Pedra pulsante, viajante
Alma corpórea, grossa
Agora não é só um instante
Memórias, às vezes paranoias
Amanhã talvez venha antes
Conexão durante a ioga
Televisão edificante
Sem anunciantes, jogando o lixo fora
Trocando o nicho e as lâmpadas
Que duram bem menos
Do que as de outrora
Regando as plantas
Descarregando os venenos
Levezas em voga são esperanças
Lição de certezas vagas
Relógio liso, lento, ameno
E submisso como um leão
No fogão aceso a leiteira afogada
De água da torneira para fazer o mate
Sem esquecer as gotas e o limão
No amargor da realidade
Amar o gol que espanta
Pedir logo o galão de vinte litros
E virar o lado do disco lá pelas tantas
Para uma novíssima ideia
Há diversos delírios e livros
De versos, receitas e mantras
Reuniões literárias submersas
De poetas que não são lidos
Pulsa outro perfil da pedra
E você pensa que sinto
Graça naquelas janelas
Sagradas como brinquedos
Da velha brinquedoteca
Pedra comovente e latejante
Lances de audazes medos
Nuvem pétrea, lúcido pane
Ao vento, cavalares segredos
Lembretes de puro sangue
Na parede, cegos caranguejos
Brilhantes mágoas no mangue
E você sente que penso
Mas não como antigamente
Travesseiros tensos
Sem cabeças, ofuscantes lentes
Talvez na fuga apareça antes
Pedra pulsante, alma corpórea
Diamante distante, cá dentro
E você sabe que rolam
Horas e demoras diante do tempo.