 

Meu nome significa 

Que devo lutar 

Minha alma fica

Onde está o meu lugar 


O passado não será 

Eternamente recente

Exceto para quem se ressente 

São as cicatrizes 

Tatuagens tristes 


Galera do canal

Meu aparelho 

Mudou de frequência 

Melhorou o sinal 

Ponto de inflexão 


Pretérito cada vez mais velho

Puro cinema

Cientifica fricção 

Por que não pensara 

Nisso antes? 


Tinha que quebrar a cara

E cair da estante

Para girar o seletor

Milagre, mágica 

A imagem do que sou 


Não capta mais estática

É uma luz gigante

É a alma plena 

Para raiar o sol tem que se pôr

Para religar, rola antes a pane 


É um gesto de amor

Uma decisão prática

Papo de consciência

Bênção cósmica, graça 

Do puro cinema 


Penso que a senha 

De acesso ao desagrado 

É abrir, sem pena, a boca toda

Possesso e aguçado,

Dispenso a peçonha 


Que fabrica a alegria

Desprovida de bons humores 

Levanto menos pobre de dia

Acordo sem tremores 

Nem tantas tristezas 


Levando mais forte, quem diria?

De acordo com os interiores 

Itens do meu sistema

Renasço numa noite solar

Debaixo de um céu roxo ou nublado 


Não me deixa o puro cinema

Petreamente ao meu lado

Tio, avô, pai sutil, sentinela do lar inteiro 

Marcello leva o gentil significado

De um jovem guerreiro. 



terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

Sonho 11

O sonho número onze

Vem sabe-se lá de onde

Para realizar o que peço

O undécimo sonho

O número do dia em que vim 


É o sopro da sorte para mim

Não será mais sorrateiro

O décimo-primeiro sonho

Nada me esconde

Do sonho, do sim e do som 


Do sorriso bom

A bordo do bonde

Sob o céu, sob medida

A vida bendita me edita

Na fita, tomada onze 


É uma espiritual disciplina 

Adestrar a cabeça

A paz não habita tão longe

Era habituado há dez terças

A pensar ao contrário 


Do sonho onze

Até traduzir o nome

Para me trazer aonde

Nunca deveria ter deixado 

Mas, melhor pensando, 


Se não fosse assim

Perceberia quando?

Ainda bem que ouvi

Aquela voz baixinha:

"Sonhe, sonde e enfrente" 


É uma espiritual disciplina 

Tornar a mente obediente

Eu já fui, estou de volta

E entrei na casa contente 

Sem bater na porta.



quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

O desejo do espelho

 

Do lixo, do lírico 

Ao inequívoco equívoco

Há momentos em que nem o espelho

Deseja me ver belo ou feio

E sei me desenhar por dentro 


Não há nada neutro 

Há essências feito eu e você 

Evidências do fato e do fake

Em sã consciência só sei que

Está tudo fantasticamente bem 


Sou sim, sou singularmente alguém 

Nas primeiras horas da manhã 

Sempre é um novíssimo dia

Se há o passado e o presente, virá o amanhã 

Depois das trevas da travessia


Do mar de esperas e de caldos

Meu ser se eleva e não termina

Num lugar longe ou alto

Havia um náufrago e uma cisma

De que o espelho não me queria 


Havia uma onda e um tempo

Em que não entendia direito 

O espelho já me rechaçou  

Mas hoje vejo quem sou

A coragem vem do coração 


Havia um espelho em cacos

Em que me via aos pedaços 

Há imagens em que o espelho 

Mira as vontades e os desejos

Efeitos da mentalização 


Havia uma temporada 

Em que a tempestade me abrigava

Agora eu não desprezo

O reflexo do espelho 

Nem a minha reflexão 


Do livro, do líquido

Ao onírico capítulo

Há instantes em que o espelho

Não expõe o bastante

Propondo o uso do sonho, da visão.





quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

Prazer e felicidade

Trevas daninhas

Alvoradas à tarde

Antes do que jamais

Prazer não significa 

Felicidade, rapaz 


Felicito a minha vida 

Pela epifania

Pelo despertar do chão

Que por si só

É um tipo de perdão 


Por tanta alegria

Avessa ao sol

A versão pior 

Já jaz lá fora, querida,

O furacão devora 


Âncora do interior

Deleite não quer dizer

Prosperidade ou o nome que for 

É transitório o prazer 

Nos velhos reencontros 


Mesmos desencontros 

Um bônus de terror

Nas fúrias dos monstros 

Ferocidade e torpor

Parecia um sonho 


Mas era só ilusão

Na luz em equilíbrio, amor,

Caíram a ficha, o confronto 

Os livros e a razão

Em suma, o mundo todo 


Prazer não é sinônimo 

De felicidade ou paixão 

Porém parecia um sonho

O coração sai do porão

Sopra a poeira e o abandono. 


Luzes noturnas

Estrelas tardias

Antes do que nunca

Prazer não significa 

Felicidade nem culpa.


quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Vamos sair da normose

Os temas e as metas 

Não podem ser apenas metais

São da polpa as colheitas

Em vez da pompa e do papel 

Moedas mentais 


Tilintam do céu 

Viver é um sacro ofício 

Generosidade 

Não é desperdício 

Eu entendi que é hora 


De ficar fora

Da normose 

Apelidada de normalidade 

Atualmente me apavora

A ideia de tomar uma dose 


Do mar de peçonha, de algo

Que me deixa fraco

Mole e grogue

Eu piamente supunha 

Que era alívio ou remédio 


O sutil veneno 

Mas fui testemunha

Das perdas de crédito

Até então não estava vendo

Corria completamente cego 


Viajava e me perdia

Nos atalhos da vida

A Via Láctea

Não é a única galáxia 

Os objetivos não são só mentais 


Não mora no exterior a paz

Há várias Niteróis

Vamos sair da normose 

Vamos cuidar de nós

Radares, cumes, vales e drones 


Sobrevoando nos arredores 

Nuvens, anjos, urubus e pontes

Sobre o travesseiro, na travessa

Com o novo estilo de cabelo

Dentro do corpo, dentro da cabeça 


Vamos nos cuidar direito

Com coragem e carinho 

Eu viro um exército 

Comigo não estou sozinho

Voava plenamente cego 


Agora me visto de audácia e afeto

O sonho pertence à preguiça 

E o pensamento, ao trabalho

A religião dispensa joelhos e missas

As aves mostram o quão somos baixos.