sábado, 12 de abril de 2025

Pedra pulsante


 



Pedra pulsante, viajante
Alma corpórea, grossa
Agora não é só um instante
Memórias, às vezes paranoias
Amanhã talvez venha antes

Conexão durante a ioga
Televisão edificante
Sem anunciantes, jogando o lixo fora
Trocando o nicho e as lâmpadas
Que duram bem menos

Do que as de outrora
Regando as plantas
Descarregando os venenos
Levezas em voga são esperanças
Lição de certezas vagas

Relógio liso, lento, ameno
E submisso como um leão
No fogão aceso a leiteira afogada
De água da torneira para fazer o mate
Sem esquecer as gotas e o limão

No amargor da realidade
Amar o gol que espanta
Pedir logo o galão de vinte litros
E virar o lado do disco lá pelas tantas
Para uma novíssima ideia

Há diversos delírios e livros
De versos, receitas e mantras
Reuniões literárias submersas
De poetas que não são lidos
Pulsa outro perfil da pedra

E você pensa que sinto
Graça naquelas janelas
Sagradas como brinquedos
Da velha brinquedoteca
Pedra comovente e latejante

Lances de audazes medos
Nuvem pétrea, lúcido pane
Ao vento, cavalares segredos
Lembretes de puro sangue
Na parede, cegos caranguejos

Brilhantes mágoas no mangue
E você sente que penso
Mas não como antigamente
Travesseiros tensos
Sem cabeças, ofuscantes lentes

Talvez na fuga apareça antes
Pedra pulsante, alma corpórea
Diamante distante, cá dentro
E você sabe que rolam
Horas e demoras diante do tempo.










sexta-feira, 4 de abril de 2025

Agora que bateu



Agora que bateu
A lembrança do esqueleto
Na naftalina do armário
Debaixo do couro
Eu me acho mais eu do que outro
Agora que bateu
A onda que balança o leito

Dentro do aquário
Está fervendo o tesouro
Eu me vejo mais eu do que outro
Agora que bateu
A vontade do aumento do teto
No meio do itinerário
Sem despejo de onde moro

Eu sou mais eu do que outro
Agora que bateu
A saudade da criança ou do leitor
Aparece um novo abecedário
Aprendizado duradouro, garoto
Eu estou mais eu do que outro
Agora que bateu

A fome de um prato feito
Após a longa noite, está claro
Que nem toda água limpa tem cloro
Eu me noto mais eu do que outro
Agora que bateu
O coração corajoso na expansão do peito
Do tabuleiro do jogo, o esquema diário

Das regras rui o velho escritório
Eu me escrevo mais eu do que outro
Agora que bateu
A claquete no estúdio inteiro
Não é mais ficção, é documentário
Do que sou, quando rio e choro
Eu atuo mais eu do que outro.









domingo, 30 de março de 2025

Instante incessante



A única coisa que nos compensa
É termos mais atenção
No dia inteiro de hoje, na quinzena,
Na hora transitória de agora
O vindouro virá ermitão
Como quem foge e vai embora

De modo lento e abrupto
É tolo quem pensa
No futuro antes que pense
No segundo do presente
Instante incessante em cena
Racionalmente místico

Talvez adiante num misto
De solidez e mistério
Misticamente racional
O que serve como critério
Fomento de mais interesse
No momento que acontece

Nem sempre o destino da nau
É atingido no fim do caminho
O porvir pinta sozinho
É pensativo quem tolera
A atualidade da espera
O advento do horizonte

O que nos remunera
Sem incêndios de pontes
Nem dos remorsos com remelas?
Fiquemos atentos desde ontem
O que mais vale a pena
É a cabeça leve e aberta

Com o coração love e alerta
Para hoje apenas
A base construída
Para uma nova arquitetura
Interna é a cura
É outra fase da vida.











terça-feira, 18 de março de 2025

Tão-somente eu



Eu pensava que era prazer
E não passava de mera languidez
Achava que era você
De aluguel, contudo, no fundo,
Como de praxe, fora tão-somente eu

Naquele normótico mundo
Imodesta moda demodê
Presumia que não ia doer, mas doeu
No fim da festa, supunha soberania
Todavia me sufocava noite e dia

Eu suspeitava que era lazer
Mas era desvario, era morbidez
Considerava que era eu
Mas havia sido um invento meu
Para que evitasse me ver

Julgava singular às vezes
Porém era só no automático, veja
Como os bares e as igrejas
São laboratórios sem deuses
Baby, eu abomino ambulatórios

Pela proteção da saúde
A imaginação é o limite
Por mais que se estude
Não se decora para ser livre
Querida, eu detesto ser outrora

Entendia que era eu
Entretanto, entre tantos para ser,
Não conseguia me reconhecer
Agora tudo o que sei
Sobre mim, sobre quem

Posso vir a ser
Será apenas a minha pessoa
Tão-somente eu, é o que ressoa
Uma voz daqui, na beira do além,
Brotando uma moda vigorosa e boa.





sexta-feira, 14 de março de 2025

As asas da audácia

 



A arte precisa mobilizar
A mente e as emoções
A arte não tem que deixar
A gente contente
Mas consciente das ações

Tudo é meu
Não tenho nada
Tudo me pertence, eu
Sou uma alma
O caminho só será aberto

Se eu caminhar
O cérebro só estará desperto
Se não me dispersar
O jardim não será o deserto
Dos dias atuais, dos tempos atrás

As asas da audácia
Mantêm o voo
Acima do teto e do abismo
Meu amor, minha graça,
Mau humor, delirantes sismos

Nas lavanderias, nas farmácias,
Nas drogarias não se vendem mais
Somente medicamentos
Alegam que já não tem cabimento
Nas bancas apenas gibis e jornais

Não faço mais parte da turma
Nem possuo timidez para perder
As alegrias são diurnas
E me permitem de fato ser alguém
Um dia por vez, coração

Cada manhã é um novo exame
Minha cabeça noutra rotação
Não sou do centrão nem do rebanho
Muito menos do enxame
Caso me chame de estranho

Sou mesmo estrangeiro, sou instantes
A limpeza transcende o mero banho
Todo dia é um mês de chances
Tudo pertence a mim, até a pobreza
Que beleza, eu não tenho nada

Vivo bem aqui
E bato as asas
Sei que sou assim
Estou em casa
Ela habita em mim.


domingo, 9 de março de 2025

Flutuando na floresta



Flutuando na floresta
Felicidade calma
Corpo em festa
Desafogo dos traumas

Reparo das arestas
Na terapia das águas
Nas ondas, nas quedas
Na radiografia da alma

Raízes e borboletas
Bailando na mata
Na flora, na fauna e na foto
Eu me inspiro no superboy

Beirando a mim, vivo ou morto,
Bolo um fato que não me destrói
Pulo de um sofá para outro
Voando que nem super-herói

Eu era assim quando garoto
Naquela antiga e gostosa Niterói
Misturo as memórias no fogo
Um futuro que se evapora após

Nadar de um mar para o esgoto
Descanso durante as braçadas
Desbanco o destino ignoto
Por rotas mentalmente traçadas

Na trilha sonora do baile dos sonhos
Vivendo como um super-homem
Eu era assim quando menino
Mais conectado ao meu nome

Ao meu estado de espírito
Sobrevoando que nem um drone
Tenho bailado como se voltasse
Aos velhos e brilhantes tempos

Quando as coisas pareciam fáceis
O que não lembro é vento
Vivo os saudosos e próximos bailes
Sobrevivendo na selva

Sei no fluxo e refúgio que a arte salva
Vou tirando leitura de pedra
E literatura das palavras
Flutuo na floresta feito poeta.




terça-feira, 4 de março de 2025

Todo milagre deriva da expansão da consciência



Todo milagre deriva
Da expansão da consciência
O pensamento vira a chave
O sonho vira realidade
A conquista vira consequência

Na rodovia o sonho virá
Ao acordar, você verá
Apesar da tendência
A negar o incompreensível
Sonhar é estar vivo

Futebol e folia
São as fontes populares
De fuga e fantasia
Vira a mente, a mesa e a fase
A destreza da palavra

A potência da prece
É o preço que se paga
O milagre ou o plano acontece
Quando a consciência se expande
O cotidiano é um absurdo

Depois de tanto estresse
Descobri o quão sou grande
Já sei como sou curto
Prefiro ser longevo
Almejo ser lúcido

Não está longe o que escrevo
Se leio, pego o bonde e escuto
Estou leve e me levo
Levitando, porém não sou vulto
Quero ser jovem e velho.




segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

Onda lenta

Surfando na onda lenta

Na onda alfa da consciência 

Arfando, chego à praia

Depois da tormenta

De volta pra casa 


Da época sonolenta

O sonho sabe que se atrasa

A força tem a ciência 

De que tudo tem seu tempo

Haja brisa e brasa 


Fogo lento me lendo

O sonho me abraça 

E me ampara no leito

Para além da carcaça 

No sopro do vento 


A meta é a caça 

O mote mora no peito 

A morte não é desgraça 

Mas um renascimento 

Um tipo de graça 


Uma fruta suculenta 

Futuro que perpassa

Na crista da onda lenta

Na pista, na estrada 

Desde o fim dos anos setenta 


De volta pra calma

A memória me cumprimenta 

Ela mora na antessala 

E dorme na cama poeirenta

Olhando na minha cara 


Vejo que, de violenta,

A realidade já basta

A não-violência 

Deve ser uma prática 

Que não pode apenas 


Ser treinada na aula

Ou lida num poema

A paz é uma onda alta

É uma sonda, é uma senha

Capaz de resgatar a alma.



terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

Um banho


Brando, bravo e salutar
Banho de mar
Para matar o estranho
Que queria me domar
E bagunçar meus planos

Um banho doce de sais
Dos orixás e anjos
Para saltar do bando
Xará, eu não tenho mais
Dezesseis anos

Antes de me matar
Eu matei o estranho
Que parecia me tomar
E me tirar do meu canto
Ah, santo espanto de paz

Um banho redentor
Dos afogados e submersos
Uma boia de luz interior
Um afago do universo
Uma onda de amor e nada mais

Tanto faz se boa ou má
A realidade é a colheita
Visitei nu o depósito
Soterrado de poeira
E resgatei no baú o propósito

Ao longo do recolhimento
Levei-o pra água de mim, do mar
Lavei a cara para o arranjo da foto
E louvei a alma, anjo do pomar
Um banho salutar e bento.







domingo, 9 de fevereiro de 2025

Puro cinema

Nasci num dia de luar 

Meu nome significa 

Que devo lutar 

Minha alma fica

Onde está o meu lugar 


O passado não será 

Eternamente recente

Exceto para quem se ressente 

São as cicatrizes 

Tatuagens tristes 


Galera do canal

Meu aparelho 

Mudou de frequência 

Melhorou o sinal 

Ponto de inflexão 


Pretérito cada vez mais velho

Puro cinema

Cientifica fricção 

Por que não pensara 

Nisso antes? 


Tinha que quebrar a cara

E cair da estante

Para girar o seletor

Milagre, mágica 

A imagem do que sou 


Não capta mais estática

É uma luz gigante

É a alma plena 

Para raiar o sol tem que se pôr

Para religar, rola antes a pane 


É um gesto de amor

Uma decisão prática

Papo de consciência

Bênção cósmica, graça 

Do puro cinema 


Penso que a senha 

De acesso ao desagrado 

É abrir, sem pena, a boca toda

Possesso e aguçado,

Dispenso a peçonha 


Que fabrica a alegria

Desprovida de bons humores 

Levanto menos pobre de dia

Acordo sem tremores 

Nem tantas tristezas 


Levando mais forte, quem diria?

De acordo com os interiores 

Itens do meu sistema

Renasço numa noite solar

Debaixo de um céu roxo ou nublado 


Não me deixa o puro cinema

Petreamente ao meu lado

Tio, avô, pai sutil, sentinela do lar inteiro 

Marcello leva o gentil significado

De um jovem guerreiro. 



terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

Sonho 11

O sonho número onze

Vem sabe-se lá de onde

Para realizar o que peço

O undécimo sonho

O número do dia em que vim 


É o sopro da sorte para mim

Não será mais sorrateiro

O décimo-primeiro sonho

Nada me esconde

Do sonho, do sim e do som 


Do sorriso bom

A bordo do bonde

Sob o céu, sob medida

A vida bendita me edita

Na fita, tomada onze 


É uma espiritual disciplina 

Adestrar a cabeça

A paz não habita tão longe

Era habituado há dez terças

A pensar ao contrário 


Do sonho onze

Até traduzir o nome

Para me trazer aonde

Nunca deveria ter deixado 

Mas, melhor pensando, 


Se não fosse assim

Perceberia quando?

Ainda bem que ouvi

Aquela voz baixinha:

"Sonhe, sonde e enfrente" 


É uma espiritual disciplina 

Tornar a mente obediente

Eu já fui, estou de volta

E entrei na casa contente 

Sem bater na porta.



quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

O desejo do espelho

 

Do lixo, do lírico 

Ao inequívoco equívoco

Há momentos em que nem o espelho

Deseja me ver belo ou feio

E sei me desenhar por dentro 


Não há nada neutro 

Há essências feito eu e você 

Evidências do fato e do fake

Em sã consciência só sei que

Está tudo fantasticamente bem 


Sou sim, sou singularmente alguém 

Nas primeiras horas da manhã 

Sempre é um novíssimo dia

Se há o passado e o presente, virá o amanhã 

Depois das trevas da travessia


Do mar de esperas e de caldos

Meu ser se eleva e não termina

Num lugar longe ou alto

Havia um náufrago e uma cisma

De que o espelho não me queria 


Havia uma onda e um tempo

Em que não entendia direito 

O espelho já me rechaçou  

Mas hoje vejo quem sou

A coragem vem do coração 


Havia um espelho em cacos

Em que me via aos pedaços 

Há imagens em que o espelho 

Mira as vontades e os desejos

Efeitos da mentalização 


Havia uma temporada 

Em que a tempestade me abrigava

Agora eu não desprezo

O reflexo do espelho 

Nem a minha reflexão 


Do livro, do líquido

Ao onírico capítulo

Há instantes em que o espelho

Não expõe o bastante

Propondo o uso do sonho, da visão.





quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

Prazer e felicidade

Trevas daninhas

Alvoradas à tarde

Antes do que jamais

Prazer não significa 

Felicidade, rapaz 


Felicito a minha vida 

Pela epifania

Pelo despertar do chão

Que por si só

É um tipo de perdão 


Por tanta alegria

Avessa ao sol

A versão pior 

Já jaz lá fora, querida,

O furacão devora 


Âncora do interior

Deleite não quer dizer

Prosperidade ou o nome que for 

É transitório o prazer 

Nos velhos reencontros 


Mesmos desencontros 

Um bônus de terror

Nas fúrias dos monstros 

Ferocidade e torpor

Parecia um sonho 


Mas era só ilusão

Na luz em equilíbrio, amor,

Caíram a ficha, o confronto 

Os livros e a razão

Em suma, o mundo todo 


Prazer não é sinônimo 

De felicidade ou paixão 

Porém parecia um sonho

O coração sai do porão

Sopra a poeira e o abandono. 


Luzes noturnas

Estrelas tardias

Antes do que nunca

Prazer não significa 

Felicidade nem culpa.


quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Vamos sair da normose

Os temas e as metas 

Não podem ser apenas metais

São da polpa as colheitas

Em vez da pompa e do papel 

Moedas mentais 


Tilintam do céu 

Viver é um sacro ofício 

Generosidade 

Não é desperdício 

Eu entendi que é hora 


De ficar fora

Da normose 

Apelidada de normalidade 

Atualmente me apavora

A ideia de tomar uma dose 


Do mar de peçonha, de algo

Que me deixa fraco

Mole e grogue

Eu piamente supunha 

Que era alívio ou remédio 


O sutil veneno 

Mas fui testemunha

Das perdas de crédito

Até então não estava vendo

Corria completamente cego 


Viajava e me perdia

Nos atalhos da vida

A Via Láctea

Não é a única galáxia 

Os objetivos não são só mentais 


Não mora no exterior a paz

Há várias Niteróis

Vamos sair da normose 

Vamos cuidar de nós

Radares, cumes, vales e drones 


Sobrevoando nos arredores 

Nuvens, anjos, urubus e pontes

Sobre o travesseiro, na travessa

Com o novo estilo de cabelo

Dentro do corpo, dentro da cabeça 


Vamos nos cuidar direito

Com coragem e carinho 

Eu viro um exército 

Comigo não estou sozinho

Voava plenamente cego 


Agora me visto de audácia e afeto

O sonho pertence à preguiça 

E o pensamento, ao trabalho

A religião dispensa joelhos e missas

As aves mostram o quão somos baixos.